Crônicas
de um Chefe Escoteiro.
Ora, ora,
Geração sem memória?
Sem ofensas é claro. Tenho certeza que
entenderam onde quero chegar. Sei que à medida que alguns forem lendo irão
aparecer diversos “Politicamente Corretos” a defenderem a nossa associação. Já
publiquei em um dos meus blogs um artigo mais extenso sobre o tema. Mas porque
me preocupo? Não devia. Não sou mais um participante ativo, não tenho mais
direitos dizem alguns. Afinal se todos
ou quase todos estão satisfeitos com as mudanças para que insistir? Como dizem por
aí “já dei o que tinha de dar ao escotismo”.
E vejam bem, estes Cavalheiros Escoteiros, os eternos defensores da lei
e da ordem, defendem a ferro e fogo sem mostrar os resultados destas mudanças.
Sempre dizendo – Aguarde, o caminho é longo. Vamos percorrer sabendo onde
pisar. Dez anos, vinte, trinta, quarenta anos se passaram. Que caminho
danadamente difícil. Estou esperando que me mostrem os resultados. E quais são?
Perguntam-me. Um escotismo forte, unido, democrático com uma boa participação
ativa de todos os membros sócios da Associação. Grupos Escoteiros estruturados,
com todas as sessões completas, maciça procura de jovens para participarem do
escotismo, grande apoio da comunidade, políticos ex-escoteiros defendendo o
nosso crescimento nos procurando e não o contrário. Grandes empresas engajadas
no projeto Escoteiro e o impossível: Autoridades educacionais reconhecendo o
valor do movimento Escoteiro. – Pelo amor de Deus! Não vendemos biscoitos e não
somos um movimento infantil sem utilidade como dizem muitos!
São
poucos os velhos escoteiros que ainda dão seu testemunho e poucos muito poucos vem
à tona para tentar alterar ou mostrar que os rumos tomados estão conduzindo a
um caminho sem volta. A maioria dos que discordam, preferem sair, encostar as
chuteiras. Conheço vários. O escotismo com sua disciplina, suas leis, sua promessa
nos envolve a tal ponto que temos receio de discordar. Aceitamos com submissão
tudo que nos chega às mãos pelos nossos dirigentes, instrutores e chefes. Os
nossos costumes, crenças e tradições do passado, não mais estão sendo relatados
de uma geração para outra. Ainda bem que mantemos uma série de compromissos que
nos traz a alegria de saber que ainda somos um movimento oriundo das ideias e
valores de Baden Powell. Até quando não sei. Infelizmente alguns já dizem e o
chamam de ultrapassado e cada um ao seu modo analisa suas crenças dentro de uma
metodologia moderna. Um dia desses um desses novos formadores me disse que Baden
Powell é oriundo de uma Inglaterra colonialista e sua formação militar pode ser
considerada retrógrada hoje em dia. O que esperar dos seus alunos em cursos no
futuro sobre nosso passado?
Não sei se existirá mais retorno. Agora
é pegar o trem da história e ver até onde ele vai chegar. Neste trem acho que
não serei passageiro. Não tenho mais todo o “tempo do mundo”. Até acredito na
juventude Escoteira que está dentro dele tentando mudar a história que eles não
fizeram, outros fizeram por eles. Existem ainda os audazes formadores de
opinião. Chega a ponto de a gente dar um suspiro e pensar – O que aconteceu?
Antes orgulho de um uniforme. Bem postado. Garbo. Respeito. Hoje? Qualquer
coisa serve. Inventaram a nova vestimenta. Não perguntaram se queríamos.
Decidiram como seria e os preços. Decidiram também acabar com o Azul Mescla.
Eles decidem e não perguntam. Antes tinham o traje e diziam que era para os
meninos pobres. Alardeiam aos quatro ventos que estamos crescendo. Falam em
84.000. Fico pensando dos países que iniciaram o escotismo em 1910 onde estamos
nesta escala. Se 84.000 é muito então não somos nada. Hoje não existe a
preocupação de facilitar as taxas cobradas. Taxas de cursos, de Acampamentos
Nacionais e Regionais, sem comentar o registro que alguns estados insistem em
ter uma parte. Mas eu insisto, eu insisto e vou insistir sempre. Onde estão os
resultados?
Em um
artigo li que a psicóloga norte-americana Hara E. Mannara escreveu criticando a
forma frouxa como os pais daquele país estão criando os filhos, formando uma
geração de cidadãos apáticos, indiferentes, alienados, e sem compromissos com
nada. No Brasil, palestras e artigos acadêmicos também vêm alertando para os
efeitos da educação chamada por alguns de “pós-moderna”. Educadores mais ‘à
direita’ criticam os pais por criarem uma geração sem compromisso com os
valores do lar, da família, da tradição cultural local e do país. Outros não
poupam críticas aos efeitos da educação geradora de pessoas individualistas,
consumistas, sem gosto pela leitura, sem atitude crítica, desinteressada para
transformar o mundo. Poderia me aprofundar por aí, mas coloquem o escotismo
nestas palavras. Será isto o que desejamos? O nosso futuro?
Não vou
me alongar neste tema. Geração sem memória é fruto de um pequeno passado, onde
os valores que acreditávamos estão aos poucos desaparecendo. Em cursos inculcaram
nas mentes dos escotistas estas mudanças, a maneira de ser e de se apresentar. No passado tínhamos nosso orgulho de só nós
termos uma organização cujas nomenclaturas ninguém tinha. Era um orgulho
pessoal de ser chamado de chefe (tão combatido hoje), de termos um Chefe de
Grupo, afinal ele não é a figura máxima no grupo? De termos um Comissário
Distrital, um Comissário Regional e um Escoteiro Chefe. Ninguém tinha. E a
Equipe de Adestramento? Um orgulho em pertencer a ela. Quem é você? Sou um
Adestrador. Hoje os sábios mudaram tudo. Sempre tem explicação para tudo. -
Fica melhor assim disseram. Agora seremos mais conhecidos. Conhecidos? Acabaram
com os nomes das classes que eram orgulho de todos que um dia tiveram uma. Uma
tradição que se perdeu. A primeira estrela e a segunda no Boné do Lobo, a
Segunda Classe, a Primeira Classe, as eficiências e especialidades. Os nomes
mudaram. Tudo moderno agora. Por quê? Porque não mantiveram tudo e alteraram
seus conteúdos dentro dos princípios modernos que acreditavam? Precisavam dar
um “choque de gestão” em tudo? E a flor de lis também? Isto resolveu ou vai
resolver o abandono, a falta de interesse, esta evasão enorme que assola nosso
movimento?
Geração
sem memória. Não, não me entendam como desmemoriados. Nada disto. Apenas com
uma nova concepção Escoteira onde a memória do passado não mais existe no presente.
Dizem por aí os dirigentes, diretores e escotistas que participam do poder que
vai dar certo. Seremos grandes. Quem
viver verá. Não duvido, vai ser um novo escotismo. Diferente do que planejou
Baden Powell. Aqueles que desconhecem suas ideias irão aplaudir e eles não
estarão errados. Eles são a nova geração que desponta como um escotismo que
irão adorar. E a do fundador um dia ficará no passado perdido do tempo. No
entender de muitos é aceitar ou largar. Ou então: - “(pegar seu violão e sair
por aí cantando a canção do adeus)”. – DURMA-SE COM UM BARULHO DESSES!