Aprendi o silêncio
com os faladores, a tolerância com os intolerantes, à bondade com os maldosos;
e, por estranho que pareça, sou grato a esses professores.
Crônicas de um Chefe
Escoteiro.
Direita volver!
Patrulhamento
ideológico. Um tema difícil de escrever. Nosso movimento tem uma finalidade tão
bonita e tão séria que poucos poderão ter visto ou passado por isto. Até um me
disse um dia que isto é ilógico se queremos ser uma organização disciplinada
sem fins lucrativos e educacionais. Não sei se concordo. Deixemos de lado as
benesses do que o escotismo pode produzir e vamos ver se existe a realidade
neste tema tão marcante. Tenho visto diversos comentários de vários Escotistas e
resolvi comentar. Sempre fui contra, mas sei que existe no nosso movimento
escoteiro. Isto acontece em todos os órgãos Escoteiros. Cada um tem sua
explicação lógica e muitos defendem tal ação com explicações que para mim não
são convincentes. Eu mesmo fui a tempos uma vitima. Não é difícil encontrar um Escotista
que passou por isto. Se você é um desses privilegiados meus parabéns. Eu
conheço centenas de escotistas que passaram ou estão passando. Vejamos o que
dizem como seria um Patrulhamento ideológico:
- Patrulha ideológica ou patrulhamento ideológico é uma expressão cunhada pelo cineasta Cacá
Diegues, em 1978 - Designa uma organização informal de pessoas unidas
por laços ideológicos ou religiosos que tem por objetivo de impor seus ideais a outro
grupo de pessoas, munindo-se de discursos, protestos e reivindicações. Essa atividade se caracteriza por
uma vigilância constante do público alvo.
O patrulhamento pode operar aproveitando-se de relações de autoridade,
como a relação professor-aluno numa sala de aula,
ou mediante abuso de espaço público. O objetivo do
patrulhamento ideológico é convencer o público para que se convença e siga as
normas e critérios dos patrulhadores. As patrulhas ideológicas entendem que a
oposição a suas ideias seja uma espécie de transgressão e
procuram desencorajar quaisquer iniciativas que levem ao questionamento de
princípios ou fatos. O patrulhamento pode empregar técnicas de intimidação, apelo ao medo e
obstrução de espaço público e privado, evoluindo eventualmente para o conflito.
Nicolau Maquiavel definia que as ideologias eram
diferentes "nos palácios
e nas praças", conforme as diferentes condições de vida dos que as
defendiam. Por este motivo, aqueles que viviam "nos palácios" vigiavam seus pares e aqueles "das praças" também o faziam, gerando assim um
sistema de ideias e doutrinas políticas ou sociais polarizadas, criando conflitos.
Se substituirmos os nomes não há como argumentar o contrário.
Poderei dizer também que até o Bullyng vez ou outra é efetuada por aqueles que
têm o poder maior. Vejamos também o que se entende por Bullyng: - Bullyng é
um termo da língua inglesa (Bullyng = “valentão”) que se refere a todas as
formas de atitudes agressivas, verbais ou físicas, intencionais e repetitivas,
que ocorrem sem motivação evidente e são exercidas por um ou mais indivíduos,
causando dor e angústia, com o objetivo de intimidar ou agredir outra pessoa
sem ter a possibilidade ou capacidade de se defender, sendo realizadas dentro
de uma relação desigual de forças ou poder.
Se pensarmos que
dizer Patrulhamento Ideológico ou Bullyng são expressões fortes para insinuar
que temos no escotismo pessoas que agem assim, eu pergunto: quanto de nós já
fomos intimidados para calar ou impedir opiniões ou que outros mais próximos se
manifestem contra as ideias do ”patrulhador” chamados de intolerantes ou
defensores de outra ideologia que não a nossa? Com este processo se faz a
neutralização dos intelectuais ou não adversários ou mesmo indiferentes, por
meio da crítica tendenciosa ou mesmo pela desqualificação pessoal do adversário
visado. Dizem que temos liberdade de nos expressarmos, temos normas para exigir
o direito de defesa, mas continuamos sem ação e penetração no que discordamos.
Impossível contradizer pelo debate, pela discordância ou crítica racional, e
então somos anulados sem discussão, e dificilmente aceitam democraticamente a
opinião contrária ou discordância.
Outras vezes
os “patrulhadores” procuram desqualificar o opositor, pois este é o processo
ostensivo mais usado no patrulhamento. Não se procura discutir com clareza as
ideias e nem se critica o pensamento expresso pelo intelectual democrata. O que
se busca é desprestigiar o autor, retirar-lhe a autoridade e idoneidade, para
invalidar a obra ou pensamento. Claro somos geralmente estigmatizado como um
ser “reacionário”, ou ser de “direita”, “fascista”, “autoritário”, ou mesmo não
acreditarmos que a liderança é a melhor, tem resultados e não procuramos
compreender seu trabalho e aceitar a disciplina que nos ensina nossa Lei e
aceitação das normas estatutárias de nossa organização.
Isto nem
sempre acontece às claras. Muitas vezes um comentário de um dirigente ou um
palestrante deixa implícito o que pensam os “patrulhadores” e se o infeliz
opositor tiver “telhado de vidro” com certeza pode até ser crucificado
publicamente ou não. Dificilmente sabemos o que foi decidido nas Comissões de
Ética, feita muitas vezes sem direito de defesa e até casos que o “acusado” nem
ficou sabendo que estava sendo julgado. Quando nós estamos fazendo nosso trabalho
voluntário, pensando que estamos colaborando, nos sacrificamos com tempo, com
nossas finanças e muitas vezes contrários ao que pensam amigos e familiares e
somos sujeitos a tais patrulhamentos não é muito fácil aceitar.
Como
ex-adestrador ou formador, vi como havia muitos na equipe a desclassificar um
ou outro aluno só porque ele não concordou com o que dizia o palestrante. Sem
conhecer o aluno/Escotista no seu hábitat era ele submetido a um Bullyng e que
dificilmente teria condições de se defender ou se explicar, pois seus atos
foram interpretados dentro da norma estatutária sem direito de defesa. Sem
generalizar isto acontece em grupos, distritos e regiões e qualquer um de nós
podemos narrar fatos acontecidos com companheiros nossos. É comum em alguns
Grupos Escoteiros uma ação mais efetiva dos “patrulheiros”. Difícil fazer
escotismo assim. Que liberdade é esta?
Poderia ficar
aqui e dar dezenas de exemplo, mas vou me segurar em um deles. A ortoga da Insígnia
de Madeira. Vejam sem generalizar, pois centenas são entregue normalmente claro,
deste que o agraciado seja associativo, disciplinado e coerente em suas ideias
com a Associação. Se o futuro agraciado não coaduna com as normas impostas se
ele é considerado “arrogante”, ou mesmo se é antipatizado pelos seus superiores
hierárquicos então o patrulhamento se faz presente. Um silencioso Bullyng, sem
ser alertado e o tempo vai passado até quem sabe um dia algum outro
substituível resolve que o Escotista tem direitos. No entanto na maioria das
vezes o agraciado se cansa e resolve desistir. Quem sabe a demora foi uma forma
de forçar tal situação. Uma situação deveras suis-generis, pois nos cursos que
passou foi aprovado sem restrições.
Existe uma
subserviência entre os membros na cadeia hierárquica que assusta, pois ela é
feita com sorrisos e salamaleques, mas impositiva. Um Escotista que não coaduna
com o sistema dificilmente terá condições de lutar por seus direitos na
nave-mãe. Nunca sera eleito, nunca será aceito ou convidado para nada na Corte.
A “casta” se fecha para ele por mais qualidade que ele possa apresentar. O
sistema com seu patrulhamento ideológico já fez dele um leviano, um
desacreditado e ele será sempre um pária por toda a vida escoteira, claro, se
não mudar sua linha de pensamento. A quase totalidade aceita sem discussão toda
a norma impositiva e sabe quem sem isto é melhor deixar as fileiras da
organização. Muitas vezes a luta não significa nada para os patrulhadores, pois
eles têm a maioria dos associados concordando com todos os atos e conduta
exigida pelas normas estatutárias. Como diziam os generais-ditadores do passado
– “Escotismo, ame-o ou deixe-o”!
Podemos
facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da vida
é quando os homens têm medo da luz.