“Examinai todas as
ações que se fazem debaixo do sol; na verdade, não passam de vaidade e correr
atrás do vento."
(Textos Bíblicos)
Conversa ao pé do fogo X.
A Legião dos Esquecidos & Altar dos egos e vaidades.
Estou à
procura deles. Alguém sabe onde estão? Porque os procuro em todos os lugares e
não consigo encontrá-los? Agora são outros? Não tem rostos? Não tem nomes?
Desapareceram no tempo? Deixaram de ser alguém como nós? Foram esquecidos na
memória e ninguém mais lembrou que eles um dia foram como nós? Saudades. Muitas
saudades. Difícil não relembrar os momentos vividos um dia. Se eles foram bons
ou maus não importa, o que importa na verdade é a essência que ficou e marcou.
A Organização peca. Eu sei que ela não é consciente e nem viva. Eu sei que ela
é inanimada. Não aproxima de ninguém. Se hoje eles não estão mais ao lado dela
para ela sim, eles se tornaram uma Legião de Esquecidos.
E foram tantos
e tantos. Foram aqueles que deram o que tinham e não tinham pela organização. Eles
fizeram parte da história e a organização esqueceu. Eles sempre diziam que não
era para ela e sim para colher flores colorida nos jardins da juventude. Ah!
Foram pessoas que passaram e se foram. Tiveram seus momentos e de repente
viraram lembranças. Ações que foram geradas no calor de um ideal e hoje, delas
os acontecimentos se acabaram. Mas a organização é implacável. Tem as suas
convicções e dela não abre mão. Ela vive o sonho de seus devaneios de altivez
de pensar que eles aqueles que são a Legião dos esquecidos não tem mais
serventia para ela. Ela sabe que tem sempre uma Legião dos presentes que quem
sabe um dia poderá ir para outras plagas e ficaram também no limbo da Legião
dos esquecidos.
A organização
não lembra que eles um dia foram presentes sacrificaram o que podiam e não
tinham acreditando que ela, a organização estaria sempre ao seu lado. Não foi
assim. Nunca foi. Já disse a organização nunca se interessou por eles.
Interessa sim pelos vivos presentes nas fileiras do altar que jazem nos
escaninhos da organização. Ela se sente bem com a fila que se forma, da
reverência que se faz, do sim e o não sem discordar. Para ela todos os momentos
que eles viveram intensamente acabaram se transformando em memórias tristes que
ela faz questão de apagar e esquecer. Pergunta-se a organização o porquê ela
não os procurou? O porquê ela não mandou pelo menos uma carta, pequena,
simples, sem afetação, com poucas palavras escritas – Obrigado! Você me fez
feliz um dia. Não. Nem isto ela fez e sabemos que ela nunca fará.
Para ela, esta
Legião dos Esquecidos não existe mais. São ignorados, não existe gesto de
nobreza, não importa o que eles fizeram, se sacrificaram os seus que viviam ao
seu redor, se fez dos seus proventos uma doação sem volta. Se ele ficou sem
dormir para domar o vento e que ele pudesse soprar com carinho aqueles que
estavam ali a dormir sob as estrelas. Ele deu tudo que tinha e nunca foi
agraciado e um dia ele achou melhor partir. Tentou ao seu modo achar o caminho
a seguir. Ele não acreditava que todos os momentos vividos intensamente
acabariam se transformando em apenas memórias tristes ou quem sabe alegres.
Para ele agora não vale a pena lutar. Lutar por um ideal. Não o da organização
e sim daquele que criou o espirito aventureiro, que pensou que o amor, que a
força de um ideal nunca seria esquecido. Pensou que ali estava o verdadeiro
caminho do sucesso para formação de caráter. Esta sim foi sua paga quando ali
estava sem um retorno da organização.
São tantos,
são milhares, estão por aí espalhados nesta terra imensa, que Cabral nos
deixou. Eles hoje vivem com suas memórias ainda vivas de um passado. Uma
poetiza sintetizou tudo sobre eles. O tempo. O tempo passa tão rápido. O tempo
deixa para trás, os momentos vividos. Os bons e os sofridos, mas que jamais são
esquecidos. Não há volta, não existe convite de retorno. A Organização não se
presta para isto. Ela não importa de quem chega e de quem se foi. Claro, já foi
dito e falado, ela não é consciente e nem viva e por isto segue seu caminho sem
volta. Não haverá medalhas, não haverá um agradecimento, não existe nos
escaninhos de seu ser qualquer menção a ser lembrada dos que se foram. Para ela
eles são a Legião dos Esquecidos.
Ah!
Organização. Não precisava ser assim. Esta legião podia voltar. Tantas coisas a
ajudar. Quem sabe um sorriso furtivo ajudaria? Quem sabe uma palavra de
carinho? Porque não apagar esta insensatez, esta frieza e pensar que dar as
mãos seria melhor? Sei que não. Não adianta remar sua própria canoa. As águas
revoltas e os turbilhões da vida levaram a canoa e ela se foi para sempre. A
organização esqueceu-se dos remos, agora ela tem quem rema para ela, sempre
será assim, com rumos definidos que não comportam em suas fileiras esta Legião
dos Esquecidos. E eu fico aqui matutando, e copiando Estefani Moury, que dizia,
- E eu continuo olhando as estrelas e lembrando-se do seu sorriso, dos momentos
com você vividos que nunca mais voltarão!
Estou atrás do que fica atrás do
pensamento. Inútil querer me classificar: eu simplesmente escapulo. Gênero não
me pega mais. Além do mais, a vida é curta demais para eu ler todo o grosso
dicionário a fim de por acaso descobrir a palavra salvadora. Entender é sempre
limitado. As coisas não precisam mais fazer sentido. Não quero ter a terrível
limitação de quem vive apenas do que é possível fazer sentido. Eu não: quero é
uma verdade inventada. Porque no fundo a gente está querendo desabrochar de um
modo ou de outro.
O altar dos egos e vaidades existe?
Se você
perguntar irão jurar de “pé junto” que no escotismo não tem. Quando me dizem
isto abaixo a cabeça e dou uma risadinha sem graça. “Minino”! Não ria alto. Será mal interpretado.
Pode ser que eles chamam por outros nomes, mas é um festival de vaidades e altos
egos na nossa associação que poderíamos chamar de o Altar dos Egos e Vaidades Perdidas.
Sei que existe em todo lugar. Mas aqui? Conheci alguns que para falar, se
apresentar faziam trejeitos, voz pastosa ou cavernosa, peito inflado,
firmando-se nos dois pés, cabeça alta e a técnica de “olho nos olho”. Um muito
amigo meu me disse que eles estudavam em frente a um espelho como ficariam mais
apresentáveis. Dias e dias ali. Faziam até discursos para a pasta de dente, a
escova e o sabonete. Espontaneidade ali não existia. Meu amigo dizem-me, isto
não existe mais. Hoje acabou. Todos são “iguais perante a lei”. A lei. Ora a
lei.
Em mil
novecentos e antigamente conheci duas escotistas famosas. Ambas DCIM. Uma em um
estado e a outra em outro. Também havia mais duas, mas distante ainda do
estrelato. Quando se encontravam rajadas de ventos e raios pipocavam por todo o
lado. Mas quem visse de longe veria duas chefes sorrindo uma para outra.
Sorriso perfeito. Sorriso de grandes atrizes de Hollywood. Ah! Ainda bem que o
lobismo ganhava com grandes performances das duas. Eram “feras” na história da
jângal. Eu mesmo fiz um curso com uma delas. Mas não vamos deixar de lado os
DCIMs que pipocavam de estado em estado. Um ar professoral pose de Velho lobo,
não conheci pessoalmente, mas tinham jeito de BP. Alguns diziam que eles sabiam
mais do o Velho fundador. Era assim – Pode galgar escada, mas, por favor, não
me ultrapasse. Aguarde sua vez aqui ou na eternidade. Risos e risos.
Garantem-me
que isto hoje não existe mais. Só vendo para crer. As vaidades fazem parte da
vida. Quem diz que não tem vai direto para um mundo melhor na espiritualidade
ou no céu. No meio dos dirigentes infelizmente ainda existem aqueles vaidosos e
aqueles que querem um dia ter a sua oportunidade também de ter a honra de ser
vaidoso. Nietzsche foi feliz em dizer que a vaidade dos outros só vai contra o
nosso gosto quando vai contra a nossa vaidade. Verdade verdadeira. Participei
em minha vida de algumas centenas de reuniões onde os Grandes Chefes estavam
presentes. Sempre faziam e ainda fazem as reuniões de Giwell. Sem menosprezar o
festival de vaidades ali tinha seu lugar ao sol.
Ei! Espere!
Não vamos generalizar. Conheço milhares que não tem isto. São os abnegados. Os
que dão a alma e o sangue pelo escotismo. São eles realmente que movimentam a
engrenagem desta máquina maravilhosa que é a associação Escoteira. Você
dificilmente irá ver neles, ou ostentando orgulhosamente uma Medalha Tiradentes,
Uma Cruz São Jorge, uma gratidão ouro ou um Tapir de Prata. Não. Estas são
reservadas para outros. Julgados mais importantes para ter este direito. Não me
condenem. Tem muitos que recebem estas condecorações e não são vaidosos.
Trabalham com amor e esforço para um escotismo melhor. Mas os vaidosos! Hummm! Ego
ou egocêntricos? Sem lá.
Toda vez que
escrevo sobre algum tema que machuca na alma, recebo centenas de e-mail, e
perco a conta daqueles que discordam falando francamente onde devia colocar a
postagem. Risos. Paciência. Não sou
daqueles que arrastam frases como “A verdade dói”. Cada um tem a sua verdade.
Mas será que eu já fui um deles? Se fui juro que não fui! Risos. Mas quantos
não correm atrás de um taco a mais. De um cargo a mais. Não preciso dizer. Você
que me lê e não é um deles sabe quem são. São aqueles que quando estão na alta
cúpula e veem você, lhe dão um tapinha, um sorrisinho sem graça, um oi e um até
logo. Estão sempre com pressa. Os grupinhos deles se formam na calada da noite.
Os temas secretos. Mudanças. Nomeações. Escolhas. Fico com Augusto Cury que
dizia – A Vaidade é o caminho curto para o paraíso da satisfação, porém ela é,
ao mesmo tempo, o solo onde a burrice melhor se desenvolve. Risos.
Tenho
saudades deles. Daria tudo para estar presente de novo nas assembleias e nos
Congressos. Adorava no passado a apresentação da equipe em curso. Formados em
linha. Empertigados. Podia ali marcar sem sombra de duvida os vaidosos. Já
pensou? Eu em uma assembleia? Arre! Tremo só em pensar. Irão olhar para mim,
olhos faiscando, dando um risinho sem graça – Você então é o Chefe Osvaldo?
Risos. Turma é ele! Podem bater a vontade! Risos. Sem comentários. Não estarei
lá. A saúde não permite. Tenho medo de ser expulso sem direito a defesa nas
reuniões secretas que ali fazem. São elas sim que deviam ser abertas. Mas o
melhor é ficar aqui. Um ermitão que já deu o que tinha de dar. Chega por hoje.
Os vaidosos que me desculpem, mas prefiro lembrar-me de Jean de La bruyere e
Paul Valéry que diziam - A falsa modéstia é o ultimo requinte da vaidade.
Agradar a si mesmo é orgulho, aos demais, a vaidade.
"A vaidade,
grande inimiga do egoísmo, pode dar origem a todos os efeitos do amor pelo
próximo."
(Paul Valéry)