CARTA AOS
MEUS AMIGOS DO ESCOTISMO.
Caros amigos e amigas escotistas.
Sempre Alerta!
No mês anterior mandei uma
carta para o céu, endereçado ao Senhor Baden Powell, amigo de todos nós. Claro
uma carta imaginária e hipotética. Quem sabe muitos puderam ler nas entrelinhas
o que lá estava escrito. Escrevi como sempre o faço criando situações análogas,
típicas dos meus contos, pois assim me sinto melhor quando escrevo. Para ser
sincero tenho aversão dos politicamente corretos com seus palavreados cheios de
pretensão de saber, de superioridade enfim, daqueles que hoje se acham acima do
bem e do mal e claro sem desmerecer a qualquer um destes. Eles são honestos
consigo próprio e acreditam no que fazem.
Em outras
publicações tentei ao meu modo mostrar meu ponto de vista do escotismo atual.
Recebi comentários por todos os lados, alguns concordando, outros aceitando
parte e discordando de outras. Tem aqueles que não concordam com nada. Alguns
até acharam que tenho mágoas passadas e tento aqui expor situações que para
eles são ridículas e despretensiosas. É possível. Meu passado Escoteiro junto
aos jovens foram os momentos mais felizes de minha vida, mas junto aos
dirigentes nem tanto mar nem tanto terra. Mágoas? Não. Decepção talvez. Assim
como muitos aqui eu também me julguei dono da verdade um dia. De maneira
diferente, pois andava por todo um estado buscando conhecimentos, ouvindo e
fazendo amigos. Foram dezenas de cidades. Tentei ao meu modo modificar o que
pensava de errado. Não sei se consegui. Acho que valeu por aumentar o meu
aprendizado Escoteiro.
Mas afinal
o que eu desejo e o que pretendo? O mesmo que todos há muitas e muitas décadas.
Um escotismo forte, para que os jovens que passaram pelas suas fileiras tenham
tido o melhor do método idealizado por BP. Assim quando crescerem irão
acreditar que o escotismo pode sem sombra de dúvida modificar e dar a todos os
jovens uma parte do seu método tão espetacular. Se o escotismo fosse participante
da vida do país, enraizado na sociedade e esta retribuindo e acreditando que
quanto mais oferecer aos jovens o programa Escoteiro mais teríamos o
fortalecimento das raízes escoteiras, seria muito bom. Mas afinal não é isto
que está sendo feito? Sim dizem muitos, não outros dizem. O caminho não foi
frutífero.
Eu penso e
posso estar enganado que existem oligarquias nas direções escoteiras, uma
espécie de capitanias hereditárias às avessas. Quem está dentro não sai e quem
está fora não tem condições de entrar nunca. Mas isto não é bom? Claro que não.
Quando acontecem eleições para as diretorias e escolhas de cargos entre outros,
estes passam de amigos para amigos e dificilmente aqueles que não pertencem a
esta oligarquia terão condição de serem eleitos ou participar. Claro existem
exceções. Será isto correto? Um Escotista me garantiu que sim. Explicou em
palavras simples que é o melhor para o escotismo, pois muitas organizações
assim o fazem e dá certo. Alguns me disseram que tínhamos vinte e poucos mil a
quarenta anos atrás e hoje temos setenta mil. Acho que se esqueceram de ver a
densidade populacional naquela época e hoje. Também a facilidade dos meios de
comunicação, locomoção, pois se assim o fizessem veriam que não ouve aumento e
sim decréscimo. Outro tentou a seu modo ver uma oligarquia no passado de alguns
estados e com uma grande união deles (os contra na época acho eu) esta acabou.
Será? Ou quem sabe ela mudou de direção e se encastelou em outro lugar?
Não sou
contra, nada disto. Se estivéssemos dando passadas largas para o nosso
crescimento falar o que? Eu pergunto a cada um de voces se algum dia receberam
a visita de um dirigente preocupado com nosso crescimento e solicitando que o
grupo fizesse um grande debate a respeito. Ou mesmo que sugerissem aos órgãos
superiores um programa que pudesse dar aos jovens a motivação para continuarem
na senda Escoteira. Alguns justificam nosso pequeno crescimento em dizer que
nem todos nasceram para o escotismo. Será? Se for verdade não seria melhor termos
um exame psicotécnico para saber quem serve e quem não serve? Acredito que um
bom número dos escotistas atuais tem menos de dez anos de atividade. Portanto a
não ser por estudos ou informações de terceiros não podem lembrar como era o
programa no passado. Vamos esquecer esta confusão que fazem com Escotismo
Tradicional. Alguns se escoram a favor e contra nestas palavras que nada trazem
de útil para nosso crescimento.
No passado
era comum ver patrulhas e matilhas completas por anos a fio. Não teria sido
melhor que tivessem sido mantidos as tradições das etapas modificando o que
fosse necessário? Não foi feito assim. Uns poucos decidiram o que devia ser bom
e mudaram tudo da água para o vinho. Implantaram sem nenhuma consulta as bases.
Hoje vejo por todo o país muitos reclamando, mas é claro que vários outros
aplaudem o novo programa. Agora estão tentando fazer uma frente parlamentar. Uma
excelente ideia. Mas vamos conseguir? Será que um dia poderemos ter um Mr.
Smith, que no Filme A Mulher faz o homem, (Mr. Smith goes to Washington) mostra um chefe Escoteiro, puro
nos seus pensamentos e atos, Escoteiro de coração e alma, cuja vida em um Grupo
Escoteiro por anos e anos sem perceber é guindado a senador dos Estados Unidos
e agora precisa enfrentar as raposas que lá estão? O filme é uma epopeia, vale
a pena ser visto. Mas dificilmente encontraremos políticos assim. Mas vale a
pena tentar. Não vou contradizer.
Eu acredito
mais nos jovens que receberam um bom escotismo, nos princípios éticos, onde se
acredita na honra e na palavra dada. Estes sim no futuro seriam o esteio do
movimento Escoteiro nos meios empresariais, políticos e claro englobariam toda
a sociedade. Isto foi feito em diversas nações. Já pensou se o nosso Ministro
da Educação e secretários conhecessem profundamente o escotismo? Saber seu
valor na formação do jovem e reconhecer que ele pode contribuir para a formação
de uma nação? E as autoridades estaduais e municipais? Isto é claro, só com um
trabalho a longo prazo visando manter nas fileiras escoteiras por maior tempo
possível os jovens de hoje. Agora não. Somos considerados um movimento
excessivamente infantil, ineficaz e nos acham uma forma de servir com tarefas
que nada trazem de proveito ao nosso reconhecimento. Para estes somos uma
diversão à parte. Quando comentei que a responsabilidade para isto acontecer
era de nossos dirigentes nacionais o mundo veio abaixo. Não são eles? Então
quem são? Os chefes? Coitados. Sempre dizem que eles são culpados. Não dão o
programa corretamente, não atingem o que o jovem deseja e por aí vão. Não
acredito nisto. Esta plêiade que luta para fazer um escotismo bom e honesto
campeia em todos os estados brasileiros. Deveriam sim dar a cada um uma medalha
de gratidão pelos serviços prestados. Infelizmente muitos estão desistindo por
não terem o respaldo que deveriam ter.
Sempre
perguntei e pergunto o porquê temas importantes como programas, uniformes,
normas estatutárias entre outros não são motivo de uma consulta a nível nacional.
Difícil? Não precisa? Por quê? Os chefes são incompetentes? Claro tem aqueles
que dizem que temos o fórum próprio. Todos podem participar. Brincadeira. Só
para quem não sabe como funciona. Um até me disse que todos podem opinar e dão
exemplo das modificações do POR. Nem sabemos quais e quantas ideias serão
aproveitadas. Por toda a vida foi dado aos dirigentes uma carta assinada em
branco. Claro dirão alguns. Os estatutos, o Regimento Interno e outras normas
são claros quando a isto. Mas vejam, estas normas foram criadas, escritas e decididas
por eles, menos de 0,5% do nosso efetivo nacional.
BP foi
enfático em dizer que o importante são os resultados. E os resultados quais
são? Meu amigo Escotista. Pode não ser o seu caso, mas você por acaso sabe que um
bom número dos grupos no Brasil tem menos de cinquenta membros registrados e
que a procura dos jovens para participar é mínima? Sabe que lista de espera
praticamente não existe? Será que você sabe que a nossa evasão é uma das
maiores do mundo? Que isto implica em muito a formação Escoteira, pois
dificilmente um jovem ou uma jovem que ficou menos de um ano nas fileiras
escoteiras poderão ter o conhecimentos que se espera para uma formação de
Espírito Escoteiro. Poderia dizer que temos dezenas de países bem menores
populacionalmente e com um PIB muito menor que o nosso e tem um efetivo
superior ao brasileiro. Aqui mesmo na América do Sul. Tem explicação? Claro.
Sempre tem.
Muitos me dizem
que ser voluntário hoje no escotismo não é fácil. Gastam do próprio bolso,
pagam todas as despesas e chegam ao desplante de muitos pagarem as mensalidades
nos grupos e a anual da UEB. Claro sei que poderei ser contestado, mas pagar
para ser voluntario? Cursos? Temos vários. Muitos excelentes. Mas porque não
estão atingindo o objetivo? Porque a saída de adultos ainda é grande? E os
preços? Não sei e não posso afirmar, mas alguém comentou que as taxas de cursos
hoje em dia fazem parte do caixa que cada órgão Escoteiro necessita. Acrescente
a isto o numero de atividades regionais, os custos das peças, materiais,
literatura dentre muitos itens que cada participante precisa. Dizem eu não sei
que os preços não são acessíveis a todos. Disseram-me que as lojas escoteiras
se transformaram em um negócio rentável e até de difícil acesso por parte de
grupos longínquos. Usar cartões ou outra forma de pagamento só se for
registrado no SIGUE. Venda fechada.
Não vou me alongar
mais. Lembrem-se não desmereço a nenhum dirigente. A nenhum diretor. Sei do
amor que eles tem pelo escotismo, pela sua formação e espírito Escoteiro. Tem
muitos novos que estão lutando para mudar. Mas nem todos abdicaram do poder e
da tomada de decisões entre eles. Ouvir o que outros tem a dizer sempre foi uma
frase filosofal. Pouco usada na UEB. Nossa democracia é ténue. Poucos se
arriscam a discordar. Eu sei de centenas que foram admoestados e hoje seguem a
cartilha da obediência cega. Aqueles que podem sugerir ou discordar são
considerados “persona non grata”. Eu mesmo se estivesse em um órgão Escoteiro e
com registro em dia e agindo como estou agora claro que seria admoestado. Sem
sombra de dúvida.
Não vou insistir
na velha tese que o jovem ainda sonha em ser um herói. Atividades aventureiras.
Vida ao ar livre. Dar a ele um pouco de aventura e oportunidade de crescer por
si mesmo. Mas sempre quando digo isto alguns contestam que o novo programa
permite e se não o fazem é porque não entenderam bem como ele é. Ou seja, em
outras palavras acham que um bom número dos chefes são incompetentes. Não sei.
Sei que muitos reclamam e o pior, o número de jovens saindo do movimento
continua no mesmo rumo, na mesma jornada sem futuro. Poderia dizer que esta
luta em colocar o escotismo como uma formação moderna é querer substituir a
escola que faz isto todos os dias, no próprio lar e junto aos amigos do dia a
dia. Dar a ele algum diferente seria o caminho. Existe um sonho que não é só
meu, sei de muitos que pensam assim. Uma grande união nacional para fazer com
que todos sem exceções tenham direito a voz e voto. Nunca canso de lembrar-me
que o seu direito termina onde começa o meu. Ah! Democracia. Que falta ela faz!
Recebam meu abraço, e meu Sempre Alerta.
Do Amigo
Osvaldo Ferraz