Crônica de um Chefe
Escoteiro.
Ser ou não ser eis a
questão!
Será que vale a pena?
Todos os dias em me
pergunto. Vale a pena continuar a postar aqui? Sou insistente e não desisto
fácil, mas estou ficando cansado. Os resultados por desconhecer não me dão
muita consistência. Muitos me chamam de contador de histórias, bem é verdade eu
escrevo muitas histórias. Mas só isto? E os meus artigos mostrando novos
caminhos? Alguns sugerindo, outros comentando, outros dando palpites como
fomos, como estamos e como seremos. Verdade? Não. Como fomos talvez sim. Como
estamos sim e como seremos é difícil pensar. Mas voltemos ao contador de histórias.
Quem sabe meus artigos também não são histórias? Aí eu me pergunto será que
sirvo só para isto? Contar histórias? Risos.
É difícil tentar
levar aos novos chefes ideias que não sejam as que eles conhecem e fazem agora.
Dezenas de cursos dão a eles novos caminhos. Eu sei que os resultados para eles
não virá facilmente. Não sei se entendem. São firmes em suas ideias e acreditam
no que fazem e olhe não estão errados. Afinal não viveram como era antes e a
não ser por ouvir falar e não acreditam que era melhor que hoje. E nem pode.
Tudo seria ótimo e formidável no agora, no que fazemos. Quando pergunto quantos
tem alcateias completas, se alguém conheceu alcateias masculinas e femininas separadas
e também completas comparar com as mistas de hoje? E as patrulhas? Unidas por
muitos e muitos anos? Fizeram grandes atividades ao ar livre conforme prescrito
no programa e método de Baden Powell? Ou só podem dizer que ouviram falar?
Fico pensando no
contador de histórias que sou. Lobinho por quase quatro anos, Escoteiro por
mais de quatro anos, sênior mais ou menos três anos, pioneiro dois anos, Chefe
de Alcateia três anos, Chefe de tropa dez anos, de seniores dois, anos, mestre
pioneiro... Putz só seis meses. Várias vezes Diretor Técnico, aos trancos e
barrancos consegui a IM lobo, Escoteiro e Chefe de Grupo. Dois cursos
avançados. Duas vezes Comissário Distrital, Muitas vezes assistente regional,
Comissário Regional por sete anos, membro da Equipe de Formação por muito e
muito tempo, tendo a honra de dirigir mais de duzentos cursos e ter conhecido
mais de cinco mil alunos amigos escoteiros em vários deles. E as cidades e
estados e alguns países que visitei? E os cursos, Indabas, Acampamentos
distritais que fiz com eles? E hoje? Um aposentado. Como dizem por aí, ele é um
simples contador de história. Sabem? Eu gosto disto. Dizem que contar histórias
é uma arte. Mas será que sou arteiro? Risos. Mas eu me preocupo com o
resultado. Não o seu resultado em seu grupo (detesto esta palavra meu grupo,
ninguém é dono de ninguém) e sim o resultado final da formação que estamos
dando aos jovens quando eles se tornarem adultos.
Sabe o resultado que
cobro? Este humilde contador de histórias pensa pequeno. Pelo menos quinhentos
mil escoteiros em nosso país. Muito? Temos setenta e poucos mil e nossos
lideres dão risadas. Isto é motivo de orgulho? A população brasileira que
nasceu nos últimos quarenta anos supera em mais de mil por cento os novos que
chegaram ao escotismo. Será que temos gente que foi Escoteiro em todas as
camadas sociais nos representando e falando bem da gente? Isto não são resultados?
Temos? Quantos CEOS (altos executivos) que nos apoiam nas quinhentas maiores
empresas brasileiras? Alguns deles visitam o grupo onde nasceram? Alguns deles
são escotistas? Isto se eles foram escoteiros que fique bem claro. Quantos
professores reconhecidos em seu meio e na sociedade literária falam bem de nós?
E na politica? Esta é difícil. Não gosto dela. A maioria deles pelo que fazem não
da para acreditar que possam ter sido escoteiros. Ali não se vê nunca o
espírito Escoteiro. Pode até ter um e outro, mas são poucos. Mais difícil ainda
é ver os resultados que esperamos nos órgãos governamentais. Apesar de sermos
apolíticos, vivemos da fonte de renda paga por todos associados. Começando em cinco
reais em algum grupo, tanto para a região e o saldo da UEB. Enquanto em outros
países grandes ex-escoteiros doam somas valiosas ao movimento e centenas de profissionais
Escoteiros trabalham incessantemente na busca de sócios beneméritos aqui nada
disto acontece.
Mas que seja eu sou
mesmo um simples contador de história. Meus sessenta e cinco anos de escotismo
me deram outra visão. Não as mesmas dos amigos escotistas que tem o mesmo tempo
de movimento que tenho. Eles estão em outro patamar. Quem sabe mais elevado que
o meu. Mas isto é bom, é democrático. Daria tudo para ver todos pensando e
sugerindo dentro dos princípios da democracia. Ficar pensando que minhas ideias
são as melhores é formidável. Será mesmo? Não. Não sou o dono da verdade. Já
olhou para dentro do grupo em que colabora e viu os resultados dos últimos dez
anos? Sei que muitos tem o que se orgulhar e outros não. Meus amigos, minhas
amigas, abram um leque, pois o escotismo não é isto que está acontecendo hoje.
Não é. Estão esquecendo em muito o que deveria ser. Eu não contento com pouco. Não
mesmo. Não sou de bater palmas para dirigentes. Eles tem a obrigação de
acertar. Estão representando milhares de associados. O contador de histórias
que sou não deve conhecer muito como poderíamos acertar e diferenciar. E eu
concordo com quem pensa assim de mim. Nunca em minha vida fui de tomar decisões
só. Sempre fiz questão em minha vida escoteira e familiar tomar decisões em
conjunto.
Acho que é por
isto que o contador de historias não é bem visto quando escrevo algum que não
agrada. Peço desculpas. Já pensei em parar várias vezes. Sempre me perguntando
se está valendo a pena. Não sei se vale. Nada mudou e acho que nada vai mudar.
Desculpe dizer, mas a aceitação do hoje nunca vai mudar o amanhã e o passado
foi enterrado sem homenagens. Seguir a pista é ótimo, mas fazer a pista também.
Muitos só sabem seguir a pista. Esqueceram-se de aprender a fazer o caminho a
evitar. É certo isto? E sabem? Continuo pensando, será que vale a pena
continuar? Ou seria melhor ser somente um contador de historias? Bah! Contador
de histórias mais parece um contador de causos nas lindas praças das belas
cidades onde os velhos como eu se reúnem. Contar, narrar apenas para divertir.
Risos.
Desculpem mas
ainda estou pensando se vale a pena. O corpo esbelto do Chefe Escoteiro do
passado (risos) e das fotos de hoje não mostra seu cansaço, sua saúde e até
quando tudo isto vai durar. Mas apesar das mil histórias e contos que contei
nada tem a ver com Sherazade que para não ser degolada contava uma história
atrás da outra para o Rei da Pérsia. As mil e uma noites poderão ser um dia
meus contos, mas eu juro que aprendi um pouco de escotismo e como fazê-lo.
Afinal nem sei por que estou dizendo isto, todos não dizem que eu sou um bom Contador
de Histórias?