Crônicas de
um Chefe Escoteiro.
Dicas de
acampamento mateiro. Parte I.
Hoje resolvi dar meus pitacos e
porque não escrever algumas dicas sobre como acampar. Como fazer um acampamento
mateiro, que deixa marcas e que seja lembrado para sempre. Sem querer ensinar
aos chefes com grandes conhecimentos e até mais do que o meu, lembro que estou
a sugerir aos novos chefes que ainda não tem esta prática. Sei que temos muitos
cursos maravilhosos sobre o tema e eu aconselho a todos a fazê-lo. Nem sempre temos
escotistas advindo de tropas bem formadas e estes cursos são primordiais. Em
primeiro lugar, por favor, eliminem a palavra impossível quando forem acampar. Tudo
é possivel basta querer e achar a solução perfeita. Ela pode estar com você,
com seus assistentes ou com os monitores. Conversar é bom e ajuda bastante.
Nunca faça um acampamento ou qualquer atividade sem dar liberdade às patrulhas
de sugerirem, de discutir na Corte de Honra e claro, dividir o programa com
seus assistentes.
Antes de ir acampar eu aconselho que os
chefes pensem bem sobre o acampamento. Muitos vão para se mostrar como heróis
aos jovens e esquecem que os heróis são eles. Faça com que o jovem se divirta
que ele aprenda fazendo, que ele se sinta um aventureiro sem que ninguém o
empurre. Evite ao máximo ir ao campo de patrulha, dê liberdade a eles, deixem
que façam e você terá oportunidade de aconselhar quando fizerem errado após as
inspeções. Evite falar muito, mais de cinco minutos já é demais. Fale mais com
os monitores. Precisamos deixar as patrulhas agirem sozinhos, dar liberdade e a
oportunidade de viverem a natureza como ela é. Se você já acampou antes com os
monitores e subs e ensinou tudo que sabe, não existe motivo para você ficar
preocupado. Seja exigente, mas quando das inspeções, quando das chamadas ou
mesmo da disciplina. As normas de segurança em acampamentos não serão citadas
aqui. Penso que elas foram devidamente lidas e anotadas do POR e que cada Chefe
sabe como agir.
Escolha
do local.
Eu tive a felicidade de fazer
escotismo em cidades pequenas do interior e nestas a facilidade é enorme. Mas
fiz também em grandes capitais. Uma boa bicicleta, uma moto, um jipe e fazemos
uma exploração perfeita para a escolha de um bom local. Ônibus e trens ajudam muito.
Fazer amizades é primordial, os proprietários e caseiros devem ser bem tratados
e respeitados. As promessas feitas quanto a proteger o local devem ser
cumpridas a risca. Outro dia li que alguém gostaria de deixar as pioneirias
prontas no local. Errado. Em menos de 20 dias todo o madeirame seca e o sisal
apodrece deixando um aspecto desleixado para quem acampou ali. O mais
importante do local é que ele seja interpretado como uma descoberta feita pelos
jovens, que ele ofereça todas as condições para que eles se tornem aventureiros
e mateiros. Locais onde se vê a “civilização” (postes de energia, estradas,
passagens de caminhantes, casas de alvenaria, muros ou sons de fabrica, campos
de futebol) devem ser evitados. Isto tira muito o sonho da aventura. Uma boa
aguada que não ofereça perigo, uma montanha ou uma várzea para exploração,
arvoredos ou mata e se tiver bambus então o local é perfeito.
O
programa.
Não faça nenhum programa sem ouvir a
tropa. Um tema um tempo para a patrulha discutir, um relatório, uma boa
discussão em grupo com outras patrulhas e finalmente uma Corte de Honra
exclusiva para o programa é essencial. Tome cuidado para que as patrulhas sejam
alertadas para programas aventureiros, sem nada que possa enquadrar a
modernidade tecnológica de hoje. Que o programa não seja corrido, cheio de
horários e apitos. Apito demais cansa. Uma vez descobri que podia valorizar
todos os membros da patrulha com chamadas por bandeirolas. Um pequeno mastro na
chefia e quando queria falar com o Monitor hasteava a bandeira verde. O sub era
uma azul. O cozinheiro uma vermelha, o intendente a marrom e assim por diante.
Precisavam ver os campos de patrulha de olho no campo da chefia aguardando que uma
bandeira fosse hasteada. - Bombeiro e lenhador! É você! E lá vinha ele correndo
ao campo da chefia todo sorridente, ele agora sabia que era importante também
na patrulha e quando retornava todos a perguntar: - O que ele disse? Claro que
o tema era relacionado com sua função, ele o jovem se orgulhava em comentar o
que estava fazendo. Papo de cinco minutos. O tempo livre para que as patrulhas
vivam suas vidas sem interferência da chefia é importante. A alvorada, a
preparação da inspeção, a preparação do almoço do jantar não devem nunca ser
corridos.
Os programas mais gostosos são aqueles
que eles podem ficar juntos, em volta de um fogão, todos a construírem uma
pioneiría lembrarem-lhes da importância de um bom papo de patrulha, canções, tudo
espontâneo. Claro que um grande jogo tem seu lugar, mas já vi uma patrulha
partir para uma pescaria e lembrar-se dela para sempre. Alguém já foi convidado
por um Monitor a participar de uma conversa ao pé do fogo em uma patrulha a
noite? A alegria deles em receber o chefe? E os términos das refeições quando o
Monitor ou então o intendente vem correndo a dizer – “Chefe, Sempre Alerta”! –
Almoço pronto. O senhor é nosso convidado! Isto é demais, demais mesmo. Agora
tudo isto perde a graça se o Chefe fica zanzando nos campos de patrulha. É como
se ele sem pedir ou mesmo pedindo ficasse sempre na casa dos Escoteiros. O
campo de patrulha é a casa deles e como tal deve ser respeitado e preservado.
Quanto mais vocês darem liberdade
melhor será o retorno. Se o acampamento marcou significa quer o jovem valoriza
e continua sua labuta escoteira caso contrário em pouco tempo ele vai deixar a
tropa. Lembro que conheci um grupo que só nos acampamentos todos os jovens duas
semanas antes estavam presentes. Eles adoravam o acampamento e as reuniões de
tropa não. Bem conversei com o Chefe sobre isto. Ele precisava descobrir o que
havia e nada melhor que uma reunião só para isto. Patrulhas discutem conselho
de tropa, Corte de Honra e conversas individuais. Isto acaba sempre bem e os
faltosos passam a participar ativamente sinal que foram ouvidos em seus
reclames. O que desanima em qualquer tropa e ver a patrulha reduzida a três ou
quatro. Uma boa patrulha precisa de pelo menos seis. O que chateia e muito é o
Chefe em qualquer atividade ou acampamento para evitar isto desmonta uma
patrulha para que os demais completem aquela que não é a sua.
Lembrem-se do que Kipling um dia
escreveu: -
“Quem ao crepúsculo já sentiu o cheiro da fumaça de
lenha, quem já ouviu o crepitar do lenho ardendo, quem é rápido em entender os
ruídos da noite;... deixai-o seguir com os outros, pois os passos dos jovens se
volvem aos campos do desejo provado e do encanto reconhecido...”.
Outro dia tem mais...