Então vai, fala à
vontade que eu nem me estresso
To nem ligando na humilde eu já nem te impeço
Porque tu falas de mim mesmo se eu não peço
Adora falar dos fracassos e se cala com meu sucesso
E eu sei que quem conta um conto aumenta um ponto
E a tua língua afiada nunca me dá um desconto
Desculpa, mas assim só vai arrumar um confronto
Teu papo não é reto e de tanta curva eu já tô tonto.
Porque tu falas de mim mesmo se eu não peço
Adora falar dos fracassos e se cala com meu sucesso
E eu sei que quem conta um conto aumenta um ponto
E a tua língua afiada nunca me dá um desconto
Desculpa, mas assim só vai arrumar um confronto
Teu papo não é reto e de tanta curva eu já tô tonto.
Crônicas de um Chefe
Escoteiro.
Os dois lados da razão.
Para mim o
escotismo tem duas interpretações. Uma há que eu vivi no passado, um escotismo
livre, sem amarras, sem lideres nacionais a dizerem o quer fazer ou como fazer.
Certo ou errado era um escotismo audacioso, cheio de sonhos aventureiros, fazer
fazendo, gostando da chuva, do vento, das marchas em montanhas e afins. A outra
é a de hoje, um escotismo dirigido por adultos, dizendo o que fazer e como
fazer. Eles decidem tudo para os jovens, escrevem normas, planejam programas,
se vangloriam quando criam programas, uniformes e afins. E os jovens? Aos
poucos vão sendo alienados com uma perspectiva que não leva a sonhos
aventureiros, a molhar na chuva. O medo do adulto mau, da marginalidade, do
acidente imprevisível deu outra conotação ao escotismo. Os jovens não podem
mais respirar a liberdade de correr pelos campos com suas bandeiras ao vento.
Ou será que pode?
Um era o
escotismo de decisão, de poder ter responsabilidade na infância e o outro
submisso, recebendo tudo nas mãos e nunca podendo opinar. Criaram até uma
organização que chamam de Jovens Lideres. Estes têm entre 18 a 26 anos. Jovens?
Bem eles dizem nossos dirigentes opinam, decidem são consultados e os outros
que não tem esta idade? Não podem opinar. Recebem tudo pronto e é como lhe
dissessem – Aceite, é para você se divertir! Se não gostar é só pedir para
sair. Infelizmente um escotismo ficou no passado, o outro enraizado no
presente. São os dois lados da razão. O de hoje sabe que não vai mudar nada do
que foi no passado e o de ontem sabe que nunca irá prevalecer para o presente.
Um domingo qualquer lendo a Folha de São Paulo me deparo com um
artigo de um articulista que escreveu seu relato de escotismo na Revista da
Folha. Seu nome? Fabricio Corsaletti. Ele reveza um domingo sim outro não com
outra articulista. Chamou-me atenção o que ele escreveu. Transcrevo abaixo o
artigo completo:
Ilha solteira e depois.
Uma vez por ano os escoteiros do Brasil inteiro se reuniam em
Ilha Solteira, na divisa com o Mato Grosso do Sul, numa espécie de congresso
nacional de pirralhos acendedores de fogueira, armados de facões e canivetes e
com chapéus iguais ao dos Guardas Florestais do Zé Colmeia. Mas eu não estava
me sentindo bem. Era o meu terceiro acampamento desde que tinha entrado pró-escotismo,
o primeiro em Ilha Solteira, e no instante em que soquei minha mochila no fundo
da barraca eu soube que estava a um passo de desmoronar. Escoteiros são um
pouco como militares: Machos, implacáveis e contrários a grandes variações de
humor. E meu humor estava por um triz.
Quando entrei no banheiro de ralos entupidos, onde outros trinta
meninos tomavam banho, e a água subiu quase até meu joelhos, tive que fazer
força prá não chorar nem vomitar. Senti falta de casa. Meus olhos se encheram
de lágrimas. Se alguém percebesse, eu estava morto. Por sorte, naquela noite
chegaram as bandeirantes, as escoteiras. Agora a minha saudade não era mais de
casa, mas sim de um único cômodo, o quarto da Paula, lugar de reunião de suas
amigas, que me deixavam ficar sentado num canto, ouvindo a conversa delas. A
lembrança do quarto da minha irmã me deu forças; entre as bandeirantes eu
também ficaria à vontade. A vida voltaria a fluir.
Enfiei-me no meio delas, e a mais alta como que se iluminou.
Tinha a pele morena e lisinha feito um Danette de chocolate, sobrancelhas
grossas, olhos pretos muito vivos e pernas compridas dentro de galochas
vermelhas. Era séria. Devia ser profunda. Provavelmente estava odiando aquela
confraternização idiota. Fiquei empolgado por tê-la descoberto. Tomamos um
sorvete na cantina do parque em que estávamos acampados. Contei a ela que ouvia
Ramones, que andava de skate e que tinha problemas com o Chefe da minha
patrulha. Eu tocaria fogo no acampamento se ela quisesse. Eu a acompanharia até
o Alasca e além.
As minhas perguntas ela respondia de maneira vaga, estranha.
Hoje sei que essas perguntas giravam em torno de um mesmo tema e poderiam ser
resumidas assim:
- O que um docinho como você veio fazer nesta pocilga? –
Acontece que o docinho era filha do Chefe mais pentelho, o gordão de risada
sinistra, e se vangloriava de ser uma bandeirante exemplar. Cumpria as leis de
Baden-Powell (infelizmente não o musico) à risca. Não tinha uma única gota de
romantismo no sangue. Sua fama (quem foi o animal que me contou tudo isso?)
corria o sertão de Goiás. Lembro que o nome de Corisco foi citado.
Na noite seguinte a cangaceira juntou três amigas. Elas subiram
no palco (não era o prenúncio das P. Riot acreditem), pegaram o microfone e
gritaram em uníssono:
- Fabrício de Santo
Anastácio você não é um Escoteiro de verdade! – Nem escoteiro nem nada e cada
vez mais propenso à mudança de humor. Mas por que resolvi desencavar essa
história? Porque há um clima de escotismo no ar. No meu bairro ou nos jornais,
nas rodas literárias ou no Brasil e no mundo.
- Não custa ficar esperto.
Fico
matutando se o jovem Fabrício não teve uma infância escoteira feliz. O que
escreveu não machuca, não desfaz o sonho dos jovens. Mas será isto o escotismo
que queremos? Quando teremos jovens como o Fabrício fazendo um bom escotismo,
amando-o como se ama a si mesmo, e crescendo vai alardear aos quatro ventos o
que é o verdadeiro escotismo? Já vi outros escrevendo e até um que denegriu e
muito a imagem do Movimento Escoteiro. Nunca teremos apoio de autoridades se
elas não fizeram um escotismo puro como queria BP. Dependemos de um e outro que
escrevem o que acharam e a maioria de hoje não tem boas lembranças. Dependemos
muito de normas, de programas que não foram idealizado pelos jovens. Sempre
temos aqueles que não viveram o escotismo de antes e enxergam somente o de
hoje. Não os culpo. Fazem o que aprenderam e defendem com unhas e dentes aquilo
que lhes foi ensinado.
O mote de Baden-Powell que dizia: - É uma pena que um homem
tenha que viver sessenta anos para adquirir alguma experiência de vida e a leve
para o túmulo, cabendo aos que o seguem começar tudo de novo, cometendo os
mesmos erros e enfrentando os mesmos problemas... Sem nada mais a dizer!
Sim, sou eu, eu
mesmo, tal qual resultei de tudo,
Espécie de acessório ou sobressalente próprio,
Arredores irregulares da minha emoção sincera,
Sou eu aqui em mim, sou eu.
Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.
Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.
Espécie de acessório ou sobressalente próprio,
Arredores irregulares da minha emoção sincera,
Sou eu aqui em mim, sou eu.
Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.
Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.