Nunca perca a fé na humanidade, pois ela
é como um oceano. Só porque existem algumas gotas de água suja nele, não quer
dizer que ele esteja sujo por completo.
Ghandi.
Revendo conceitos do escotismo.
Os
cursos dos rios são impossíveis de serem alterados. A própria essência do
terreno não nos dá condições de reverter o fluxo das águas. Porque estou
dizendo isto? Porque na nossa Organização Escoteira brasileira nada mais pode
impedir seu caminho inexorável às mudanças que estão sendo feitas
paulatinamente. Viramos uma máquina de copiar. Tudo que os outros fazem do
outro lado do oceano, aqui em pouco tempo é aplicado. De vez em quando dou uma
olhada nos sites escoteiros do além mar. Também no da WOSM. Seu site é
perfeito. Mas se procurar em todo seu conteúdo quase não se vê escrito os
princípios e o nome de Baden Powell com seus formidáveis livros de orientação,
conforme ele preconizou como deveria ser o escotismo. Seus livros são claros.
Vejamos a definição da OMME no Wikipédia.
A missão da OMME é "contribuir para a
educação dos jovens, através de um sistema de valores baseado na Promessa
Escoteira e Lei Escoteira, para ajudar a construir um mundo melhor
onde as pessoas são auto-realização como indivíduos e desempenhem um papel
construtivo na sociedade". WOSM
é organizado em regiões e opera com um comitê de conferência, e bureau.
Perfeito. Dá a entender bem
que nosso caminho é calcado no método e na filosofia de Baden Powell. Engano.
Se procurarmos lá a vida ao ar livre, razão de ser do movimento Escoteiro quase
não encontramos. Hoje viramos “copiadores”. Copiamos tudo. O passado foi
enterrado. Os valores hoje são defendidos pelos novos dirigentes e escotistas
cuja grande maioria não tiveram a oportunidade de vivenciar o escotismo como
pretendia BP no passado. Saudosistas? Nada disto. Apenas alguém que acha que o
caminho deveria ser compartilhado com todo o efetivo Escoteiro do país. Impossível?
Não. Garanto que não. Outros artigos publicados aqui podem explicar melhor o
que penso a respeito.
Através dos anos as
mudanças foram feitas de tal maneira que absorvidas hoje são consideradas
normais. Organizações outras que não o escotismo não se preocuparam tanto em
mudar como o nosso movimento. Em pouco tempo nos tornamos um movimento moderno,
na visão dos idealizadores da mudança. Passamos a absorver a tecnologia
esquecendo que nosso sucesso era a vida ao ar livre. Feita de maneira simples,
com uma mochila as costas e vivendo a vida mateira de uma maneira salutar que
trouxe enormes benefícios a quem dela participou. De uma hora para outra, as
classes e especialidades foram substituídas em nome de nomes pomposos e os que
viram a transição se sentiram perdidos e só o tempo deu prazo para os acertos
que as mudanças precisavam ter.
Daí em
diante, as mudanças continuaram. Nomes, normas, regulamentos vieram em
profusão. Alguns corretos outros intimidatórios para aqueles que não aceitavam
facilmente as alterações. De vez em quando dou uma olhada no Manual prático de
atuação no regime disciplinar da UEB. Um calhamaço. Fico pensando que movimento
somos para tantas normas disciplinares. Acredito que os seus idealizadores, que
me parecem são “dois” dirigentes bem intencionados tem bons conhecimentos de
direito. Como eu não entendo nada, nada posso dizer.
O tempo passou e estamos vendo um efeito
“sanfona e sazonal” no crescimento Escoteiro. Evasão e baixa procura são fatos incontestáveis.
Um relatório que eu chamei de Dossiê – O Escotismo Brasileiro no primeiro
decênio do século XXI de ´2007 e apresentado pelo Dr. Jean Cassaigneau,
que a pedido da União dos Escoteiros do Brasil, fez um diagnóstico,
perspectivas, proposta e recomendações sobre o Escotismo Brasileiro, não teve
receptividade. Considerei um excelente trabalho. Depois que mostrei a amigos e
publiquei diversos dirigentes vieram contradizer suas diretrizes e outros há
afirmarem que muito foi executado. Discutir o que?
Viajando pelo passado nos
escritos que guardo, pois gosto muito disto, dei uma lida rápida em uma análise
do método Escoteiro, um condensado do Dr. Salvador Fernandes Bertrán, antigo
Comissário Viajante do Bureau Internacional da Boy Scout para a América Latina
que brilhantemente nos mostra um escotismo autêntico, mas que infelizmente irão
dizer que foi escrito lá pelos anos de 1970. Tudo que é passado não vale na
premissa de alguns dirigentes. Mas anotei dois trechos interessantes:
1) Há dois aspectos dignos
de ser considerados: um, que diz respeito àquilo que o Escoteiro aprecia, busca e gostaria
de fazer no Movimento; o segundo, que concerne às qualidades e virtudes que o
Chefe pretende obter do Escoteiro ou nele desenvolver. São dois pontos de vista
que geralmente se confundem. O Escoteiro entra para a tropa por causa das
excursões, os acampamentos, os jogos, etc. O Chefe aproveita precisamente essas
atividades para fazê-lo cumprir insensível, porém progressivamente, a Promessa
e a Lei Escoteira. Para ajudar os meninos a compreenderem o significado dessas
pedras angulares do Escotismo, os assistentes das diversas denominações
religiosas, tem importante papel.
2) Ninguém
melhor que um religioso poderá infundir num menino a noção de seus deveres para
com Deus, contidos na primeira parte da Promessa Escoteira. O Método Escoteiro
não estará sendo aplicado, se não se estimula o cumprimento individual da
Promessa e da Lei; daí, a necessidade de que as Tropas sejam constituídas por
um número limitado de meninos, compatível com esse trabalho pessoal, por meio
do qual o chefe e os religiosos podem conhecer o ambiente em que se desenvolve
cada escoteiro: lar, colégio, comunidade etc.; todo o restante do trabalho
escoteiro será inútil se não se consegue obter por parte do Chefe e dos
Escoteiros, resultados positivos e tangíveis na prática diária da Promessa e da
Lei.
3) Apesar de
várias organizações escolares e militares adotarem também o Sistema de Patrulhas,
por sua enorme utilidade, ainda existem Chefes (?) que lhe são contrários,
baseando-se em vários argumentos completamente ante escoteiros, como sejam: —
"Tenho medo de dar responsabilidade a meus monitores; prefiro fazer as coisas
por mim mesmo, porque saem mais rápidas e Melhores, etc., etc. “Com isto fazem
desaparecer uma das características mais Importantes e típicas do Movimento,
que contribuem para a formação do CARÁTER, constituindo verdadeira Escola de
Responsabilidade.
As melhores
tropas que tenho visitado e as que tem obtido melhores resultados, atingindo
uma maior permanência do rapaz no Movimento, tem sido aquelas onde o Sistema de
Patrulhas preside a todas as atividades. E' muito importante recordar as
palavras do Capitão Roland Philips, que por encargo do próprio B.P. redigiu as
bases originais do trabalho por Patrulhas: "O Sistema de Patrulhas não é
um método para praticar Escotismo: É o ÚNICO MEIO POSSÍVEL". Também se
deve insistir contra o erro bastante comum de acreditar que para aplicar o
Sistema de Patrulhas é suficiente dividir a tropa em patrulhas. Isto é
completamente artificial. E' precisamente a "reunião das Patrulhas que constitui
a tropa".
Assim posto,
fico a pensar se o caminho percorrido e as ideias que vão sendo postas em
prática são validas. Escotistas mais esclarecidos tem feito comentários
diversos. Marketing, Chefes competentes, voluntariado são sempre citados.
Quando virei “gente” no escotismo à sede nacional era no Rio de Janeiro. Com o
advento da capital federal alguns chefes conseguiram que ela fosse transferida
para Brasília. Contam-se aos montes histórias de um e outro, onde muito se
perdeu e a falta de bons dirigentes dificultaram a sua permanência nestas
capitais. Levaram a sede nacional para Curitiba. Quando isto aconteceu
acreditei que lá estava escotistas de alto gabarito. Pelo que dizem, os novos
dirigentes conseguiram uma boa restruturação, sede própria, mas me pergunto – É
o local ideal? Parabéns ao trabalho realizado, mas isto em minha opinião só
implica em uma coisa. A falta de bons profissionais escoteiros. Sempre
trabalhamos com voluntários amadores. Pessoas que apesar de sacrificarem muito
tem outras ocupações. Contam-se nos dedos os Profissionais contratados nos
últimos 40 anos.
A alegação
sempre é que não temos estrutura financeira para isto. Não sei. Acho que
pecamos pelo nosso amadorismo. O profissionalismo no escotismo desde que me
conheço por Chefe nunca teve um desenvolvimento esperado. Tivemos uma época que
os cursos para profissionais proliferaram. Posteriormente quando se admitia um
profissional destes sempre era pessoas ligadas aos dirigentes quando não um dos
próprios dirigentes. Neste caso não estamos copiando nossos lideres
inteligentes do além mar. Um profissional com formação acadêmica, para área
especifica, com um salário específico e complementação através de porcentagens
das doações que conseguir seria difícil? Acho que o difícil é o amadorismo de
todos nós. Além de não termos um plano de carreira, de desenvolvimento, aceitar
um profissional arrolando pessoas importantes, fazendo contatos externos
visando uma expansão planejada, não seria bem visto. Posso até dizer que muitos
se sentiriam diminuídos com suas posições de liderança. Dificilmente um
trabalho bem feito poderia ser realizado. Se até hoje não tivemos um bom profissional
(agora soube de um novo contratado, vamos ver os resultados) para desenvolver o
escotismo em suas diversas áreas não sei como podemos crescer qualitativamente
e quantitativamente. Quando um país do além mar ostenta em seu seio mais de
cinco mil deles, fico pensando onde estamos nestas mudanças estapafúrdias.
De uma coisa eu sei. As ideias
e planejamentos sempre serão feitas a quatro paredes. Alterações, mudanças de
estatutos, regimentos e normas eu não acredito mais. Portanto podemos discutir
o que quisermos. Nada será alterado. Hoje o palavreado e a maneira de conduzir
o escotismo é todo ele feito de palavras e ações que não atingem os leigos.
Aqueles que fazem o escotismo. Conhecendo o novo questionário para Insígnias a
maioria das questões eram burocráticas. Atividades de Patrulha de campo, e
outras importantes foram substituídas pelas normas vigentes, e imaginem, de
muitas normas diretivas e acredito que elas são mais importantes para a UEB. Até
mesmo o Manual prático de atuação no regime disciplinar da UEB está lá. Por quê?
Forma intimidatória? Prefiro não comentar o questionário do passado. Este sim,
visava o conhecimento técnico e teórico do Chefe escoteiro.
Em um artigo de 1957 escrito
pelo Chefe de Campo de Giwell Park, chamado de os Sete Perigos, John Thurman
foi enfático em dizer em um item o seguinte:
Sem dúvida, Baden-Powell
tocou o dedo em algumas das mais formidáveis ideias e práticas que levam os
rapazes a segui-las com entusiasmo, e nos métodos, e modo de manejar e guiar os
rapazes. É por isso que devemos nos manter o mais possível dentro da
simplicidade, da alegria e do entusiasmo que ele inspirou. OS ÚNICOS CAPAZES E
POSSÍVEIS DE PÔR O ESCOTISMO A PERDER SÃO OS PRÓPRIOS CHEFES E DIRIGENTES.
Se nos tornarmos arrogantes, complacentes e a
nos fazermos passar por demasiado autossuficientes, então - e apenas com essas
coisas - poderemos arruinar o Movimento.
Falar mais o que?
Ética profissional é o conjunto de normas morais pelas
quais um indivíduo deve orientar seu comportamento profissional. A Ética é
importante em todas as profissões, e para todo ser humano, para que todos
possam viver bem em sociedade.