Lendas escoteiras.
Se precisar... Chamem os
Escoteiros!
Quando contei esta história disseram-me que
sonhar é bom, mas com os pés no chão. – Chefe isto nunca vai acontecer. Acho
que o senhor está criando uma história que não é real. Bem real ou não
aconteceu. E como é uma história das mil e uma noites eu nunca deixei de contar
para ninguém. Se um dia me disserem que outros “causos” como este também
aconteceram e houve testemunhas, vou concordar novamente que sonhar é bom.
Claro com os pés no chão. Aqui nas minhas parcas letras eu faço dos meus sonhos
a minha realidade. Sei que sem uma boa
dose de realidade nunca irão transformar o impossível no autêntico fato que
sonhamos. Bem chega de entretantos e vamos aos finalmentes. Em 2011 viajava para
Santana dos Verdes Mares para encontrar um Velho amigo. Na BR-245 no quilômetro
567 uma luz vermelha acendeu no painel. Fiquei preocupado e logo na frente uma
placa indicava que eu estava próximo à cidade de Sonhos Dourados. No trevo
tomei o rumo da cidade. Precisava encontrar um eletricista e voltar a minha
viagem para Santana dos Verdes Mares.
Fiquei
maravilhado com o pórtico da entrada da cidade. Estava escrito – Sonhos
Dourados – 35.000 habitantes onde a felicidade existe. Não esqueçam, precisando
chamem os Escoteiros! Caramba! E agora? Precisava saber tudo sobre isto afinal
gosto de escrever sobre escotismo e uma cidade assim não pode ficar oculta. Vi
uma placa onde dizia: Hotel Baden Powell. Parei. Uma moça sorridente me recebeu
na recepção. Na lapela uma linda flor de lis. – Pois não Senhor? – Moça, um
quarto só para hoje. Estranhei, pois não devia ficar ali, mas pela primeira vez
eu senti um ar Escoteiro a soprar pela cidade. Após os transmites legais
perguntei a ela onde encontraria um eletricista – Lá no final da rua. Procure o
Chefe Robin, ele conhece e bem. Chefe? Vamos lá ver o Chefe. Ele me recebeu
efusivamente. Não me apresentei como Escoteiro, mas o danado trabalhava e
perguntava. – Conhece o Movimento Escoteiro? Dizer o que? Afinal não juramos
dizer sempre a verdade? Apresentei-me e ele me cumprimentou com a esquerda, fez
uma saudação e falou alto – Seja bem vindo Chefe a nossa cidade!
O carro ficou
pronto e ele não me deixou ir embora. Pegou o telefone e ligou para vários
chefes. Pronto Chefe, todos querem conhecê-lo. Vamos para o Restaurante do
Chefe Joel. Já almoçou? Não me deixou falar mais nada. Pegou sua C-10 e lá
fomos nós. Parece brincadeira, mas é verdade. Contei por alto uns 45 adultos e
todos uniformizados. E olhe não parava de chegar outros. Uma festa. Abraços,
saudações, e até beijinhos da turma feminina. Uma grande mesa em forma de “U”
foi montada. Aos poucos me contavam sobre a cidade e os Escoteiros. Eram seis
organizações escoteiras, uma da UEB, uma da FET, uma AEPB, uma dos Escoteiros
Florestais e os Desbravadores. – Olhe Chefe, aqui tem também uma Companhia
Bandeirante e somos bons amigos. Hoje não encontrei nenhuma delas, mas antes de
partir o senhor vai conhecer sem sombra de dúvida. Que coisa. Quem podia
imaginar?
Fiquei na
cidade por dois dias. Atrasei tudo que ia fazer em Santana dos Verdes Mares,
mas valeu a pena. Todas as associações escoteiras tinham o máximo respeito uma
das outras e se consideravam irmãos. Napolitano uma espécie de líder me disse
que só a UEB era contra, mas ali no grupo ninguém ligava. Acampavam juntos,
faziam atividades juntos e o respeito da cidade pelos Escoteiros, desbravadores
e bandeirantes era enorme. Pena que quando a UEB fazia alguma atividade ou mesmo
nos cursos que aplicava não autorizava a presença dos demais. Ao contrário os
chefes do Grupo da UEB fizeram vários cursos nas outras organizações além de
comparecer em todas as atividades nacionais e regionais. Estava comovido e
revoltado. Meu Deus! Não dizem que somos irmãos e amigos de todos? O que os
meninos têm com esta forma de atuação? O que eles devem pensar da filosofia
escoteira?
Pois é Chefe.
Já estiveram em nossa cidade dirigentes da UEB tentando tudo para mudarmos de
opinião. Fizemos questão de chamar todos os chefes e eles quase carregaram
estes dirigentes pela cidade. Uma festa. Fomos entendidos? Não fomos chefes.
Mas quer saber? Não nos preocupamos com isto. Aqui somos felizes assim. A
cidade inteira sabe que pode contar com os escoteiros. Tudo começou quando a
Favela do Circo Feliz pegou fogo. Quase cem famílias ao relento. Sem perceber
todas as organizações deram as mãos. Os mais velhos a construir casas de
madeira. Os menores de casa em casa com sacolas recebendo roupas e víveres.
Mais de quatrocentos adultos trabalhando dia e noite. O prefeito era Escoteiro,
o delegado também. Doutor Fontes o Juiz idem. E olhe era uma cantoria só. A
cidade em peso veio ver e era tanta gente querendo ajudar que muitos chefes
tiveram de organizar todos em patrulhas. Risos. Depois qualquer ajuda qualquer
trabalho lá estavam todos. Não vou dizer que não houve dissidências, houve sim.
E não foram poucas, no entanto aqueles que nasceram com espírito Escoteiro se
mantiveram firmes na irmandade.
Um dos chefes saiu do grupo e resolveu
fundar outro. Não teve procura. A cidade em peso ficou sabendo. Nenhum pai
queria matricular o filho lá. Ainda estão vivos. É um Grupo Escoteiro pequeno.
Tentamos ser amigos e eles irredutíveis a nos chamar de traidores. Tudo bem até
o dia que a sede deles pegou fogo. Lá estávamos nós a ajudar. Doamos material
de sapa, barracas, mesas, cadeiras, cordas bandeiras, enfim eles viram que no
escotismo somos todos irmãos. Não se admite o contrário. Fiquei em Sonhos Dourados
dois dias. Sempre volto lá anualmente. Estive no Jamboree que organizaram. Um
espetáculo. Quase tudo grátis. Mais de 3.000 participantes. Uma pena que da UEB
eram menos de duzentos. E olhe vi com estes olhos que a terra a de comer que
era tudo na base do Sistema de Patrulhas. Não como nos que os jovens vão sós e
nem pensam em estar junto a sua patrulha. Egoísmo? Não acredito.
Bem esta é
minha história. Este é meu conto. Este é meu relato. Não posso sonhar? Não
posso ver que somos todos irmãos? Tenho de aceitar imposições, patrulhamento ou
mesmo processos judiciais e dizer – Estamos certos? Mesmo? E onde foi parar a
Lei Escoteira? Onde foi parar? Dizer fraternidade, dizer que somos leais, dizer
que somos amigos de todos e irmãos dos demais é só utopia? Quem sabe um dia uma
aureola de luz desçam sobre os homens Escoteiros e digam a eles que a
verdadeira felicidade é fazer a felicidade dos outros. Que o amor é tudo.
Direitos devem existir, mas a fraternidade escoteira tem de estar sempre em primeiro
lugar!