Conversa ao pé do fogo.
A modernidade não tem
preço.
Como dizia o Cantor Cazuza, o tempo não
para. Não para mesmo. A cada dia somos surpreendidos por uma nova técnica, uma
nova ferramenta, uma máquina qualquer para nos levar a mundo de sonhos. Fico a
pensar se posso acompanhar tudo isto, pois sei que o mundo corre
vertiginosamente em busca de si mesmo. Será verdade? Nós os mais velhos que
vimos outras gerações ficamos estupefatos. São fatos estupendos acontecendo a
cada momento. A gente se sente sem ação, estamos vendo algum que não tem como
impedir e será que vale a pena proibir? Albert Einstein comentou um dia que o
homem erudito é um descobridor de fatos que já existem – mas o homem sábio é um
criador de valores que não existem e que ele faz existir. Belas palavras
principalmente valores. O significado da palavra valores podem significar
merecimento, talento, reputação, coragem e valentia. Assim podemos afirmar que
valores morais afetam a conduta das pessoas. Isto quem sabe poderia ser regra e
não exceção para uma convivência saudável dentro de uma sociedade.
Nós os antigos estamos atônitos.
Agora aparecem valores que nos assustam. Impossível hoje aceitar tantas
mudanças que dizem ser produto da modernidade. A juventude corre em passo célere
atrás desta modernidade. Seus valores hoje são outros. Estamos assistindo pela
TV um escritor que tem suas ideias e acha que o mundo é outro, nos joga em
nossa sala situações que nós antigos assustamos. Os jovens não. Compram aquelas
ideias como se fossem reais. Que estão vivendo. E não se rebelam com os pais. A
mulher que fica com vários, o homem que trai e chega a ponto de trocar de
mulher quando é descoberto em um motel. No passado se via um filme onde se
proibia a presença de menores e lembro-me de um que não consegui assistir. E
Deus criou a mulher com Brigitte Bardot ou então O último tango em Paris com
Marlon Brando. Ficávamos em frente ao cinema olhando as poucas fotos exposta e
vendo os privilegiados que entravam.
Hoje só se vê o bandido que matou. O
menor que tirou a vida de um pai trabalhador. O jovem que matou sua família.
São tantos que é difícil enumerar. Mas faz parte da modernidade. Lembro na
minha cidade onde o Delegado colocava em fila na rua os prisioneiros e os
obrigavam a gritar seus crimes – Roubei galinha! Dei uma surra na minha mulher!
Matei o bode do compadre Mateus! A gente ficava horrorizado com estes crimes
horrendos. Depois o delegado soltava com juras de nunca mais fazer aqui. Ainda
jovem lia que na Suécia se podia dormir no quarto da namorada. Hoje prefiro nem
falar. Para muitos isto é normal. Mas conheço um número enorme de pais que não
aceitam. O moderno hoje será passado amanhã. Eu sei disto.
Lembro-me de um artigo que escrevi um
dia quando li um pequeno livro de Baden-Powell em 1938: - Hoje a instrução está enfrentando novas dificuldades. Um instinto de
distração sempre mais forte, os efeitos perniciosos dos jornais em busca do
sensacional, os filmes pornográficos e o fácil caminho para os prazeres sexuais
e pôr fim à paixão do jogo. Com o moderno crescimento das cidades, fabricas
rodovias e linhas telefônicas, e de tudo aquilo que chamamos “civilização” a
natureza é mais afastada ainda das pessoas. Suas belezas e seus milagres se
tornam estranhos as nossas afinidades pessoais com a criação divina e se perdem
na vida materialista das multidões, com suas deprimentes condições entre as
espantosas construções erguidas pelo homem. A natureza vem sendo expulsa para
fora da nossa vida e é substituída pela artificial e graças à bicicleta, ao
carro, ao elevador, as nossas pernas acabarão pôr atrofiarem-se pôr falta de
exercícios e os nossos filhos terão cérebros maiores, mas sem músculos.
Realmente é difícil
acompanhar. Tradições do passado são jogadas as traças. A liberdade é tanta que
padrões que tínhamos acabaram. Horário para dormir, horário para sentar a mesa
com toda a família reunida, horário para as obrigações religiosas e claro
horário para estudar e ir a escola. Os crimes, as desobediências, a liberdade
de ação do jovem hoje sempre tem uma explicação pelos pedagogos e psicólogos.
No escotismo não é diferente. Tudo está mudado. Dizem que é para melhor. Deve
ser. As tropas estão completas, o sistema de patrulha é um primor. Os monitores
nunca estiveram tão bem formados. E as alcateias? A maioria cheia. As vagas
aumentam dia a dia. Cada grupo tem uma lista de espera enorme. Os jovens do
movimento hoje vibram com seus programas. Eu me pergunto se isto é real. Um
dirigente foi franco comigo que temos que mudar, não podemos perder o bonde da
história. Concordei com ele é claro. Mas estão indo depressa demais. Bonde anda
mais devagar. Olha onde pisa. Verifique, veja se está no caminho certo.
Não acho certo ficar
alardeando o passado. Acho certo sim que ele fosse mais respeitado. Havia
coisas interessantes que juntas ao escotismo moderno como querem dizer seria
muito importante para toda a nação escoteira. Mudaram muito e ainda vão mudar.
Muitos não estarão aqui para ver se o seu trabalho teve êxito. Chorar o leite
derramado é ir contra o vento que não para e devemos seguir para não ficarmos
como atrasados. Pena que nesta mudança, nesta modernidade que muitos querem
acompanhar não esteja presente à democracia que cresceu com a participação de
todos. Nosso movimento, uma organização sem similar na formação de jovens ainda
está em pé na estação esperando os dirigentes convidarem para também subirem no
vagão da jornada que os levará ao sucesso absoluto. Ainda é um vagão de poucos.
Nem tudo que BP disse no
passado pode ser aplicado no presente, mas seu sonho, de unir por uma lei, por
uma promessa, por um método jovem de todas as partes do mundo, tentando fazer
com que esta fraternidade seja feita de paz e felicidade este irá prevalecer
para sempre. Suas palavras mesmo de décadas atrás não podem ser esquecidas. Que
os nossos dirigentes tão ciosos nas mudanças se lembrem disto quando passarem
muitos anos se tudo que fizeram, os resultados serão os esperados. A história
irá julgá-los.
- “É somente pelo resultado e não pelo método que se julga a instrução”.
Até alguns anos atrás, estes resultados eram de homens e mulheres de boa
conduta, disciplinados, gente boa como se fosse soldados em parada militar,
porém, sem personalidade nem força de caráter e totalmente provados de espírito
de iniciativa ou de aventura e incapazes de se “virarem” BP.
A riqueza de uma nação se mede pela riqueza do povo e não pela riqueza
dos príncipes. Adam Smith