Para os pobres, é dura lex, sed lex.
A lei é dura, mas é a lei.
Para os ricos, é dura lex, sed latex. “A lei é dura, mas estica”.
Para os ricos, é dura lex, sed latex. “A lei é dura, mas estica”.
Existe um velho ditado não escrito
que diz: Nem tudo que reluz é ouro, nem tudo o que balança cai. Interessante e
curioso é que o último desses versos repete textualmente uma máxima de
Montaigne, que diz: - Tout ce qui branle ne tombe pas. Em síntese nada a ver
com o que pretendo escrever. Risos. Mas é interessante, pois folheando frases e
fotos aqui e ali ainda vejo esporadicamente meninos maltrapilhos com um lenço
no pescoço e dizeres lindos como – Eles também querem ser escoteiros. Têm
aqueles outros que já estão em um patamar mais elevado. Ganharam ou adquiriram
uma camiseta com dizeres do grupo (a propaganda é a alma do negócio) e assim se
apresentam como escoteiros. Mas não duvidem eles são realmente escoteiros e já
vi alguém dizendo que não é o uniforme que faz o Escoteiro. Pode ser e
concordo. Mas precisa ser e não parecer ser. Não é assim que dizem da donzela
ou da mulher de Cesar?
Eu não tenho dados concretos, mas
imagino que mais da metade de nossos Grupos Escoteiros são de origem humilde.
Lutam com dificuldade e alguns deles a gente se orgulha em conhecer e visitar.
Dá gosto. Estão bem apresentados e fazem da sua postura um marketing que leva o
nome Escoteiro aos Píncaros da Gloria. Orgulhamo-nos quando o vemos. Mas cada
caso é um caso e não vou generalizar. Em nome da pobreza tem alguns que se
comprazem em se contradizer e insistir na pobreza. Não é difícil fazer
escotismo sem meios financeiros. Os erros natos de alguns dirigentes é querer
mostrar quantidade em vez de qualidade. Sabemos por principio que qualquer
grupo bem estruturado começou com poucos. Isto faz parte da formação escoteira.
Se vamos trabalhar com monitores eles sim serão os primeiros e os demais virão
com o tempo.
Sabendo onde colocar os pés, e
alçando voo aos poucos qualquer grupo Escoteiro poderá ter tudo àquilo que
precisa. No passado estas discussões atuais de que para ser Escoteiro tem de
ser rico não existia. Conheci meninos cujos pais não tinham nada e os filhos
sempre bem uniformizados e com sua tralha escoteira completa. Compete ao Escotista
preparar cada um para que ele acredite em si mesmo, que ele aprenda a andar com
suas próprias pernas e ele claro irá dar valor ao que adquiriu com seu próprio
suor. Não sou muito a favor de sempre dizer que eles nada tem e precisam de
ajuda. Parece esmola. Conheci centenas de grupos que todos pagavam sua taxa
mensal sem problema. Taxa esta que era acessível aos participantes. Foi
combinada e decidida por todos.
Aprender com os outros é bom. Que são
diferentes cada comunidade uma com as outras é real, mas isto não significa que
o Grupo Escoteiro não possa trabalhar com o manancial existente nela. Centenas
de grupos espalhados em todos os estados brasileiros fazem atividades
escoteiras ao ar livre sempre. Acampamentos, excursões, atividades aventureiras
enfim, nunca se apertaram por ser pobres. Portanto não sou muito de ter
comiseração com os que choram e não procuram aprender como acertar. Participei
de três grupos escoteiros em comunidades carentes e fizemos esplêndidas
atividades escoteiras. Conheci jovens que demoraram meses e meses para adquirir
seu uniforme, mas adquiriram. Como líder de uma região escoteira fizemos juntos
com diversos chefes grandes atividades regionais. Facilitamos o mais possível.
O intuito não era e nunca foi o de fazer caixa para a região e sim dar aos
jovens o sonho de conhecer centenas de irmãos e confraternizar em todas as
atividades típicas escoteiras.
Que me desculpem alguns chefes hoje
vejo muitos deles que não dão conta do que podem fazer e realizar. Um Velho
ditado diz que quem quer faz quem não quer arruma uma desculpa. Muitas vezes em
cursos que participei vi alunos apresentando centenas de problemas em seus
grupos de origem. Sempre comentava sobre a velha história escrita por Helbert
Hubbard que escreveu há muitos anos um artigo que ficou marcado para sempre e
até hoje serve de exemplo em todas as nações. Hoje grandes personalidades dão
como exemplo, e surpreendentemente é exaltada em cursos de dirigentes, de
Diretores, de CEOS e tantos outros. Trata-se da Mensagem a Garcia. Um herói da
Guerra de Cuba foi o protagonista de tudo. Vejamos uma parte do artigo:
- Quando irrompeu a guerra entre a Espanha e os Estados Unidos,
o que importava a estes era comunicar-se rapidamente com o chefe dos
insurretos, Garcia, que se sabia encontrar-se em alguma fortaleza no interior
do sertão cubano, mas sem que se pudesse precisar exatamente onde. Era
impossível comunicar-se com ele pelo correio ou pelo telégrafo. No entanto, o
Presidente tinha que tratar de assegurar-se da sua colaboração, e isto o quanto
antes. Que fazer? Alguém lembrou ao Presidente: "Há um homem chamado
Rowan; e se alguma pessoa é capaz de encontrar Garcia, há de ser Rowan".
Rowan foi trazido à presença do Presidente, que lhe confiou uma carta com a
incumbência de entregá-la a Garcia. De como este homem, Rowan, tomou a carta,
meteu-a num invólucro impermeável, amarrou-a sobre o peito, e, após quatro
dias, saltou, de um barco sem coberta, alta noite, nas costas de Cuba; de como
se embrenhou no sertão, para depois de três semanas, surgir do outro lado da
ilha, tendo atravessado a pé um país hostil e entregando a carta a Garcia - são
coisas que não vêm ao caso narrar aqui pormenorizadamente. “O ponto que desejo
frisar é este: Mac Kinley deu a Rowan uma carta para ser entregue a Garcia;
Rowan pegou a carta e nem sequer perguntou:” Onde é que ele está?”“.
Hosannah! Eis aí um homem cujo busto merecia ser fundido em
bronze imarcescível e sua estátua colocada em cada escola do país sem esquecer
também que todos os grupos escoteiros mereceriam tal estátua. Não é de
sabedoria livresca que a juventude precisa, nem instrução sobre isto ou aquilo.
Precisa, sim, de um endurecimento das vértebras, para poder mostrar-se altivo
no exercício de um cargo; para atuar com diligência, para dar conta do recado;
para, em suma, levar uma mensagem a Garcia.
O General
Garcia já não é deste mundo, mas há outros Garcias por aí. A nenhum homem que
se tenha empenhado em levar avante um Grupo ou uma tropa escoteira, em que a
ajuda de muitos se torne precisa, têm sido poupados momentos de verdadeiro
desespero ante a imbecilidade de grande número de homens, ante a inabilidade ou
falta de disposição de concentrar a mente numa determinada coisa e fazê-la. Não
quero de maneira nenhuma culpar aos nossos dignos chefes escoteiros de até hoje
não terem conseguido levar a mensagem a Garcia. Claro sei de muitos que assim o
fazem sem se mostrarem ser possuídos de liderança incomum. Nosso movimento
sofre de uma letargia crônica. Achamos que temos de nos preocuparmos com o
atual e muitas vezes deixamos de programar o futuro, pois só ele nos trará os
resultados esperado. Deixo o final do meu artigo para o próprio Helbert Hubbard fechar com
chave de ouro suas observações e que cada Chefe se coloque na pele daqueles que
são citados não como uma empresa, mas sim como se fosse o seu Grupo Escoteiro
ou sua tropa:
- Leitor amigo, tu mesmo podes tirar a prova. Estás sentado no
teu escritório, rodeado de meia dúzia de empregados. Pois bem, chama um deles e
pede-lhe: "Queira ter a bondade de consultar a enciclopédia e de me fazer
uma descrição sucinta da vida de Corrégio". Dar-se-á o caso do empregado
dizer calmamente: "Sim, Senhor" e executar o que se lhe pediu? Nada
disso! Olhar-te-á perplexo e de soslaio para fazer uma ou mais das seguintes
perguntas: Quem é ele? Que enciclopédia? Onde é que está a enciclopédia? Fui eu
acaso contratado para fazer isso? Não quer dizer Bismark? E se Carlos o fizesse?
Já morreu? Precisa disso com urgência? Não será melhor que eu traga o livro
para que o senhor mesmo procure o que quer? Para que quer saber isso?
- E aposto dez contra um que, depois de haveres respondido a
tais perguntas, e explicado a maneira de procurar os dados pedidos e a razão
por que deles precisas, teu empregado irá pedir a um companheiro que o ajude a
encontrar Garcia, e, depois voltará para te dizer que tal homem não existe.
Conheço um homem de aptidões realmente brilhantes, mas sem a fibra precisa para
gerir um negócio próprio e que ademais se torna completamente inútil para
qualquer outra pessoa, devido a suspeita insana que constantemente abriga de
que seu patrão o esteja oprimindo ou tencione oprimi-lo. Sem poder mandar, não
tolera que alguém o mande. Se lhe fosse confiada uma mensagem a Garcia,
retrucaria provavelmente: "Leve-a você mesmo".
Hoje este homem perambula errante pelas ruas em busca de
trabalho, em quase petição de miséria. No entanto, ninguém que o conheça se
aventura a dar-lhe trabalho porque é a personificação do descontentamento e do
espírito de réplica. Refratário a qualquer conselho ou admoestação, a única
coisa capaz de nele produzir algum efeito seria um bom pontapé dado com a ponta
de uma bota de número 42, sola grossa e bico largo. Sei, não resta dúvida, que
um indivíduo moralmente aleijado como este, não é menos digno de compaixão que
um fisicamente aleijado. Entretanto, nesta demonstração de compaixão, vertamos
também uma lágrima pelos homens que se esforçam por levar avante uma grande
empresa, cujas horas de trabalho não estão limitadas pelo som do apito e cujos
cabelos ficam prematuramente encanecidos na incessante luta em que estão
empenhados contra a indiferença desdenhosa, contra a imbecilidade crassa e a
ingratidão atroz, justamente daqueles que, sem o seu espírito empreendedor,
andariam famintos e sem lar.
Dar-se-á o caso de eu ter pintado a situação em cores demasiado
carregadas? Pode ser que sim; mas, quando todo mundo se apraz em divagações
quero lançar uma palavra de simpatia ao homem que imprime êxito a um
empreendimento, ao homem que, a despeito de uma porção de empecilhos, sabe
dirigir e coordenar os esforços de outros e que, após o triunfo, talvez
verifique que nada ganhou; nada, salvo a sua mera subsistência. Também eu
carreguei marmitas e trabalhei como jornaleiro, como, também tenho sido patrão.
Sei, portanto, que alguma coisa se pode dizer de ambos os lados.
Nosso movimento
precisa de uma sacudidela, de mostrar a todos nós que não estamos vendo tudo
que precisamos ver. Que o ouro que dizem por aí que precisamos para ser
Escoteiro esteja dentro das próprias ideias, dos próprios passos e tenho
certeza que fazendo isto iremos ter um escotismo forte e unido não só em
quantidade, mas também em qualidade.
Essa história de que o dinheiro não
dá felicidade é um boato espalhado pelos ricos para que os pobres não tenham
muita inveja deles.