quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Conversa ao pé do fogo. Dia do Voluntário. (artigo publicado ano passado e refeito).




Conversa ao pé do fogo.
Dia do Voluntário.
(artigo publicado ano passado e refeito).  

Nota – Meu cordão do Colar de Gilwell partiu. E daí Chefe, o que tem a ver com o dia de hoje? Hoje se comemora o dia do Voluntário. Estes bravos que fazem um novo escotismo. Seu cordão partiu? Sim meu amigo, dou um volta a Gilwell, tiro meu lenço meu anel ajoelho na grama verde e digo: Obrigado BP por ter me feito um Escoteiro! Uma homenagem aos Voluntários que se dedicam de corpo e alma ao Escotismo.

                Nada a ver com meu lenço da IM, mas hoje dia 28 de agosto se celebra o dia do voluntario. Aqueles que dão seu tempo e seus préstimos sem soldo, sem agradecimentos. Mas foi também a data que em 1968 recebi meu lenço pelas mãos do Chefe Darcy Malta em Minas Gerais na Sede da Região Escoteira. Presentes? Três assistentes regionais e dois chefes escoteiros do interior em visita a Região Escoteira. Como sempre faço o tiro dos guardados, dou uma olhada e sem ninguém perceber fico em posição de sentido e faço uma saudação escoteira. Calma... Coisas de velhos escoteiros esclerosados. No dia que recebi nem sabia que um dia seria meu dia. Afinal também sou voluntário apesar de não me achar como um. Foi em 28 de agosto de 1985 que o presidente José Sarney assinou o decreto e as entidades que possuem estes colaboradores festejam sua participação. Voluntário eu? Não sabia e nem sei se até hoje me considero voluntário. Bem fui um antecessor da data do voluntário ao receber minha Insígnia de Madeira antes do decreto e quem sabe o precursor ao festejar uma data tão querida e nunca esquecida.

                Não foi fácil “tirar” a Insígnia. Comecei em 1959 com o CAB escoteiro, logo depois a IM parte Campo e aí a porca torceu o rabo. O tal caderno era um terror para os chefes escoteiros. Ninguém sabia quem era seu leitor e eu mesmo pensei que seria um Chefe idoso, cheio de manias com seu cachimbo a ler meu caderno. Feito a mão (caneta) cheio de firulas para agradar. Foram quase três anos de vai e vem sinal que não era um Chefe bem preparado escoteiramente. Será? Que adiantou minhas 18 especialidades dentre as quais as mais difíceis de Cozinheiro, Sinaleiro, Construtor de Pioneirias e a de Enfermeiro? Contar para o Leitor que fora lobinho, escoteiro sênior e pioneiro não valeu. Um dia quase desisti dela. Reclamei com o Escoteiro Chefe e eis que o próprio chegou uma noite na Sede da Região escoteira. O Chefe Darcy Malta uniformizado, batendo com o lenço em cada ombro duas vezes e dizendo: Chefe Osvaldo você não é mais um Pata-Tenra, agora pertence ao primeiro grupo de Gilwell e deve honrar este lenço por toda sua vida!

                Confesso que chorei. Sou um chorão por natureza. Minha mente voou no passado quando na IM fizemos um jogo e depois discutimos a Lei Escoteira dentro de um lago com água até o umbigo. Inesquecível. E vem um jovem iniciante a propor mudanças em parte de um artigo da lei e outros que querem alterar a Promessa. (mudaram). Foi assim pensando que sem perceber notei que o cordão do meu colar partiu. Meu coração bateu. Cinquenta e um anos! Cinquenta e um anos com ele pendurado no meu pescoço me dando o orgulho de ser um membro do Primeiro Grupo de Gilwell. Sai e fui comprar outro cordão. Não é de couro, mas parecido. Aquele antigo está guardado para sempre. Foi meu companheiro de uniforme, de atividades incríveis, foi comigo a centenas de acampamentos de fogo de conselho de atividades mil por este Brasil imenso. Devo estreá-lo brevemente. Fui convidado para uma atividade escoteira e se minhas lindas pernas e meu pulmão raivoso permitirem lá estarei. A vida é uma constante de lembranças, e dói fundo ver as mudanças sem nada poder fazer.

                 Meu escotismo é outro, não é mais aquele da vida ao ar livre de dizer lá vou eu e nem sei quando vou voltar. Brinca-se hoje de bugigangas tiradas da imaginação do Chefe e o jovem nem é consultado. Brinca-se de faz de conta pra atingir o mais alto cargo no escotismo e brigar para não mais sair. Os adultos hoje sentem vontade de fazer o que ensinam, afinal são voluntários e uma grande maioria não viveu os sonhos dos escoteiros nas suas aventuras incríveis. Não tem volta, cada um vai vivendo seus tempos. Como me disse um antigo Chefe Escoteiro: - Chefe tem voluntário que nunca desceu de uma árvore com um nó de evasão. Tem outros que não sabem o nó de fateixa ou pescador. Tem alguns que não sabem sorrir, tem muitos que fazem questão de manter a pose de chefão para seus meninos e tem aqueles que ainda não se tocaram na grande filosofia que Baden-Powell nos deixou.

             Disseram-me que não se fazem mais “escotismo dos antigamentes” como antes. Não fico triste com o andar da carruagem escoteira, sigo a pista da roda da carruagem. Quem sabe ela vai me levar onde sempre sonhei estar? Volta Gilwell, terra boa... Um curso assim que eu possa eu vou tomar. Há! É mesmo mais verde a grama lá em Gilwell. Pelo sim pelo não, meus parabéns aos voluntários escoteiros. Graças a eles ainda podemos sonhar com um amanhecer cheio de doces lembranças de uma vida dedicada ao escotismo!

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Conversa ao Pé do fogo. Orgulho de sua Pioneiría.




Conversa ao Pé do fogo.
Orgulho de sua Pioneiría.

Nota – Kipling escreveu o sonho do escoteiro: - “Quem ao crepúsculo já sentiu o cheiro da fumaça de lenha, quem já ouviu o crepitar do lenho ardendo, quem é rápido em entender os ruídos da noite;... deixai-o seguir com os outros, pois os passos dos jovens se volvem aos campos do desejo provado e do encanto reconhecido”. E você escoteiro ou escoteira, construiu a Pioneiría dos seus sonhos?

             Não existe maior alegria para um Escoteiro ou uma Escoteira ao terminar sua Pioneiría dar uns passos atrás e olhar com carinho sua obra. Um sorriso brota, os olhos brilham e dá uma vontade de tirar foto, filmar e mostrar para todo mundo. – Fui eu quem fiz! Fui eu quem fiz! Repete. Pode alguém aparecer e dizer que está mal feita, podem dizer o que quiser, mas ele ou ela estão ali orgulhosos pela construção que dedicaram horas, calos nas mãos, suor e mosquitos a enlouquecer qualquer um. Nesta hora é que todo o escotismo brota no coração. Bate aquela chama que nos dá orgulho em pertencer ao movimento.

             Os jovens quando entram para ser escoteiros logo de cara ouvem esta palavra mágica. Pioneirías. O que é isto? Perguntam. Construções rusticas feitas com nós, amarras e costuras diversas diz o Monitor. E ele fica com aquilo na cabeça. Doido para acampar e fazer uma. Depois não importa se o vento a jogou ao chão, ele vai ter “causos” e muitos para contar. De um simples banco um dia ele vai dizer aos seus netos que construiu uma linda poltrona reclinável e que bastava fechar os olhos e ela balançava ao sabor do vento. Os netos irão ouvir com orgulho e sonhar também em fazer o que seu avô fazia.

             Dizem e contam por aí que Pioneiría tem técnica. Já vi artigos, livros, desenhos todos escritos. Eu mesmo publiquei vários. – Técnicas de Pioneiras. Tenho lá minhas dúvidas. Quando as fiz não tinha livros nem desenhos. Eram criadas da imaginação. Um pau ou bambu aqui, outro ali, umas amarras com sisal ou cipó e elas iam brotando conforme as necessidades. De vez em quando vejo fotos de algumas, lindas, esplêndidas, algumas obras de carpinteiros/engenheiros e não de jovens escoteiros. Dias e dias para fazer. Não sei se tem graça. A graça meus amigos é o Escoteiro ou Escoteira fazer. Chefe! Xôô! Se manda. Não fale, não fique ai olhando. Não dê palpites. Deixa-os crescerem! Faz parte do nosso método!

             Para mim vale mais uma pequena amarra dada por um jovem que uma casa em cima de uma árvore que não tem finalidade no adestramento progressivo e que foi feita pelo Chefe/engenheiro. Ao dar a Amarra de acabamento ou fazer um simples Volta do Fiel é o inicio de tudo. E a Costura de Arremate? Simplesmente maravilhosa! Quando visitava acampamentos escoteiros no passado, ficava orgulhoso em ver no campo de Patrulha, como um simples sisal ou cipó cercava o campo. Ninguém pulava ou entrava por ali. A entrada era pelo pórtico. Rústico, simples sem aquelas belezas que vemos em fotos ou em grandes acampamentos escoteiros e sempre feitas pelos chefes. – Sempre Alerta Patrulha! Licença para entrar? Todos respeitavam.

              E durante a inspeção de campo pela manhã, ver uma mesa simples, um toldo mesmo que enrugado, bancos para sentar um fogãozinho suspenso, um lenheiro, um porta ferramentas, fossas de líquidos e detritos com tampas, mais ao fundo um WC bem feito ou mal feito, um tripé para o lampião, chapéus, um porta bastão e por aí afora eu me orgulhava. Nunca gostei de chefes que em vez de ajudar prejudicavam a Patrulha. Tudo limpo alguns levavam no bolso palitos, papeis para jogar ao chão e dizer: Não estava tão limpo. É correto? O que dirá a Patrulha? - Chamei a atenção de muitos e até em cursos que dirigi apareciam chefes assim. Vejam bem, eram formadores! – Formando quem?

              E quando o cerimonial de bandeira terminava, era bom comentar e elogiar as patrulhas pelo seu esforço. Nunca criticar em publico. Um porta canecas de um galho seco valia mil pontos. Tudo era comentado sem citar quem foi o melhor. Claro, na pontuação as patrulhas que atingissem o padrão solicitado recebiam seu totem de eficiência. Entregar a bandeirola de eficiência, cumprimentar o Monitor e toda a Patrulha, era bom demais! Que orgulho! Vê-los sorrindo! Pioneirías! Ah! Como são belas quando feitas por eles.

             Pioneirías! Quem já fez nunca esquece. Mesmo aquelas que o vento malvado jogou ao chão. Mesmo aquelas que umas vacas invadiram o campo e pisaram em tudo. Mesmo aquelas que um dia passamos uma noite sentados nos bancos sobre a proteção do toldo, pois a chuva torrencial encheu de água e barro as barracas. Lembranças. Belas lembranças de pioneirías que brotaram na mente do escoteiro.

               Quantas pioneirías eu vi e quantas admirei. Água encanada por bambus no campo da Patrulha? Um ninho de águia, caminho do Tarzan, uma ponte pênsil, uma jangada, um lindo pórtico com torre de observação, barracas suspensas, elevador privativo, Fogão de barro suspenso com forno... São tantas que eu mesmo gostaria de voltar no tempo e fazer outras que não fiz. Quando vejo o escoteiro fazendo uma escada de cordas ou cipó, o caminho do Tarzan, um ninho de águia, uma passagem suspensa de bambus ou madeira de lei que digo para mim mesmo: Jovem! – Foi uma simples amarrada diagonal, meus parabéns, você fez o sonho de todo escoteiro, Bravôo!

A Corte de Honra. Livros do Scouter numero 2. “O Tribunal de Honra” Por John Thurman.




A Corte de Honra.
Livros do Scouter numero 2.
“O Tribunal de Honra”
Por John Thurman.

A Corte de Honra - O Tribunal de Honra. O que é isso?

- O Tribunal de Honra é tão antigo quanto o Escotismo e, em minha opinião, é absolutamente fundamental para um escotismo bem sucedido na Tropa. Agora, essa é uma afirmação bastante definida e, de fato, dogmática, e é como tal. Sem o Tribunal de Honra tentar fazer seu trabalho de forma eficaz, o próprio Sistema de Patrulha não é apenas obrigado a falhar, mas é, em alguns aspectos, potencialmente perigoso. - Através do Escotismo, nós temos sempre um problema para desenvolver, por um lado, a auto eficiência, que é uma coisa muito diferente de autossuficiência e, por outro lado, mostrando um menino através das atividades do Escotismo, nos relacionamentos com outras pessoas e gradualmente dando-lhe uma abordagem altruísta para tudo o que ele faz. O Sistema de Patrulhas funcionou sem que o Tribunal de Honra possa quase imperceptivelmente levar ao egoísmo, arrogância e toda uma série de outras qualidades indesejáveis. Estamos lá inevitavelmente chegar a este ponto:

- Se a Tropa Escoteira for dar o valor total aos seus membros, ela deve ser executada usando o Sistema de Patrulha e o próprio Sistema de Patrulha devem incluir uma compreensão do uso do Tribunal de Honra ou, mais simplesmente, se aderiremos ao ensino do Fundador conforme estabelecido em "Scouting for Boys", (Escotismo para rapazes) temos a chance de alcançar alguns resultados reais. - Quando penso em volta das tropas bem-sucedidas que conheci ao longo dos anos, fiquei orgulhoso de reconhecer em nosso país e em muitos outros países, e fiquei impressionado com o fato de que estas eram ou ainda são as tropas em que o Tribunal de Honra realizou suas funções como o Fundador as concebeu e foi permitido cumpri-las, onde os líderes da patrulha tinham uma sensação de responsabilidade altruísta, e onde a ênfase estava na honra da Tropa.

B.-P. inventou...

- B.-P. era um homem essencialmente modesto e muitas vezes tinha pouco a dizer sobre suas boas idéias: - Ele nos deu o germe da ideia e nos deixou para resolver isso na prática. Sua primeira referência em o Tribunal de Honra está no “Escotismo para rapazes”. E cito isso na íntegra porque quero que você leia novamente isso, aceitando-o sem reservas como o objetivo para o qual devemos trabalhar. Agora, quando digo reler, quero dizer ler devagar, ponderar cada frase, absorver seu significado mais íntimo e torná-lo uma Parte real de sua compreensão e filosofia do Escotismo. (Extração de "Scouting for Boys").

- “Um Tribunal de Honra é formado pelo Chefe e pelos Líderes de Patrulha, ou, no caso de uma pequena tropa, dos líderes de patrulha e sub monitores”. Em Muitos tribunais, o Chefe da Tropa atende aos temas das reuniões, mas não vota. O Tribunal de Honra decide recompensas, punições, programas de trabalho, acampamentos e outras questões que afetam o gerenciamento da Tropa. - Os membros do Tribunal de Honra estão comprometidos com o sigilo; apenas as decisões que afetam toda a Tropa, por exemplo, compromissos, competições, etc., seria tornado público.

- Talvez alguém que esteja lendo pense que deve iniciar o Tribunal de Honra quando a tropa tiver mais experiência em grupo. É um grande erro dizer: "Começaremos a Tropa primeiro e a Corte de Honra será desenvolvida mais tarde". A maneira correta é fazer o Tribunal de Honra funcionar corretamente e deixar que a Tropa cresça através dele. A primeira reunião é onde você começa a estabelecer a tradição, e se você fizer isso ou não, o resto será derivado. Um bom começo para qualquer novo esforço é de grande valor. Sem um esforço consciente para estabelecer uma tradição que vale a pena, inevitavelmente começará de maneira errônea. 

- Se você está começando uma nova Tropa, presume-se que você tenha a sabedoria para iniciá-la com poucos garotos ou, em qualquer caso, Dê atenção especial aos Candidatos Seniores, que serão o primeiro lote de Monitores e Sub-monitor. Tão logo tenham passado nos testes de classes e tenham feito sua Promessa, eles devem constituir uma Corte de Honra e começar a estabelecer as tradições nas quais a Tropa será baseada. Isso dará aos Monitores de Patrulha selecionados um senso de responsabilidade e a oportunidade imediata de fazer sugestões sobre as atividades; sobre quem e quem não será admitido; e, não menos importante, será através do Tribunal de Honra que você, como seu diretor, começará a entender os personagens dos seus Monitores de Patrulha. 

- Naturalmente, muito disso é válido para tropas estabelecidas. É necessário fazer uma pausa e lembrar que a criação de qualquer Tribunal de Honra é, por necessidade, constantemente mudando; os meninos crescem no Escotismo e passam para outra seção do Movimento; É uma estranha Tropa em que todos os indivíduos do Tribunal de Honra permanecem os mesmos por mais de doze meses. Portanto, temos o problema continuamente ou, a meu ver, a oportunidade contínua de passar pelo Tribunal de Honra, o mesmo treinamento, a mesma oportunidade de absorver a tradição e a mesma oportunidade de aceitar a responsabilidade, em um fluxo interminável de aspirantes a suas fileiras.

O chefe de tropa
- BP disse isso sobre a posição do chefe da tropa em relação ao Tribunal de Honra: 'O chefe da tropa participa das reuniões, mas não vota'. No "Guia de Patrulha", o cartunista produziu uma deliciosa caricatura mostrando um Chefe de Tropa que claramente tentou votar, reclinou em sua cadeira com um grande impacto na cabeça, enquanto os monitores de Patrulha firmaram um acordo em um caminho anti-culturista, mas seguro com seu desejo de intervir.

Nota – Extraído dos Livros do Scouter – No 2 – “O tribunal de honra” por John Thurman.

quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Apenas um olhar para entender.




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Apenas um olhar para entender.

... Agrada-nos o homem sincero, honesto, alegre e leal isto porque nos poupa o trabalho de estudarmos o seu caráter para o conhecermos.
                 
Há tempos escrevi uma crônica que deu muito que falar. Contei que estava à procura de um Chefe Escoteiro um dirigente ou um formador, não importando o cargo que tenha no escotismo. Sem ser pretencioso comentei que ele não precisava ter sido menino escoteiro, mas que seria importante ter conduta ilibada, elegante, educado, prestativo e sempre com um sorriso nos lábios mesmo que seu coração estivesse nas sombras. Não importava que ele não tivesse conhecimento da Vida de São Francisco, mas que usasse e abusasse do é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado. Um Chefe verdadeiro líder que saiba liderar e ser liderado. Que tenha como máxima de vida, a lealdade e a fraternidade. Não precisava ser um santo, seja um homem ou uma mulher com qualquer idade pobre ou rico de qualquer raça ou cor, mas que seja um cavalheiro ou uma dama no trato com seu semelhante.  

Insisti muito na palavra do escoteiro, na amizade, no quarto artigo da lei. Que seja um exemplo para todos e um herói para a juventude escoteira. Que pense primeiro neles e não em sí próprio. Não precisava ser pai e nem mãe e o professor. Ele não iria substitui-los e sim colaborar na sua formação. Apenas alguém simples, cuja promessa que um dia fez é levada a sério e mesmo errando sabe que isto valeu para aprender a levantar os ânimos de quem está ao seu redor. Não importa que seja solteiro ou casado, mas que seu código de conduta imite os cavaleiros do rei, com suas armaduras presas no coração pronto a defender a palavra, a cortesia, a bondade e o amor ao próximo. Que seu caráter seja ponto de honra, que a ética seja seu caminho de vida. Que saiba de sua responsabilidade com a Lei Escoteira e mesmo sabendo que não é fácil segui-la irá fazer o melhor possível para dar o exemplo aos seus amigos e irmãos escoteiros. Deveria ser um Chefe cuja ambição seria de dar aos seus jovens tudo que ele poderia fazer para transformá-los em cidadãos conscientes dos seus deveres consigo próprio e com a nação.

Quando escrevi recebi centenas de respostas. A maioria dizendo que não existe tal tipo de Chefe, mas ouve sim um que me afiançou conhecer um Chefe com esses quesitos. Não duvidei, afinal se ele me garantiu que seu Chefe preenchia essas necessidades eu tinha que acreditar, afinal não temos como escoteiros uma só palavra? Dizem que nós os velhos escoteiros conhecemos cada um, sua mente, seu coração só de olhar e ver o sorriso que ele vai dar. Basta ver um sinal manual, um jogo, um programa, seus primos e monitores para saber com quem estamos lidando. Quantas vezes labutando por este mundo de Deus, vi chefes que fiz questão de tirar o chapéu. Chefes que me orgulhei em conhecer. Chefes que fizeram um escotismo cheio de amor bondade e fraternidade, que tiraram do próprio bolso proventos para dar a quem precisava nas suas tropas ou sessões.

Mas o mundo mudou, o escotismo mudou... E eu não quis mudar com ele. Sem surpresa ainda vejo por aí membros adultos do escotismo, esnobes, convencidos, jactancioso, pedantes vaidosos na sua maneira de agir e falar. Querem ser servido e servir não faz parte de sua égide escoteira. Vejo com tristeza no olhar alguns que não medem suas palavras, não sabem o que quer dizer amizade, respeito e cortesia onde juntos forma à palavra fraternidade. Agridem por qualquer motivo, preferem o esnobismo querem ter o dom da palavra sem pensar que o melhor seria o dialogo. Seria exigir demais? Estaria eu por acaso a procura de um santo? Garantem-me amigos que se for no escotismo vai ser difícil de encontrar. O tempo passou e vai passar, as nuvens vão mudar de lugar, as rosas irão persistir em embelezar os jardins do Edem, a floresta ainda será verde e os pássaros não deixaram de cantar. Mas eu acredito que ainda vou encontrar alguém assim.

Quem sabe um dia todos terão o mesmo pensamento, voltado para os que estão a sua volta, que irão rolar no chão, na grama ou no barro, que vão cantar, não irão reclamar do seu próximo que está ali para ajudar. Acredito que existem por este rincão escoteiro um Chefe no verdadeiro sentido da palavra que é incapaz de cara feia, de gritos de exigir o impossível em jovens que precisam de amor e carinho e não chamadas de atenção. Um Chefe que sabe que está ai para ajudar na formação desta maravilhosa juventude e que encha as mãos cheias seus corações de aventuras e sonhos de atividades incríveis que sempre sonharem em fazer. Minha vista se espalha pelo horizonte, ainda acredito no escotismo de amor, acredito sim no escotismo perfeito de sonhos que se realizam por mãos de pessoas que podemos acreditar... Seria sim aquele Chefe perfeito, que não quer ser o melhor, que acredita que são jovens que precisam de holofotes e desenvolver seus talentos... E não ele!


segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Eu tive uma barra de duas lonas amarela desbotada...




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Eu tive uma barra de duas lonas amarela desbotada...

-... Era uma vez... Uma barraca de duas lonas, amarelada e que serviu de abrigo por muitos e muitos anos a uma Patrulha escoteira.

- Eu tive uma barraca de lona, amarelada, desbotada, não era uma barraca inteira, era apenas a metade, uma lona e me nomearam responsável pela sua manutenção. Quando fiz a passagem dos lobos Romildo meu Monitor me nomeou responsável por ela. Fiquei eufórico, cheguei em casa contando para toda a família que eu era responsável por uma barraca, isto é, metade de uma barraca. Candinho passou para os seniores e nada mais que um substituto na Patrulha para receber o encargo. Dormi algumas vezes em uma quando lobinho, mas era diferente. Era grande e precisava do Balu e mais quatro Primos para montar.

- Eu tive uma barraca de lona, amarelada, desbotada, não era uma barraca inteira, apenas a metade, uma lona e fiquei emocionado com a responsabilidade. A Patrulha tinha três delas. Herança militar do 6º Batalhão de Infantaria. Foram feitas para dois praças e cabiam folgadamente três escoteiros. Só eu e o Wantuil éramos “donos” de uma. Gordo, o chamavam de “Meio Quilo” acharam que eu e ele ficaríamos bem em uma. O Monitor me disse que eram novas, foram doadas em janeiro e estávamos em outubro. Ela ficava em minha casa. Era minha responsabilidade. Uma vez por semana eu a colocava no sol para não embolorar. Ensinaram-me a manter a lona perfeita impermeabilizada a prova de chuva, apenas com um pedaço de couro de boi cru. Deu resultado. Quantos temporais e chuvas torrenciais ela aguentou. Seu Lucinio do Curtume sorriu quando fiz o pedido. Em pose militar me deu sempre alerta e mandou Saramango buscar um belo pedaço de couro ainda mole e me ensinou a usar. A cada cinco meses lá estava eu, recebendo o belo sorriso do seu Lucinio. Era um tempo que fazíamos questão de fazer tudo bem uniformizado... Do sapato ao chapéu!

- Eu tive uma barraca de lona, amarelada, desbotada, não era uma barraca inteira, apenas a metade, uma lona e fiquei emocionado com a responsabilidade. Eu e o Wantuil éramos peritos na armação. Treinamos a armar em menos de cinco minutos. Um pé lá e outro cá e já tínhamos entrado no mato, cortado os varões e espeques. Usávamos o cipó Titica, maleável, o melhor para estes casos. Só uma vez pagamos o pato pela pressa, um temporal e armamos de qualquer jeito, uma ventania e ela foi ao chão. Mas pergunte a ela, minha barraca de uma lona (duas com a parte do Wantuil) quantas tempestades ela nos salvou, quantas enchentes, quantos vendavais.

- Eu tive uma barraca de lona, amarelada, não era uma barraca inteira, apenas a metade... Naquela época para nós não existia “outras”. Bangalô? Canadense? Iglu? Tubular? Geodésia? Deus me livre! Só vim a conhecer nos primeiros cursos que fiz. Dizem que tem algumas que você aperta um botão e ela enche de ar e aos poucos vai tomando forma. Lá dentro tem camas, armários só não tem WC. Aí é querer demais. Mas tem graça isso? Bem se for fazer Camping tem. Mesmo eu que fui campista por anos não sei se iria gostar dela. Sem fazer nada? Só dormir? Bah! Acho que não é minha praia. Boa mesmo, prá lá de “mais de boa” era a minha de duas lonas. Uma vez a do Gentil encheu de lama e dormimos cinco em uma! Muito? Deu para o gasto.

- Eu tive uma barraca de lona, amarelada, desbotada, não era uma barraca inteira, apenas a metade. Se você já dormiu em uma delas sei que sente saudades. Bastava tirar um cipó, dois pedaços de madeira de metro e meio e seis espeques e elas ficavam em pé. Não esquecer do canal em volta e por baixo da lona e uma saída na parte mais baixa. Disseram-me que chovendo e abrindo a porta se molha todo interior. Não sei não. Comigo não aconteceu. Meu Monitor me ensinou bem a abrir a porta e sair e entrar em um dos lados. Ela não tinha forro de chão. Forro? Bah! Para que se tinha capim a vontade? Folhas secas caídas no chão e eram um verdadeiro colchão para dormir. Neco Brinco de Ouro nosso sub me disse para comprar dois sacos de linguagem ou estopa e costurar um no outro. Depois era só encher de capim e teria uma cama melhor que tinha em meu quarto.

-  Eu tive uma barraca de lona, amarelada, desbotada, não era uma barraca inteira, apenas a metade... E para transportar? Simples demais. Bem dobrada fazia a volta na mochila e junto à capa de chuva se prendia com cabos firmes em presilha. Peso? Uma ninharia, bem menos que dois quilos cada lona. Armar era supimpa. Diziam naquela época que demorar mais de cinco minutos para armar era coisa de Pata-tenra! Em jornadas ou caminhadas longas se chovia elas eram uma “pá na roda”. Servia para um descanso em baixo de uma árvore, servia para um travesseiro nas paradas de descanso, e se fosse demorar porque não armar? Cinco minutos! Isto mesmo. Soube de uma patrulha que armava em dois! Bem eu e Wantuil treinamos muitos. Olhos fechados, deitados, com uma das mãos amarradas...

- Eu tive uma barraca de lona, amarelada, desbotada, não era uma barraca inteira, apenas a metade... Quando fiz treze anos notei que elas começaram a embranquecer e perder a permeabilidade. Qualquer chuvinha e a lona deixava passar pequenos pingos e ficavam enxovalhadas demais. Acho que foi Lomanto Cobra Cega motorista de caminhão quem nos ensinou como fazer. Dirigia um caminhão “Fenemê”, FNM, ou melhor, Fábrica Nacional de Motores. Caminhão brasileiro para ninguém botar defeito. Chamou Zequinha o Monitor e disse: - Se o couro não resolve usem sebo de boi. Ele vem duro como pedra. Coloquem em uma vasilha e deixar virar mel. Pegue uma escova de engraxar sapatos, vai molhando e passando na barraca. Depois deixe secar, mas não no sol. Na sombra. Faça isto quatro vezes espaçadamente. A lona nunca mais vai deixar a água de chuva passar!

- Dito e feito. Foi supimpa. A gente sorria e partia para nossos acampamentos de fins de semana mais tranquilos. E eis que em uma reunião um Fenemê do 6º Batalhão de Infantaria parou na porta do grupo. – Na Boleia o Chefe João Soldado e o Tenente Juventino. - Quem vai acampar? Perguntou o tenente... E um cabo malcriado gritou – Ou vem ajudar ou vou levar esta M... De volta! Corremos todos saltando de uma só vez na carroceria do caminhão. Dezenas de barracas, cantis, mochilas, canecas, material de sapa tinha lá dentro tudo que a gente precisava para nossa intendência. Chefe João Soldado sorria. Agradeçam ao Tenente Juventino e ao capitão Barbosinha. Eu agradeci também a Deus... - Eu tive uma barraca de lona, amarelada, desbotada, não era uma barraca inteira, apenas a metade... Que saudades!

domingo, 11 de agosto de 2019

FELIZ DIA DOS PAIS!




FELIZ DIA DOS PAIS!

Estamos comemorando o dia dos pais. Há muito a dizer sobre eles. Nosso intuito é agradecer aos Pais dos escoteiros que tanto tem contribuído para o escotismo com seu trabalho e abnegação. Já me disseram que alguns heróis não têm capas, estes heróis são chamados de pais. Houve um tempo que eles chegavam à sede, deixavam seus filhos e voltavam novamente para buscá-los. Os chefes eram oriundos de sua experiência escoteira e muitos pais assustavam com possibilidade de ser um deles, pois o escotismo era algum inatingível para a compreensão de tudo que faziam. Aos poucos este pensamento foi alterando. Já não havia aquele pai ausente, pois ao ver a alegria do filho ele também pensou que poderia sorrir junto. Falava-se tanto dos acampamentos das noites de luar, do belo por do sol, das matas e afins que eles se juntaram a nós. Em qualquer rincão deste nosso imenso país, tem um ou mais pai dando sua contribuição ao escotismo. Entram sem nada saber exceto aqueles que já passaram pelas fileiras Escoteiras e vão aos poucos adquirindo experiência nos cursos, na troca de ideias, na observação e na convivência aos jovens de sua sessão. Não podemos esquecer aqueles pais abnegados, que estão a colaborar nas áreas administrativas e se saem esplendidamente bem. Também não podemos esquecer os pais que mesmo sem um cordão umbilical na área técnica ou administrativa, dão sua colaboração em atividades onde entra o conhecimento em sua área de atuação profissional. Sabemos que o pai é o espelho, a proteção à benção e conselho. Sabemos que pai é amor e sem eles o escotismo não estaria na posição de hoje.

Nesta data tão festiva, é nossa obrigação tirar o chapéu aos pais dos escoteiros aos pais escoteiros ou mesmo pais simpatizantes que dão sua enorme contribuição ao movimento Escoteiro. Como disse o poeta o pai é alguém para se orgulhar, alguém para agradecer e, especialmente alguém para amar. Obrigado a todos vocês, sejam os que estão diretamente ligados aos jovens seja os que não se omitem quando precisamos da sua colaboração. Todo homem tem o direito de errar e escrever sua própria história no livro da vida, mas desperdiçar a oportunidade de aprender com seu pai que está ao seu lado não é muito sábio.

FELIZ DIAS DOS PAIS AOS QUE LABUTAM NO ESCOTISMO OU FORA DELE, PAIS DO BRASIL E DE TODO O MUNDO. FRATERNOS ABRAÇOS A TODOS!

terça-feira, 6 de agosto de 2019

O dia do Chefe Escoteiro.




O dia do Chefe Escoteiro.
06 de agosto comemora-se em todo o mundo o dia do Chefe Escoteiro. Tenho certeza que muitos sabem que sem eles não haveria escotismo. Podemos ficar sem direção Mundial, nacional ou regional, mas não podemos de maneira nenhuma ficar sem estes voluntários abnegados. Dizer sobre o que fazem não é preciso. Todos sabem de sua importância. Como escreveu BP a melhor maneira de ser feliz é fazer os outros felizes!
A recompensa do Chefe Escoteiro.
A satisfação que resulta de cada um ter tentado cumprir abnegadamente seu dever e ter desenvolvido o caráter nos jovens, o que lhes dará uma personalidade diferente para a vida toda, é uma recompensa tão grande que, absolutamente, não pode ser descrita. Esta é a maior recompensa da dedicação do Chefe aos jovens e Movimento. Parabéns a todos que se dedicam a esta nobre missão. Voluntários que não medem sacrifício para colaborar na formação da juventude. A eles um Bravôo, e um Anrê e que Deus lá em cima os proteja para continuarem sua nobre missão.

Queria realmente ser um Chefe escoteiro, 
Ter a bondade nas faces,
A sabedoria no olhar,
Saber sorrir, saber confortar,
Saber entender os jovens, saber ensinar.
Ir ao encontro de todos, e a todos amar...

Parabéns a todos os chefes, Melhor Possível, Sempre Alerta e Servir!

sábado, 3 de agosto de 2019

Conversa ao pé do fogo. Era uma vez... Um comissário Viajante da UEB. (uma história baseada em fatos reais)




Conversa ao pé do fogo.
Era uma vez... Um comissário Viajante da UEB.
(uma história baseada em fatos reais)

Prólogo: - Hoje dia de reunião para a maioria dos Grupos Escoteiros. Na minha varanda apesar do frio intenso e não podendo participar mais com a escoteirada, me lembrei desta história verídica por sinal dos meus tempos de sênior, bons tempos, outras reuniões, outros papos, tudo feito como antigamente. Que o acontecido não sirva de exemplo. Não fomos cavalheiros com o Comissário. Minhas desculpas...

Tudo aconteceu lá pelos idos de 1957, com dezesseis anos respirava escotismo em todos os poros. Estudante pela manhã, ajudava meu pai em sua oficina e a noite ia para a sede encontrar com a Patrulha, planejar atividades, falar das namoradas, canções desafinadas e saber das novidades. Éramos duas patrulhas seniores, a maioria remanescentes da alcateia e tropa escoteira, exceto José Lima que entrou como Sênior. Nosso Chefe Sênior aparecia aos sábados. Reuniões simples, bandeira, papos, provas e revisão de programas e saber como ia nosso treinamento técnico. Romildo nosso Monitor era mais um amigo sem muita prosa. Sentados embaixo da mangueira do pátio vimos quando Micoçar com sua charrete chegou. Foi uma surpresa. Dela desceu um Chefe, todo prosa, caqueano, chapéu nos trinques, bela barriga como a minha hoje e gritou “Sempre Alerta Escoteiros”.

Moreno claro, idade por volta dos seus cinquenta anos logo perguntou: - Cadê o Chefe? Tãozinho falou baixinho: - Hoje não veio, foi para Baixo Guandu no expresso, só volta segunda. – E o Chefe do Grupo? Romildo emendou: Na casa dele no Morro do Chapéu. – Ele pomposo disse: - Alguém pode avisar que o Comissário da UEB está aqui? - Ninguém falou nada. Não estavam gostando do tipo. Muito metido e arrogante com ar de dono da bola. Acostumados com um aperto de mão, apresentação, um sorriso e fraternidade nem seu nome disse. Mindinho se ofereceu para ir avisar o Chefe João Soldado. – Não é só para avisar, disse. Diga a ele que é um comissário da UEB, que ele venha logo! – Rimos baixinho. Comprava briga sem saber com quem estava lidando. Se conhecesse o Chefe ficaria na sua.

Vinte minutos ouvindo seu prosear, contava seu tempo de escoteiro e como chegou ao posto de Comissário. Até que foi interessante. Mindinho chegou. – O Chefe mandou dizer que ele o receberá em sua casa. Micoçar sabe onde é. Micoçar era um charreteiro de aluguel. Naquela época as charretes faziam a festa na rodoviária e na estação ferroviária. Micoçar era o xodó das moçoilas, pois sempre tinha uma rosa para as que viajassem com ele. Saiu sem despedir-se. Ficamos sabendo depois que o Chefe João Soldado ficou uma “arara” com seu estilo topetudo e cheio de exigências. Falando alto, repetia que era Comissário da UEB e tinha plenos poderes. – Lá pelas seis e meia da tarde o Chefe João Soldado chegou com ele à sede. Já estávamos saindo quando nos chamou. – Patrulhas o Comissário quer fazer uma reunião com vocês. Disse que iria fazer uma autêntica reunião escoteira. Seria com os escoteiros, mas estão acampando. Todos aqui amanhã por volta das nove horas!

A reunião seria realizada no Campinho de futebol onde nos reuníamos. Matutando o que ele iria fazer ninguém gostou da ideia, mas ordens são ordens. Eu preocupado por perder os seriados da matiné no Cine Pio XII. Buffalo Bill contra o Sioux Hunkpapa e na sequência Nyoka, a Rainha da Selva. Uniformizados não pagávamos ingressos. Ordem dada ordem cumprida. A reunião se transformou em correria de louco. Naquela época achamos ser um besteirol aprontar aquela correria. Para dizer a verdade eu estava gostando. Tinha outros que não. O tal comissário bufava e corria para lá e para cá e como apitava. Uma enorme audiência se formou. Ele dava palestra, jogos, corria saltava e resolveu fazer um comando Crow. Não sabia que éramos peritos na corda. Na primeira fila rindo a valer estava Micoçar com seu bigodinho a lá Charles Chaplin. Conhecia-o de vista, nunca fomos amigos. Foi então que o Comissário formou um circulo e ensinou-nos uma canção que mais tarde adorei, mas naquela época! Vixe, que vergonha. Era a Piaba. “Sai, sai, sai ô piaba saia da lagoa”. Tinha de rebolar, dar uma umbigada e dançar requebrando. Uma canção que não foi feita para os machões seniores como nós.

Fui obrigado a cantar e dançar. “Sai, sai, sai oh piaba saia da lagoa”! Quando alguém dava uma umbigada à turma da arquibancada rolava de rir. Na minha vez Micoçar começou a gritar: - Vai Telírio! Vai Telírio! Mostre seu requebro! Bem aquilo foi demais. Chamar-me de Telírio era briga na certa. Hoje não, mas naquela época os homossexuais da cidade serviam de comentários maldosos e ridículos. Chamar alguém pelo seu nome era motivo de palavrão. Telírio era o mais conhecido. Eu vermelho de vergonha tentei dançar. Difícil requebrar. A turma da arquibancada gritando: - Vai Telírio, requebra e mostre que você é o maior dançarino da cidade! Desisti. Outros Seniores também. O povo morrendo de rir. O chefão gritando: - voltem todos. Não dispensei ninguém! O comissário raivoso gritava possesso: - Nem cantar sabem? Que raios de seniores são vocês? Mocinhas lavadeiras do Rio Doce? Ninguém ficou lá. Micoçar a gritar no meu ouvido me chamando de Telírio. Puxei a velha faca mundial que usava na cintura e disse que era a vez dele dançar. Dance se não vai sentir o sangue correr. Estava possesso! A turma do deixa disso chegou.

O Comissário saiu com Micoçar e foi direto a casa do Chefe João Soldado. Esqueci-me de dizer ele era Primeiro Sargento da Policia Militar. Soube que ameaçou fechar o grupo. Tanto falou que o Chefe João Soldado o pegou pela camisa o arrastou até a charrete de Micoçar dizendo: - Suma! Se aparecer na minha frente de novo quebro seus dentes e o coloco uma semana no xilindró. Micoçar se trazer ele aqui outra vez tu tá marcado comigo! Dia seguinte quando o Chefe João Soldado nos contou toda a conversa à tropa caiu na gargalhada. - Ora, ora, na minha cara disse que não tínhamos seniores. Tínhamos sim um bando de moleques indisciplinados (até certo ponto com razão). Exigiu que fizéssemos um Conselho de Tropa e destituísse ambos os Monitores. Disse que enquanto não fizermos tudo isto o grupo nunca seria registrado. Interessante é que nunca fomos registrados. Nosso grupo tinha mais de trinta anos de atividade e nunca fizemos registro. “Belle Époque”, outros tempos.

Hoje se voltasse no tempo não faria isso de novo. Mas era outro escotismo, mais campismo, aventuras e poucas reuniões de sede. Eu e Micoçar nos tornamos grandes amigos. O Comissário alugou sua charrete por dois dias e não pagou. Foi embora e deu o cano. As patrulhas fizeram uma “vaquinha” e pagamos em suaves prestações. Charretes! Também foram engolidas pela modernidade; assim como o escotismo pelos novos tempos!

quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. 1º de Agosto dia do lenço Escoteiro.




Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
1º de Agosto dia do lenço Escoteiro.

Prólogo: - O Lenço Escoteiro é umas das peças mais importante do Uniforme Escoteiro. Ele representa o grupo e seu compromisso com o escotismo. O lenço escoteiro é um pedaço de tecido de forma triangular, parte fundamental do uniforme de todas as organizações escoteiras ao redor do mundo. A peça foi adotada pelo fundador do movimento escoteiro Lord Baden-Powell por ter dimensões muito próximas de ataduras triangulares muito usadas em primeiros socorros. No Brasil o lenço escoteiro deve ter catetos medindo de 60 a 80 cm, sendo os grupos escoteiros responsáveis por suas cores e emblema. Todas as unidades estaduais e a unidade nacional da UEB possuem lenços próprios. O lenço nacional, usado em cerimônias e eventos internacionais, é degradê verde, amarelo e azul e tem por emblema o Cruzeiro do Sul bordado em branco.

Posto isto, aviso a todos os meus amigos e os que não têm simpatia com minha pessoa que não adoto usar só o lenço no dia de hoje ou em qualquer outra data escoteira festiva. Não mesmo! Nunca usei o lenço sem estar devidamente uniformizado. Vejo, entretanto que a nova época moderna do escotismo adota usar o lenço de qualquer maneira. Já vi alguns de lenço de short sem camisa e de peças que assusta o mais antigo cidadão escoteiro. Tentei localizar a data e ou a origem da nova data da celebração do lenço Escoteiro. Não encontrei apesar de alguns irmãos escoteiros dizerem que celebramos o dia primeiro de agosto a data formal do inicio do Acampamento em Brownsea e usar o lenço é uma forma de homenagear o surgimento do Escotismo Mundial. Muito bem. Sabemos que ali deu inicio ao formidável movimento que se espalhou pelo mundo e até alguns dizem que mais de quinhentos milhões de homens e mulheres passaram pelas sendas escoteiras. Formidável!

Mas explico antes que receba mensagens impertinentes ou desaforadas. Não sou contra o dia do lenço, ou melhor, não sou contra nada. Quem sou eu para discordar dos grandes “çabios” escoteiros hoje na liderança da entidade chamada Escoteiros do Brasil. Afinal estou com um pé lá e o de cá gosta de tremer e não obedecer de vez em quando. Sinal de cafonice e caduquice. Houve um dia na minha história escoteira, não tão rica e cheia de detalhes que fiz a promessa como Escoteiro. Não vou comentar a de Lobinho em abril de 1947. Foi uma época que desde o primeiro dia o Chefe e o Monitor me disseram que só se veste o uniforme no dia da promessa e o lenço é colocado sobre ele com cerimonial próprio. O lenço disse o Chefe faz parte do uniforme. E completou: - Você tem de ser manter digno, bem vestido, com garbo e distinção para os que te virem saberem que és um honrado e orgulhoso membro do Escotismo mundial e o lenço é para que se lembre de se orgulhar do seu grupo escoteiro e de ser um membro da fraternidade mundial. Isto aconteceu lá pelos idos de 1951 e me senti promessado com meu lenço e meu distintivo de promessa para o resto da minha vida.

Como já disse, sou um velho escoteiro das antigas, mais conhecido por ser um velho senil, antiquado, gagá e borocoxô, e me senti obrigado a manter minha promessa e os conselhos do meu Chefe (que Deus o tenha). Além do mais sou danadamente ligado as minhas raízes e tradições e, portanto só uso meu lenço escoteiro “Devidamente uniformizado”. Como faço todos os anos, já que andar não é mais o meu forte, e me aposentaram de maneira hipotética, costumo nas datas escoteiras de maior menção, vestir meu uniforme e passar algumas horas na minha varanda para espanto dos vizinhos e passantes a quem costumo dar meu Sempre Alerta! Para dizer a verdade nas datas festivas quando jovem vestia minha inalterável farda e ia para a escola e ginásio mesmo a contragosto do Padre Pedro e do Diretor Padre Gerard, um alemão com nome francês. Vá lá entender estes Maristas donos do Ginásio.

Mas desculpem a causa dos chamados tradicionais. Bem entendam como quiserem a palavra tradicional. Muitos a defendem de unhas e dentes outros em nome da modernidade valorizam mais o que é sinônimo de atual e moderno. Pelo sim pelo não tiro o chapéu pelo “Dia do lenço”! Prometo hoje à tardinha vestir o meu uniforme, colocar meu lenço de Insígnia (pena que meu verde e amarelo de promessa do Grupo Escoteiro São Jorge de Governador Valadares Minas Gerais se perdeu em uma enchente) e ir para minha varanda saudar os passantes e vizinhos que espantados dirão: - Que caduquice é esta? Que a escoteirada do Brasil e do mundo que utilizam esta nova moda, infestem as escolas, as fábricas, as lojas e escritórios com seu lenço sem o uniforme. Pelo sim pelo não sou obrigado a aceitar esta nova moda e parabenizar sem, no entanto me valer dela. Dios mío y perdón Baden-Powell!

Feliz dia do lenço viva a ideia fenomenal do Homem Criador do Escotismo. Hosanas ao acampamento do século naquela ilha que ficou na história. De pé, em posição de sentido grito bem alto meu Melhor Possível, meu Sempre Alerta e meu Servir em saudação a Brownsea... ONDE TUDO COMEÇOU!