A ignorância é uma das maiores desgraças da minha raça... A educação de todos
os filhos é algum que não deve passar despercebida pelos governantes e
cidadãos. Nunca o problema educacional tem sido dado à atenção necessária...
Pancho Villa
Conversa ao
pé do fogo.
Viva Pancho
Villa!
Doroteo Arango nasceu em
Durango e viveu até os 16 anos como trabalhador rural. Com essa idade, foi
acusado de matar um fazendeiro que atacara sua irmã e para fugir das
perseguições da justiça, se alista no exército mexicano. Como chefe de
guarnição, em 1910, apoia Francisco Madero no combate a ditadura controlada por Porfirio Díaz. Assim começa a
história de Pancho Villa. Um caudilho mexicano lá pelos idos de 1915 onde os
americanos passaram poucas e boas com ele. Pancho Villa nunca foi escoteiro.
Nunca se interessou por nada que Baden Powell escreveu ou deixou para nos. Ele
dizia que era um visionário, mas muitos o consideravam um sanguinário. Queira
ou não, caudilho ou ditador ele ficou na história. Muitos como ele também
ficam.
No escotismo dificilmente
aparecem caudilhos. Claro que eles existem. São muitos. Eles se escondem. Não
aparecem. Você nunca vai receber sua visita em seu grupo escoteiro. “Mali, Mali”
um dia poderá apertar as mãos deles se comparecer a um encontro nacional. Eles
estarão lá. Rodeados pela chumaça da casta que habita a corte dos Grandes
Chefes e que é o sonho de muitos outros pequenos caudilhos existentes no
escotismo. Eles os caudilhos sabem do que você precisa. Sua opinião não tem
valor e esquece, nunca vão pedi-la. Assim são os caudilhos. Acreditam que sabem
o que fazem e cercados de uma dezena de outros decidem a bel prazer o que mudar
e construir. E o pior, eles os caudilhos juram que tudo que fazem é de comum
acordo com os associados. Que foram consultados. Risos. Eu pergunto eu ouço eu
olho e não vejo ninguém que foi consultado. Não tenho nada contra os caudilhos.
Eles sacrificam suas horas, alguns até suas economias e seus familiares. Claro
em prol do escotismo. Um dia vi um Chefe suando em bicas. O grande jogo que
estava em ação não dava certo. Praguejou, praguejou e nem pensou que o culpado
era ele mesmo. Esqueceu-se dos monitores, esqueceu-se da patrulha, esqueceu-se
da tropa. Ninguém deu sua opinião. Ele era o sabe tudo. Quis fazer uma
surpresa. Assim são os caudilhos. Eita casta danada de boa!
Eu gosto eu adoro mesmo quando
me dizem que temos onde dar opinião, onde reclamar, onde sugerir. “Temos normas
chefe”! Normas claras completam. Engana-me que eu gosto. Façam a experiência.
Vistam seu melhor uniforme, ou quem sabe se você tiver condições financeiras
compre o novo traje. Dizem por aí que é caro e você não pode mandar fazer. A
confecção é exclusiva da organização. Paciência. Escotismo também é para pobres,
mas é melhor ser rico não? Compre mais de um tipo. São vários. Agora você pode
escolher a vontade. Assim você vai chamar a atenção deles vestindo cada um de
hora em hora. Eles irão rir a toa. Você vai servir de
exemplo. Depois compareça
a um encontro nacional. Vá apertando mãos que aparecerem pela frente. Os
simples como você irão dar um belo sorriso e vão querer conversar ou lhe dar um
abraço. Não fique triste se os caudilhos não lhe derem atenção. Eles estão
sempre com pressa. Vou olhar para você, apertar sua mão e dizer prazer! E
sairão de fininho. Quando estiveres em plenário peça a palavra. Diga o que tem
de dizer isto é claro se derem a palavra a você. Muitos caudilhos não dão. Eles
tem o tempo certo para cada ação. Melhor é deixar escrito suas ideias e suas
sugestões. Entregue ao Presidente que está lá na mesa de direção. Não se
preocupe se ele fechar a cara ou então fazer promessas. Faz parte, mas não
acredite. Agora volte satisfeito. Você não foi ouvido e nem bem recebido, mas
mostrou que não é submisso.
Caudilhos! Casta! Corte dos
poderosos. Sem ofensas me parece uma raça superior. Encastelam-se no poder e
mesmo dizendo que agora é por pouco tempo não acredite. Eles têm o dom de
continuar na corte, ainda fazer parte da casta. A alternância do poder dão a
eles condições de brincar como nós nas danças das cadeiras. Não vamos
criticá-los muito. Vamos dar um voto de confiança. Eu mesmo venho dando há
quarenta anos assim quem sabe tudo pode melhorar? Se você acredita ótimo. Eu
não. Cansei de acreditar. Mas eu não sou ninguém. Como já disse sou um pária
sem casta. Nem grupo eu tenho quiçá um
registro. Portanto não incomodo ninguém e assim vou vivendo pisando no pé de
alguém. Alguém? Risos. Claro, os caudilhos, os dito cujo da casta e aqueles que
dão risadas por pertencer à corte, pois ali sim, o poder é exercido. Será?
Eu sei de meia dúzia de
escotistas que não concordam com as ações dos caudilhos. Mas são poucos. Suas
vozes nunca são ouvidas. Um deles sobre o novo uniforme ou traje como eles
querem, disse o seguinte – Amigos, sim, do jeito como a coisa foi feita
corremos um grande risco de num desfile parecermos um bando de "sem
teto", se bem que acho que até eles se uniformizam melhor, iria ser uma
miscelânea de calçados diferentes, cintos diferentes, coberturas diversas,
uniformes diversos, enfim, uma verdadeira zorra. Acho que vamos ter que pensar
numa forma de alinhamento de pensamentos e ações e ver como poderíamos agir
neste caso. O que acham? Ninguém achou nada. Claro deram suas opiniões, mas
elas ficaram perdidas no grupo que pertencem e poucos muito poucos tomaram
conhecimento ou concordam.
Listas correram onde os associados puderam reclamar. Eu mesmo vi uma com
mais de quatrocentas assinaturas. Não só desta nova vestimenta que foi enfiada
goela abaixo e de que adiantou? Eles os caudilhos nem deram “pelota”. Eles
nunca dão. Fazem um comunicado impositivo dizendo que fica determinado isto e
aquilo. São mesmos os donos do poder. Sempre me perguntam – Chefe qual o
caminho a seguir? Difícil dizer, difícil aconselhar. Mas se cada um comentasse
com outro que enviassem seus pensamentos aos dirigentes do seu distrito da sua
região já seria um bom caminho. Nada será possível mudar enquanto a estrutura
que temos hoje não mudar também. Os estatutos estão aí. Eles se apegam nele e
claro foram eles que o fizeram. E dizem que tiveram várias mãos na sua
confecção. Da vontade de rir. Estão a mudar. Ainda vão mudar muito. E
infelizmente a aceitação será continuada nos grupos escoteiros.
Para mim chega do velho conto do vigário em
que dizem que temos nosso órgão próprio para sugerir e dar opinião. Um engodo.
Os associados esquecem que são mais de setenta mil membros. Não mais que 0,5%
deste efetivo participa e dizem que decidem em conjunto. Risos. Só rindo mesmo.
Eles estão lá se sentem importantes, mas também não decidem nada. Tudo chega
pronto e decidido, pois meia dúzia já discutiu, votaram entre si e claro eles
acreditam que assim deve ser. Agora é
deixar os outros votarem para justificar os estatutos. E o desejo de se sentir
importante de estar ali na corte quem votará contra. Meu amigo, se você é Escotista
veja se um dia foi consultado em algum ato ou decisão dos dirigentes. Você viu
alguém dando sugestões para o traje? O uniforme? Pergunte a amigos de outros
grupos. Nunca a não ser que você seja da corte, seja mais um dos futuros
caudilhos que ano a ano são criados na alta cúpula. Nosso movimento tem um
valor enorme e precisa de uma injeção de democracia. Não se pode deixar a
maioria dos associados sem voz e voto. Ninguém tem a verdade, o caminho, as
decisões. Não podemos continuar neste estado de coisas. Cada um deve pensar bem
se é este o caminho correto. Eu já disse em outros artigos que só vemos um lado
da montanha, até hoje ninguém tentou ver o outro lado. Nem experiência foi
feita.
Final da historia de Pancho Villa.
Pancho Villa não foi escoteiro. Nem poderia. Um caudilho que acreditava
que a força era sempre uma solução para resolver os problemas de seu país. Quem
sabe se ele tivesse pensado que a democracia fosse a maneira correta para
vencer ele teria tido sucesso. Mas não, pouco a pouco Villa foi-se convertendo em um novo guerrilheiro e
suas atividades se limitaram cada vez mais pela escassez de armas. Assim se
manteve de 1917 a 1920, salvo um período de reaparição, quando Felipe Angeles
voltou ao país para lutar ao lado de Francisco Villa. Adolfo de la Huerta, ao
assumir a presidência interina do país como fruto do movimento de Agua Prieta,
sugeriu a rendição de Francisco Villa. Em 26 de junho de 1920, Villa assinou os
convênios de Sabinas, obrigando-se a depor as armas e a retirar-se na fazenda de
Canutillo, Durango, que o governo lhe havia concedido em propriedade por
serviços prestados pela revolução.
Sua popularidade entre os
mexicanos reforçara-se ainda mais depois do ataque a Columbus, pois viram-no,
metaforicamente, além de ser uma espécie de "Robin Hood", o grande
vingador das tantas derrotas passadas dos mexicanos frente aos poderosos
"gringos", um símbolo da resistência nacional, alguém que ninguém
conseguira colocar a mão, uma lenda, "un hombre" - Seu nome acabou
por tornar-se lenda entre os mexicanos. Ironicamente, hoje, ao lado de
Columbus, cidade americana, existe um lugarejo chamado Pancho Villa, bem como
um parque nacional com o seu nome.
Não temos em nossa liderança
nenhum Pacho Villa ou será que temos? Mas também não temos nenhuma democracia
participativa e aberta onde tudo é feito as claras. Ou será que temos? Pancho
Villa não serve de exemplo para nós apesar de que é considerado um herói
mexicano e eu como admirador de heróis tiro meu chapéu. Vejamos o que ele
deixou escrito para a história:
- É justo que todos
aspirem ser mais, mas será que todos podem um dia analisar os seus atos?
- A igualdade não
existe, ou melhor, até pode existir. Seria uma mentira que todos nós podemos
ser iguais, o que precisamos é dar a todos um lugar adequado.
- Agora eu pergunto o
que seria do mundo se todos nós estivéssemos falando ao mesmo tempo, se
fôssemos todos nós capitalistas ou pobres?
- Ninguém faz melhor
o que você conhece bem, e, portanto, numa república ignorante você vence com
qualquer plano que for adotado.
É hora de dizer que o preconceito acabou que a sociedade está
estabelecida e está mais sólida, mais natural, mais sábia, mais justa e nobre.
Pancho Villa