Fundamentalistas
dão um toque de arrogante intolerância e rígida indiferença para com aqueles
que não compartilham suas visões de mundo.
Umberto Eco
A
Santa Inquisição Escoteira.
Significado de Inquisição
Ato de inquirir, de pesquisar. Esforço empreendido pela Igreja Católica no
sentido de identificar e punir hereges, ou seja, pessoas que professavam
crenças diferentes dos ensinamentos da Igreja. A Inquisição teve lugar em
muitos países da Europa e em suas colônias, mas a que ficou mais conhecida foi à
espanhola.
(Cada ideologia tem a inquisição que
merece)
Millôr Fernandes.
Estou preocupado. Quem sabe
estarrecido. Primeiro a UEB cria um Manual Prático de Atuação, com mais de
sessenta páginas, dizendo como se deve proceder em casos de faltas
disciplinares praticadas pelos sócios, membros pertencentes à organização.
Claro, feito a três mãos. Agora através de informes, resoluções, processos
civis entre outras está fazendo uma verdadeira caça às bruxas, daqueles que se
recusam a aderir ao seu esquema de escotismo, praticado no Brasil. De acordo
com suas ponderações, ela é dona de tudo que diz respeito ao Escotismo. Dona do
nome, da promessa, da lei, registrou tudo no INPI, (Instituto Nacional da
Propriedade Industrial). Com sua maneira autoritária, abre processo a torto e a
direito. Quem não quer pertencer a ela que faça escotismo com outro nome e
outras leis e promessa e ache um novo fundador.
Fico perplexo, pois me
lembra da Inquisição. A Santa inquisição foi criada nos anos 1160 e se estendeu
até o século passado. Uma espécie de tribunal religioso criado na Idade Média
para condenar todos àqueles que eram contra os dogmas pregados pela Igreja e
aqueles que desejavam professar uma nova religião.
E o
que é pior, os sócios membros da UEB estão assistindo a tudo sem se
manifestarem, deixando que uns poucos da liderança se transformem em um “Tomás
de Torquemada” (o maior dos inquisidores de todos os tempos) a abrir processos
a torto e a direito, chegando ao cúmulo de exigir pagamentos em dinheiro por
cada membro da outra organização. Nunca pensei que chegaríamos a este ponto. Sei
quem tem centenas para defenderem a posição da UEB. Sei que ela até pode ter
razão em algumas situações, mas chegar a isto?
Há dias fiquei pensando se não posso estar errado. Afinal a UEB conforme
já comentei acima, tem todos os nomes e eventos registrados aqui no Brasil no INPI.
Mas isto é certo? Será que Baden Powell assinaria em baixo estes processos? Eu
nunca soube que ele tinha dado preferência a este ou aquele e pelo que saiba
não legou a ninguém o direito de considerar proprietário de suas normas,
nomenclaturas, métodos e assim por diante. Não discuto o direito da UEB quanto
as suas publicações, distintivos e outros que através de sua Loja Escoteira
produziu. Mas estão indo longe demais. Um amigo tentou me mostrar que se a UEB
for vitoriosa, todos nós teremos a ganhar. Os próprios jovens das outras
organizações poderão usufruir de um escotismo melhor etc. Palavras dele. Só esqueceu-se
de dizer que a UEB pode perder e está perdendo. Faz parte do jogo democrático.
Esqueceu-se de dizer também se os jovens não estão satisfeitos onde estão e não
querem mudar.
Se eu não estou
satisfeito com as diretrizes estatutárias e regimentais, se eu não tenho
nenhuma condição de alterar ou sugerir (apesar de que insistem em dizer que
sim) não posso me rebelar? Não posso fazer uma organização de um escotismo que
sempre acreditei que deveria ser? Liberdade de expressão? Democrático isto? Mas
eu fiz uma promessa, me chamo de escoteiro, tenho no meu coração a lei e agora
vou mudar tudo? Chamar-me de explorador, aventureiro, ou seja, lá o que for?
Não posso concordar com isto. Se assim o for então todos são hereges. Todos
somos ortodoxos. Não pode ser a fé que um movimento oferece que conta. Conta à
esperança que se propõe (Humberto Eco).
Enquanto países tentam se
entender, ou unificando ou respeitando as individualidades, aqui é diferente.
Processos correm de norte a sul. Já houve casos que a UEB perdeu em duas ou
mais instâncias e continua recorrendo. Sei que tem milhares de explicações de
ambas às partes, mas quando isto chegar à imprensa será um prato cheio. Já
temos exemplos de outros países com a pedofilia, acidentes mal explicados e
agora está luta para ser a proprietária de um nome histórico. E olhe alguns lá na
direção tem uma arrogância tão grande que somente há poucos meses informaram
aos seus associados das providencias que estavam tomando. Lembro-me das
diretrizes dadas pelos presidentes autoritários da revolução de 64. Uma enorme
falta de respeito. Coloco-me na pele de um Chefe Escoteiro que tenta mostrar
aos jovens de sua tropa ou alcateia que somos fraternos, amigos e irmãos dos
demais escoteiros em todo o mundo, mas o Grupo Escoteiro que existe no outro
bairro não. Eles são nossos inimigos.
Não sei até onde isto
irá levar. As outras organizações não cruzaram os braços. Os processos estão
correndo. Enquanto eles não se ajoelharem e pedirem perdão conforme preceitua
os mandamentos da inquisição, poderão ser levados a fogueira. Se criarem novos
nomes, novas leis, novas promessas e um novo Baden Powell, quem sabe poderão
escapar. Eles nunca serão nossos irmãos. Eles nunca serão nossos amigos. Como
dizem por aí? “Aos amigos, tudo; aos inimigos a lei”? Não vai demorar que esta
guerra de vaidades por parte da UEB irá trazer péssimos resultados ao que
precisamos. Ensinar que formamos homens e mulheres com honra, com ética,
respeito, diálogo, amor ao próximo. Demonstrar que ensinamos a crer em Deus um
dia vai ser difícil. Amar aos outros como eu vos amei será apenas uma frase que
os escoteiros irão desconhecer.
Tantas coisas com que deviam se preocupar,
principalmente descer do pedestal, pois se julgam possuídos de direitos que os
outros não tem. Ir lá à plebe e mostrar um pouco de amor e fraternidade, tirar
esta arrogância de donos da verdade e de tudo que BP nos deixou seria bom.
Lembro aos meus amigos que não sou da FET, da AEBP, não sou dos Florestais e
tantos outros. Sei que lá tem alguns que precisam descer também do seu
pedestal, mas como aqui tem muitos que são idealistas e merecem o nosso
respeito. Tenho amigos lá. Gente que respeito e me respeitam. Mesmo não me
registrando sou da UEB de coração. Não vou sair. Vou continuar minha luta. Luta
que sei que aqui tem muitos contrários. Sei também que existem muitos que me
querem ver pelas costas. Paciência. Não vai demorar! Aguardem.
Lembro que a inquisição
atraia milhares de cristão nos julgamentos e outros milhares se divertiam quando
os condenados eram sacrificados na fogueira. A cidade em peso presente. Quem
sabe foguetórios serão soltos quando se chegarem ao final do processo e der
ganho de causa a um ou outro lado? Eu só pergunto quem paga a conta? Claro os
associados da UEB e da outra Organização. É você com sua taxa anual que está
pagando isto. Ainda bem que temos uma democracia em nosso país. Quem viver
verá. Fiz este artigo porque não gosto de injustiças. A UEB está de novo indo
em um caminho errado. Não ouve ninguém. Decide sem consultas. Faz e desfaz em
nome de normas que ela mesma criou. Como sempre é chover no molhado. Pensar que
o “olho por olho, dente por dente” é o melhor caminho não é o que penso da amizade,
fraternidade e irmandade que devia haver no escotismo.
O primeiro dever do
bom inquisidor é o de suspeitar antes dos que te parecem sinceros.
Umberto Eco