Crônicas de
um Chefe Escoteiro.
Uniformes.
Vale a pena usá-los?
Uma vez li que o uniforme é um item
prático para uma organização. Considerando que as roupas são caras e desgastam,
e claro pensando que nossa organização não é um desfile de modas, usar o
uniforme evita situações constrangedoras com roupas sujas e rasgadas. Será que
é só isto mesmo? Dizem que o uniforme identifica a pessoa que o está usando e
sua organização. Dizem ainda que mostra se somos organizados, se somos
disciplinados e que “vestimos a camisa” da nossa organização. Envergonhar do
uniforme é não ser merecer em participar do que escolhemos como meta de vida. Ou
nos identificamos como membro da equipe mostrando que fazemos parte ou então o
melhor é desistirmos. Pensando que somos Escoteiros e somos conhecidos por um
uniforme mesmo que ele tenha sido desmembrado em dois ou mais ainda é este que
nos identifica. Melhor ainda, todos pensam que os Escoteiros são jovens obedientes
e disciplinados, que temos uma formação de ajuda ao próximo e que somos alegres
e claro, o velho chavão de nossa palavra. Palavra de Escoteiro, não é o que
dizem?
No entanto noto que muitos não levam a
sério a uniformização. De uns tempos pra cá, a liberdade tomou conta de nossa
associação. Cada grupo (sem generalizar) usava ou ainda usa o que o Chefe se
mostrou exemplo. Ele mesmo costuma dizer que todos devem portar uma camiseta,
do grupo é claro, com cores diferentes entre os demais e muitas vezes esta
camiseta representa o Grupo Escoteiro o que não é verdade. Assim o costume se
tornou inglório para nossa apresentação a sociedade. Algumas vezes inquiri
educadamente um ou outro perguntando por que não estão de uniforme naquela
atividade aventureira. – Resposta: - Chefe é para não sujar ou gastar! Bom
isto. Uma resposta à altura. Mas será mesmo verdade? Gastamos muitas vezes uma
quantia que não é pequena para fazermos um uniforme. Se notarmos bem usamos uma
vez por semana, por menos de quatro horas. Nos acampamentos a maioria das
sessões quase não o usa. Se uma patrulha está a pé ou fazendo uma jornada
aventureira, seria deste que disciplinados, um dos mais perfeitos marketing do
escotismo. Um chamariz enorme para os jovens que veem e não participam, isto se
estivessem bem uniformizados. (quantas jornadas ciclísticas eu fiz sempre com o
uniforme e o chapéu? Foram mais de trinta e algumas percorrendo 400 km ou
mais).
Houve uma época que fazíamos questão
de estarmos bem uniformizados. Fazíamos questão de nos mostrar em público não
como hoje que tem chefes, pioneiros e seniores dando exemplo de levar em uma
sacola ou guardar na sede e vesti-lo lá. Vergonha? Se é isto ele não é
merecedor de participar do nosso movimento. Lembro que já lobinho passando para
Escoteiro não tive a sorte de fazer a promessa no mesmo dia da passagem (hoje é
comum isto). Meu uniforme de Escoteiro só seria usado quando da promessa. Era
ponto de honra na tropa. Ninguém vestia peças sem estar devidamente promessado
e preparado para vesti-lo. A liberdade tomou conta e hoje é comum um de calça
curta, ou a camisa fora da calça, sem o lenço ou até com o lenço, mas sem a
promessa. Quem vê aquele jovem na comunidade não entende bem a disciplina e o
orgulho de participar de um movimento maravilhoso como o nosso.
Quando existem normas severas
para isto então nossa apresentação em publico se torna respeitosa e somos
reconhecidos como um movimento sério e educativo. Se o Grupo conseguiu com que todos
os participantes se uniformizassem não existe desculpa para que eles não se
apresentem assim. O jovem ou a jovem que teve um inicio dentro de padrões de
apresentação, de aceitação das normas e só quando fizerem suas promessas irão
vestir o uniforme então ele será motivo de orgulho por toda vida escoteira.
Quando o adulto se mostra desleixado, quando ele dá exemplo de “invencionices”
de peças ou distintivos e cobertura ele nunca poderá cobrar dos jovens a
postura que se espera de um membro Escoteiro.
Muitas vezes noto que o próprio adulto
desconhece as normas ou se faz por desconhecer. Ele é o exemplo e sabe que o
que fizer será motivo de copia por todos que estão a sua volta. Lembro com
saudades que levávamos a sério a uniformização. A inspeção inicial e final era
severa. Nos acampamentos não se aceitava desculpa. Tinhamos que aprender a
lavar e passar “a escoteira”. (Dois ou três galhos esticados com as peças
durante a secagem). Lá também nas
atividades ao ar livre nunca saímos do campo sem o uniforme. Permitia-se que ficássemos
de camiseta nas horas de tempo livre. Eu mesmo mandei de volta para casa jovens
que chegavam à sede com o uniforme mal apresentado ou que não fizeram suas
promessas. Errado? Não senhor! Ele quando entrou sabia como se portar. A
disciplina começa na sede e se ela não existe o jovem não terá nunca o que
pretendemos para sua formação.
Um chapéu de abas largas e retas (aprendíamos
com o Monitor como fazer), meias bem postas com listas retas, sapatos
engraxados ou tênis preto limpos e nunca sem cor. A camisa e a calça fazíamos questão
de nós mesmo passar. A mamãe do lado ensinando. Assim íamos aprendendo a fazer fazendo.
(eu comprei todo meu material engraxando sapatos). Podem dizer que os tempos
são outros. Se são estão errados. Estes tempos não estão trazendo então o que
sempre sonhamos. Um escotismo respeitado, com uma comunidade participante e
acreditando que ali seus filhos iriam aprender a ter civilidade, obediência,
disciplina e agindo por sí próprio sem depender sempre dos outros. Tudo é
questão de ver em que lado estamos lutando. Do lado do que pretendia
Baden-Powell ou do lado do bem querer e fazer o que bem entender em nome dos
modernos tempos. Se isto trás resultados eu desconheço.
Não importa o uniforme que vestimos.
Temos que ter orgulho dele em qualquer hora. Ele foi feito para nos representar
e isto só nos deve trazer alegria em dizer: - Sou Escoteiro e me orgulho.
Quando me disseram que muitos jovens não entravam no escotismo porque achava o
caqui ridículo eu fechado em mim mesmo dizia: - Graças a Deus que eles não
entraram. Não nos seriam úteis e iriam um dia ou outro mostrar que os Escoteiros
não se orgulham da sua organização. Dizem que com a nova vestimenta, mais
moderna eles agora iram participar. Que Deus nos ajude para que eles não nos
tragam a má impressão que já estamos vendo – Calça curta, comprida, camisa
dentro da calça e fora da calça, calçado a escolher, meia branca preta ou
qualquer cor. Lenço amarrado na ponta, cobertura a escolher. Espero mesmo que
os que forem vestir a vestimenta que se orgulhem do seu uniforme. Só assim um
dia poderemos dizer que nossa organização tem tudo para modificar o Brasil!
E para terminar, levamos dezenas de
anos para que a sociedade nos reconhecesse com o uniforme caqui. Agora vamos
começar tudo de novo com a vestimenta. Se ela não for bem apresentada ao publico
o escotismo vai perder e muito com o que esperamos das autoridades ou seja, o
reconhecimento que somos um movimento sério e disciplinado, de formação e
educação de jovens e que a sociedade reconheça que investir nos seus filhos no
escotismo é um passo enorme para um Brasil grande!