Conversa ao pé do fogo.
O show de Truman.
Um
show para ninguém botar defeito. Ah! Desculpem não é um reality show. Nosso
amigo Truman que serviu para divertir milhões de pessoas em todo o mundo aqui é
irreal. Quem sabe só ver até que ponto escondemos de nós mesmos as verdades que
ninguém gostaria de ver. Seria a desilusão do show? Pode ser. A realidade para
uns se apresenta como um verdadeiro show da vida. Para outros uma ilusão da
realidade. A felicidade é esta? Perguntam-me. Sim. Você mesmo pode ver a câmara
2 – Ela focaliza um lindo sorriso de um jovem bem uniformizado. Quer maior
felicidade? Parecem emoções reais não? Veja a câmara 1 – Centenas de jovens a
sorrir em uma atividade qualquer. Ei? E a câmara 5? – Ela não mostra aquele
jovem que sonha em ir à atividade nacional e não pode? Ora era só quinhentos e
poucos reais. Quem mandou ser pobre? Corta!
Não
podemos perder nada deste show. Que tal aquela Chefe que foi defenestrada da
tropa porque não aceitou as imposições do seu dirigente do grupo? Valeu seu
tempo a frente da tropa? Valeu seus filhos praticantes do show? Democracia?
Corta! Câmara 9 tente pegar um ângulo melhor na chegada dos jovens a Aventura
Nacional. Este sim é um momento sem igual. Câmara 11 não esqueça, vá de leve à
imagem do dirigente sorrindo como a dizer que a felicidade dos jovens também é
a dele! Camaramen seja prudente, nossa imagem tem que ser mostrada como
realidade. Ela não é um nunca foi uma ilusão ou será que é? Câmara 13! Que
isto? Corta já. Ninguém quer ver a imagem da escoteira sendo suspensa por 90
dias! Ainda mais que seus pais não foram comunicados!
Isto
mesmo câmara 15. Mostre o nosso novo blog. Lá está escrito as belezas de um
Chefe obediente, bem formado. Quem está nos assistindo sabe que a seriedade é
nosso lema. Não é isto câmara 18! De novo? Deixe este Chefe reclamão que diz
ter 33 anos de atividade desiludido a dizer que vai sair. E daí? Quem se
interessa? Deixe que ele se vá. Não precisamos dele! Tantos já se foram e
ninguém incomodou. Muito bem câmara 20. Pegue bem o novo relatório de 2012. Ele
mostra nossa pujança. Só crescendo. Temos que mostrar por imagens que a ilusão
é acreditar que somos o que mostramos no show. Produção! Mande embora o
câmaramen da 23. Já disse para ele não filmar estes chefes “pedintes” de
relatórios de atividades nacionais? Onde já se viu querer ver o balanço
financeiro de tudo? – Melhor assim câmara 28, agora melhorou. Pegue bem a
imagem dos novos dirigentes eleitos daquele estado. Isto vai mostrar a todos
que temos democracia!
Aprendam todos participantes deste show. A distinção entre o passado,
presente e futuro é apenas uma ilusão teimosamente persistente. Não foi o que
disse o Einstein? Portanto temos que mostrar as coisas boas. E só temos boas,
pois os que dizem que temos ruim devem ser defestrados e jogados para debaixo
do tapete. Ética para eles e louvores para nós. – Isto mesmo câmara 31. Um
close em mim! Obrigado. Eu mereço. Mas não digam que os formadores no Brasil
praticamente decidem tudo! Nada disto. Mentira pura! Pare por favor, câmara 34.
Corta! Ninguém quer saber se foi eleito a situação ou oposição. Isto não existe
entre nós! Importa o show. O show da felicidade.
E o show não para. Nem tudo
foi mostrado ao vivo como o de Truman. Já pensou? 24 horas no ar? E nós? Também
temos nosso show? O show dos desiludidos, dos injustiçados, dos desprezados,
que show eim? Mas isto não importa, já dizia Cesar em Roma que o povo quer pão
e circo. Neste show ele é dado em forma de imagens. Sempre positivas. As
negativas? Escondem-se. A menina suspensa, o Chefe expulso, a Chefe
defenestrada, o antigo desiludido, a situação no poder, a doce ilusão da corte,
de ser mais um da casta. Pois é. Foi Goethe quem disse que o maior problema de
toda a arte é produzir, por meio de aparência, a ilusão de uma realidade
grandiosa? Luz! Câmara! Ação! No ar... A maior organização de todos os
tempos!
O povo nunca é humanitário. O que há de
mais fundamental na criatura do povo é a atenção estreita aos seus interesses,
e a exclusão cuidadosa, praticada sempre que possível, dos interesses alheios.