Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
Caro
Escoteiro, evite a Cascavel, ela tem veneno.
Nossa! Acordei hoje pisando ovos. Já me
disseram que devemos tomar cuidado para que a velhice não nos enrugue mais o
espírito que o rosto. Pois é, o inteligente se previne de tudo, o idiota faz
observações sobre tudo. Hoje me sinto um idiota sentado em dia de chuva num
barranco para não cair. Quando envelhecemos costumamos ser eloquente, falador,
tagarela e loquaz. Dizem que falamos pelos cotovelos, e olhe andei pensando
como usar os cotovelos na verborragia escoteira. Só consegui usar quando jovem
na Briga de Galo usava os cotovelos como asas e esporas para defesa e ataque.
Ultimamente tenho andado cauteloso com minha
maneira de agir falar e pensar. O homem prudente não diz tudo quanto pensa, mas
pensa tudo quanto diz. Afinal vejo por onde leio, por onde piso por onde me
meto em aventuras já não tantas aventurosas, mas sempre saudosas do que fiz e
não posso mais fazer. Alguém me perguntou: - Chefe, o que você entende de
escotismo? Putz Grila! Que pergunta mais besta! Foi como um sopapo no nariz de tamborim.
Bem, afinal entendo ou não de escotismo? Tem hora que me confundo. O de ontem
ou o de hoje?
É por esta e
outras que me resguardo de uma resposta batuta. Contento-me em responder, dizer
o que penso do escotismo que amo e que tanto amei. Um famoso poeta me disse: -
Meu velho amigo é preciso variar, se não tivermos cuidado a vida torna-se
rapidamente previsível, monótona e seca. Deu vontade de perguntar para ele: - Amigo
qual escotismo? Se for o de hoje não entendo bulhufas. Do passado sou doutor. Chega
de fanfarronice e vamos aos finalmente.
Francamente não dá às vezes me
revolto, fico abespinhado, irritado e até zangado como o que vejo por aí. Outro
dia vi uma foto de gente jovem entre 18 a 21 anos que diziam ser Escoteiros do Brasil
apareceram com meu querido caqui. Uns de calça comprida outros de curta, camisa
aberta ao peito e solta e lenço amarrado nas pontas e os de calça curta sem
meião com meinha colorida. Na cabeça chapéus e bonés tirados da imaginação.
Bah! Dar os parabéns? Dizer bem vindos a este novo mundo, das criativas
modernas do estilista Karl Lagerfed, o cara da Chanel da moda parisiense? As
notas dos jornais dizem que faleceu. Criou tanto que os modernos escoteiros do Brasil
acharam bom inventar e quem sabe ficarem famoso como ele na nova filosofia
pedagógica que chamam de novo Escotismo e um amigo diz que é neo-escotismo.
Mas logo alguém vai
dizer: - Chefe se entende de escotismo sabe que tem um POR e lá diz que se pode
usar e... Abusar! Deus meu! Um ou dois que se julgam dono do poder escrevem as
besteiras que querem e fazem do bom nome do uniforme caqui, que usei por anos,
que me orgulhei por onde passei para lambuzar de invenções tiradas da burra
imaginação? Já chega a tal vestimenta que mudou para vestuário que breve deve
mudar também, onde se usa a mais perfeita apresentação démodé de todos os
tempos! Calma... Sei que tem gente que gosta. Há gosto para tudo! (cala-te
boca!).
Devo me calar? Os
defensores dos direitos autorais de corneta na mão gritam aos quatro ventos que
isto é o melhor escotismo, que isto é a melhor maneira de agir e fazer que o
mundo seja outro, que estamos vivendo tempos modernos e eu um pobre diabo do
passado não posso me exprimir? Caramba carambola, isto é conversa mole para boi
dormir. Há dias ando engasgado com tantas coisas que estou vendo. Briga interna
no CAN, facilidades para alguns protegidos viajarem a custa da tal EB ao
estrangeiro. E tudo fica no bem bão? Chefe, me gritam, vai haver eleições!
Melhor é dar risada. Kkkkkkk.
Me seco na cadeira
de praia na varanda da rua onde moro. Fecho os olhos e penso: - Tenha cuidado Chefe
com a tristeza. É um vício. Cuide bem de você, não sofra sem necessidades.
Cacilda é verdade, o que ganho com isso em me revoltar com o que acreditei ser
um ideal escoteiro? Saio andando com minha bengala da arena do circo. Cansei de
assistir a dança da chuva e as piadas dos palhaços. Sei que minhas passadas
serão curtas, logo, logo estarei bengalando em outras plagas do universo e
então os pedagogos, os modernistas, os doutores irão aplaudir.
Desta vez não vou
pedir desculpas, afinal sou um velho esquizofrênico, que muitos dizem que sofro
de alucinações, delírios incoerência mental e etc. Agora será que eles têm
razão quando me perguntam de eu entendo de escotismo? Porque não perguntar aos
candidatos aos eleitos? Afinal será que eles já viram a lua nascer em uma
montanha qualquer? Será que já dormiram sob as estrelas em noite estrelada?
Será que reconhecem a estrela Dalva ou a constelação de Orion? Será que dominam
o passo escoteiro ou o passo duplo, sabem fazer nós de fateixa e balso pelo
seio?
Chefe! Isto é bobagem,
para ser dirigente não precisa... E eu
então na minha timidez idiota vou tocar minha harmônica que é um remedido e
tanto para as tristezas. “O meu chapéu tem três bicos, tem três bicos o meu chapéu,
se não tivesse três bicos não seria o meu chapéu”! E o velho gagá escoteiro vai
pela estrada afora pensando de que estirpe é feita hoje a nossa liderança
escoteira. Ainda bem que não estarei aqui para ver o que aquele cego da EB fez:
Levou sua trupe a acreditar dizendo maravilhas do novo escotismo e “entonse” caíram
todos no buraco.