Podemos dar alguns passos no sentido de dar, mesmo ao jovem mais pobre, um começo e uma chance na vida, dotando-o, de certo modo, com esperança e uma habilitação.
Baden Powell
O Dossiê - O ESCOTISMO
BRASILEIRO
No primeiro
decênio do século XXI
Recebi há alguns dias, não lembro quem me
enviou, um relatório feito pelo Dr. Jean Cassaigneau, que a pedido da União dos
Escoteiros do Brasil, fez um diagnóstico, perspectivas, proposta e
recomendações sobre o Escotismo Brasileiro. Um excelente trabalho. Não o
conhecia. Imaginem que isto aconteceu em 2007. Acredito que todos os órgãos
escoteiros, aí incluindo Grupos Escoteiros no Brasil tenham recebido uma cópia
pela importância do conteúdo. Portanto meus comentários hoje estão muito
defasados. Mas passou-se pelo menos cinco anos. Se suas observações ou
sugestões foram aceitas não sei. O que confirmo é que muito do que escreveu não
deixa de ser atual hoje em dia. Muito atual. Não vou entrar aqui em todos os
detalhes de suas observações, pois isto iria alongar muito. (os interessados em
receber o estudo completo, podem solicitar pelo meu e-mail elioso@terra.com.br que envio
imediatamente – em PDF).
Não digo que tudo que escreveu e todas
as suas observações seriam perfeitas. Mas o pouco tempo que teve acertou em
cheio nas suas colocações. Visitou dez regiões escoteiras, conversou com mais
de cento e sessenta escotistas, pioneiros e até com pessoas não escoteiras. Ele
mesmo diz que viu na UEB recomendações de membros ativos para modificar alguns
aspectos negativos ou controversos e incentivar o crescimento tanto qualitativo
como quantitativo. Isto até serviu de subsídios em seu trabalho. De posse de
uma boa documentação seu relatório vai ao âmago da questão que eu acredito
aflige nosso movimento, o deixando estagnado há décadas e décadas.
De uma maneira simplificada, escreveu o
que o seu estudo pretendia ser e não ser. Claro, dentro de suas prioridades as
mais importantes foram de recolher ideias, opiniões e sugestões de membros da
UEB em boa parte do território Nacional, não só dos dirigentes. Não faltou uma
identificação e uma análise das realidades e tendência. Comentou sobre uma
proposta para uma visão de consolidação e desenvolvimento do Escotismo no Brasil.
Não deu a solução, apesar de que ficou explícita no final do relatório. Deu a
entender que em sua opinião existem sim soluções concretas, articuladas e
coerentes. Interessante foi sua comparação entre os membros da UEB e a
população brasileira. Só como exemplo, temos uma media de 0,4% de participação
enquanto no Chile ela é de 0,22%.
Interessante notar seus gráficos do nosso
crescimento, uma verdadeira “sanfona” de vai e vem. O ápice foi em 1991 e se
manteve até 1993 aonde chegamos a mais de 70.000 membros. A partir daí uma queda
vertiginosa. Suas observações sobre a movimentação do efetivo nos estados é
excelente. Faz um breve retrospecto da evasão e me baseando pelas minhas parcas
informações não sei se concordo com seus números nos dias de hoje. Sua
comparação com outros países sobre a arregimentação de adultos nos coloca em
boa posição, mas em relação aos jovens perdemos e muito.
Poderia me aprofundar no todo de suas
observações, principalmente no que disseram a maioria dos entrevistados. Mas
isto iria alongar muito. Mas do que disseram os entrevistados não me escapa
algumas preciosidades: - O escotismo é visto como um clube – Falta divulgação e
quando é feita muita vezes é desvirtuada. Os jovens não escoteiros não compram
muito a ideia do que estão vendo. Muitos escotistas e escoteiros tem vergonha
do uniforme, não fazem marketing com ele em atividades extra-sede. (aprovaram o
traje, é mais fácil se apresentar com ele que com um uniforme). Não existe um
bom trabalho para mostrar o escotismo na sociedade e principalmente junto aos
responsáveis pela educação no país. Acham que o público acredita que somos um
movimento fechado (sempre dentro das sedes escoteiras), mudar a imagem do
Escoteiro “biscoito” para um escotismo com formação do caráter, um movimento
sério com preparação vocacional e compromisso social. Rebatem sempre a vergonha
de se mostrarem em público, sua linguagem (o programa) muitas vezes são
incompreendidas. Mudar a imagem do Escoteiro “babaca”, do Escoteiro “cata-lixo”
e bobo e diversificar para uma presença ativa na comunidade.
Isto foi que disseram a ele em suas
entrevistas. Tem muito mais. Centenas.
Os próprios membros da UEB na época (2007) já diziam que parece que
somos uma organização secreta, não temos penetração visual. Ficamos trancados
em nossas sedes. As pessoas respeitam o que conhecem, quem não é visto não é
lembrado. TEMOS QUE VENDER NOSSO PEIXE! Centralização não é a solução. A
Nacional busca fora o que tem dentro. Precisamos ter menos burocracia, menos
política, menos instabilidade. A UEB é um trem com vagões pesados. A UEB não
faz rodar a roda que inventou o Baden Powell (BP). A UEB é como uma ostra – apenas abre-se e
fecha-se imediatamente. A UEB cuida da política e não da administração. A
ESTRUTURA DA UEB É FEUDAL E FECHADA. Cada membro da UEB está fazendo do seu
jeito. É preciso ser um colegiado e não levar em conta a promoção pessoal. A
UEB é uma fogueira de vaidade onde se briga por besteira!
Isto meus amigos está no relatório.
Não são palavras minhas. Claro, de 2007 podem dizer, mas será que mudou alguma
coisa? E para encerrar, algumas outras pérolas do que disseram membros da UEB
na época – O Escotismo, antes era desafio e conquista,
agora é brincadeira. Qualquer grande organização que se preze, antes de
ʺvenderʺ um produto novo, realiza uma pesquisa de opinião para saber se aquele
produto irá ʺvenderʺ bem, ou a melhor forma de fazê‐lo. Perguntar não ofende, não faz mal, pelo
contrário, valoriza a pessoa e torna a política mais sábia. Os escotistas e
dirigentes, quando podem, têm que fazer ʺimportaçãoʺ (ou seria ʺcontrabandoʺ),
de publicações, de um Estado para outro. O programa novo é calmo de mais.
Nada diferente do que escrevi e sempre
escrevo. Realmente não sei e não posso afirmar se fizeram alguma coisa sugerida
pelo relatório do eminente Dr. Jean Cassaigneau. Sua experiência como antigo Secretário
Geral Adjunto da Organização Mundial do Movimento Escoteiro (OMME) não deixa
dúvidas quanto ao seu excelente trabalho. Dizer mais o que? Vamos mudar quando?
Vamos crescer quando? Esta fogueira de vaidades por poder, não importa onde,
desde o Grupo Escoteiro até os dirigentes quanto ainda vai perdurar?
O relatório tem muito mais. São 75
páginas. Se não o leu peça. Envio de graça. Que os defensores continuem a
defender o indefensável. Como disse nosso querido BP, o que importa são os
resultados e infelizmente eles não são bons. Não fiquem satisfeitos com suas
alcateias e tropas pequenas, não fiquem alegres com estas atividades caça-níqueis
de nossos dirigentes. Procurem ver se a evasão existe e cobrem das autoridades.
Todos nós somos responsáveis!
A prática do Escotismo atrai jovens de todas as
classes
e camadas (altas e baixas, ricos e pobres) e
igualmente
inclui, também, os que tenham defeito físico... Ele
inspira o desejo de aprender.
Robert
Baden-Powell. 1919