"O resultado
final e o objeto da riqueza é produzir o maior número possível de criaturas
humanas de pulmões sadios, olhos brilhantes e coração feliz." (John Ruskin).
Escotismo é só para ricos?
Não. Escotismo é para
todos. Seja rico, remediado ou pobre. O método Escoteiro que BP nos deixou não
diz que somente ricos podem dele fazer parte. Nem tampouco remediados ou
pobres. Já me disseram uma vez que muitas vezes estão tentando fazer um
escotismo com austeridade demasiada. Quando BP assentou as bases do escotismo,
ele nasceu entre meninos pobres e, se economicamente os rapazes melhoraram
desde então, ainda existem rapazes tão pobres como naquela época que precisam
do Escotismo.
Claro, olhando para os
gastos atuais tais como atividades distritais, regionais ou nacionais,
uniformes, sede Escoteira, material de Patrulha, taxas e taxas cobradas nos
preocupamos e alguns então dizem que não tendo condições não dá para fazer
escotismo. A própria taxa anual da UEB que anexada à taxa regional pode ser
considerada alta, mas existe planos para que o Grupo possa ficar isento desta
taxa. Um bom número de grupos escoteiros conseguiram e hoje são devidamente
registrados sem nenhum ônus.
Eu tive a
oportunidade de passar por grupos escoteiros, onde as condições financeiras se
dividiram em ricos, remediados e pobres. Asseguro que é bastante possível fazer
um bom escotismo nas classes menos favorecidas sem reclamar da falta de
condições financeiras para que tudo corra bem e a contendo. Infelizmente muitos
organizam grupos escoteiros sem pensar que o crescimento deve vir
paulatinamente. Acham que é mais impressionável para a comunidade reunir uma
grande quantidade de jovens, formar muitas matilhas, patrulhas e depois se dão
conta que para fazer um escotismo autêntico sem verba suficiente não é possível
e aí desistem ou passam a direção para outros. Difícil consertar o erro do
passado, mas não impossível.
Muitos que insistem
em continuar se apegam a todos eles e ficam reclamando das dificuldades de
manutenção. Sabemos que não houve estrutura de montagem inicial, os pais não
participam e a comunidade não colabora. Desta maneira só podem fazer escotismo
dentro de certas limitações. Ficam sem uma boa uniformização, falta de
acampamentos e as reuniões de sede não sendo acompanhadas por atividades ao ar
livre fazem com que muitos desistam, pois entraram pensando em encontrar tais
programas e não encontraram.
Sempre aconselhei
aos escotistas que estavam começando que se contentassem no inicio com poucos.
Criar primeiro uma estrutura para que o Grupo Escoteiro fosse crescendo
paulatinamente. Até mesmo dei alguns exemplos que vi em boas tropas escoteiras e
alcateias formadas em uma comunidade sem nenhuma condição financeira e conseguiram
fazer um ótimo escotismo. Quando iniciaram conseguiram “amarrar” os pais na
ideia Escoteira, e eles se imbuíram que está ali para ajudá-los e que quem
precisa do escotismo são eles e não você. Isto já é meio caminho andado. Fazer
isto com seis a oito jovens, futuros monitores, preparando tudo devagar,
visitar os pais frequentemente e engajá-los no crescimento do grupo tudo se
torna mais fácil.
Três ou quatros
pais, mesmo os mais humildes, visitando o comércio com hora marcada, (pedido
antecipadamente), conversando naturalmente sem se mostrarem muito humildes ou
arrogantes, mostrando as vantagens que o escotismo pode trazer para o bairro e
pedindo uma colaboração anual pequena (em torno de cem ou duzentos reais, é
perfeitamente possível engajar vários comerciantes na ideia). Não receber nada
na hora. Deixar que o futuro sócio (ele passa a ser membro do grupo como sócio)
escolha o mês e o dia para ser cobrado. Claro, tudo feito de maneira correta, com
apresentação de contas, e convidando-os sempre a visitarem o grupo e neste caso
apresentá-los a tropa formalmente, palmas escoteiras, quem sabe um lenço no
pescoço e pronto. Estes fatos não podem parar. Para isto você está contando com
estes pais e instruindo sempre. Claro sempre motivando.
Se desde o
primeiro dia você conquistou cada pai para trabalhar ao seu lado, pois agir com
meia dúzia de pais é muito mais fácil e anualmente fazer com eles uma atividade
de domingo completo, quem sabe com atividades escoteiras pais e filhos juntos,
visitá-los pelo menos uma vez a cada dois meses. Se tiverem telefone manter
contato frequente garanto que tudo vai fluir e mesmo não sendo um grupo rico em
breve terão todas as necessidades cobertas. Importante à seriedade com os
valores, a prestação de contas. Exigir sempre a Nota Fiscal, ter um bom
financeiro para dirigir mesmo simplesmente. Sempre a disposição de qualquer
adulto que quiser ver. Já vi grupos com uma arrecadação anual de mais de
quarenta mil reais por ano. Tudo no comércio de bairro. Pouco? Muito para quem
não tem nada. Sabendo fazer uma lista das necessidades e comprando aos poucos
esta quantia supre razoavelmente qualquer Grupo Escoteiro com até 60 membros.
No inicio é fácil
acampar com uma patrulha. Garanto que vão aparecer algumas mães para doarem
panelas, frigideiras e caldeirões. Mesmo que bem velhas e usadas serão uma
ajuda inestimável para os acampamentos por patrulha. Sempre comentei que a
alimentação deve ser simples. Chamava de ração. Uma listinha para cada um (que
guardava em casa) e mesmo que as mães reclamassem era melhor que uma taxa que
não podiam pagar. Saber o cardápio, (simples) onde uma panela e um caldeirão
eram suficientes para prepara-los. Cada jovem sabia o que devia levar de casa.
Uma caneca de arroz, uma de macarrão. Um vidrinho ou latinha com óleo, açúcar,
sal, café e quem sabe, uma linguiça, batatas e pronto. E os lambaris brigam
para serem fisgados em qualquer riacho por este Brasil. Um manjar dos deuses
pra ninguém botar defeito.
Cortar em tamanho
adequado lonas que são vendidas por preços ínfimos, ensinar os jovens a fazer
uma armação, atrás e na frente uma parede de galhos e lá estava uma bela
barraca. Lembre-se estamos falando de um grupo que começou com poucos. Quem
sabe um comerciante doa um facão, outro uma machadinha? Alguém tem uma enxada
pequena usada em casa sem cabo (no campo se faz) – Pioneirias? Cipó meu amigo. Fácil
de usar. “Embiras” também são ótimos substitutos para ao sisal.
Se você conseguiu
formar uma equipe de pais (seis a oito) e fez o dever de casa com eles não vai
se decepcionar. Se semestralmente ou anualmente você ou um pai for ao
comerciante agora já amigo com uma prestação de contas e este comerciante irá
acreditar mais e não deixará de visitar o Grupo Escoteiro periodicamente. É Nesta
visita procure fazer tudo para ele deve se sentir em casa. Lembre-se que ele
pode contar para outros negociantes seus amigos. Elogiar, dar valor e já vi
casos que ele aumentou a doação anual. Feito isto o Grupo Escoteiro irá crescer
com os pés no chão. Tendo uma estrutura com poucos agora é hora de crescer
paulatinamente. Lembrar-se que é mais importante à qualidade que a quantidade. As
sessões devem ficar completas dentro das possibilidades. Os novos pais devem
também saber a importância no grupo como os mais antigos. Aumentar o número de
sócios beneméritos é função dos novos pais.
Lembramos que
viver de mensalidade é irreal. Pode até funcionar em alguns grupos, mas a dor
de cabeça é grande. Muitos pais não pagam, outros atrasam e tem aqueles que
pagam e cobram porque só eles estão pagando. A mensalidade tem de existir. Mas
quem paga são os jovens com valores adquiridos com seu trabalho individual. Dos
jovens não os pais. Quanto? Dois ou cinco reais. Eles devem ganhar trabalhando.
Isto não é difícil. Com os vizinhos ajudando em limpeza, no comércio ajudando a
empacotar compras diversas, se oferecendo para lavar veículos. Enfim tem muitas
coisas fáceis para ganhar dois ou cinco reais por mês. Claro, é uma taxa
simbólica, mas que todos devem pagar. E isto deve ser ensinado para o lobinho o
Escoteiro e todos os membros do grupo. E
deve ser considerado como ponto de honra. Lembre-se você começou com poucos e
os que estão chegando estão vendo como as coisas funcionam.
Sabendo
trabalhar devagar, olhando cada passo a ser dado com atenção à possibilidade de
sucesso é grande. Ninguém será dispensado. Não importa se é pobre ou o rico.
Bem trabalhado o uniforme será vendido ao jovem humilde que não tem condições
de comprar. Vendido? Sim. Por um preço simbólico pago com taxas mensais. Quem
sabe um dois ou cinco reais por mês. Nada de graça. Ele deve saber que seu
trabalho é importante e que não existem “almoço grátis” conforme dizem por aí. Com
isto aprende que o trabalho dignifica o homem.
Utópico? Você
acha? Posso provar que deu certo. Mas se você tem uma estrutura enorme, se os
pais dos meninos a maioria não colabora, não comparece se você sozinho é o faz
tudo, se tira valores do seu bolso (prejudicando sua família) então tem razão
em ficar reclamando que o escotismo é só para ricos. Mas se você é daqueles que
não sabe trabalhar em equipe, que não sabe valorizar os outros, que vê nos pais
uma fórmula de solução para ao grupo e fica reclamando que eles não se
interessam, são distantes e que não acreditam que precisam de você para
ajuda-los na formação do filho, então você está totalmente equivocado com o que
faz. Valorizar sempre. Criar um grupo de amigos e não de inimigos no Grupo
Escoteiro. Envolver muitos, não importa quantos ou o que irão fazer. No inicio
é um trabalho árduo. Visitas, telefonemas, atividades sociais em casa de um
deles com revezamento (cada um leva salgado e bebida). Arregimentar outros para
ajudá-lo. Uma andorinha só não faz verão e você deve saber disso.
Mas
lembre-se, esqueça esta “montanha” de convites de distritos, regiões, UEB
porque se for levar alguns e não levar todos além de estar errado vai haver
desistências, se sentirão culpados por serem pobres, preferencias que na
verdade não houve, mas acreditarão que sim. Sempre coloquei para mim que ou vão
todos ou não vai ninguém. Se o Grupo Escoteiro que você participa já tem uma
boa estrutura material, se o engajamento dos pais é bom, se a comunidade
acredita que o escotismo ali é serio e excencial aos jovens do bairro, então
você pode programar a presença de todos em uma atividade distrital, regional ou
nacional. Isto é bem possível se programado com boa antecedência.
O importante
em qualquer Grupo Escoteiro é saber trabalhar em grupo, prestigiar os pais, os
sócios beneméritos, os chefes auxiliares, e não esquecer nunca, os responsáveis
onde estão atuando. Seja o mais humilde faxineiro ao presidente da diretoria.
Se a sede é cedida por alguém, seja uma igreja, comercio, um clube ou outro
lugar, prestigie o responsável. Faça uma boa politica sem imposições. Dê valor
e relevo individual e coletivo, haverão frutos. Mas se você é daqueles secos (risos), que
acham que todos precisam de você e você não precisa de ninguém, que eles tem a
obrigação de emprestar o local, que os seus auxiliares não precisam ser
reconhecidos, então você está no lugar errado. E não adianta reclamar que os
pais não são presentes, os chefes não ficam por muito tempo, que você confiava
e sua confiança foi destruída então meu amigo o errado no Grupo Escoteiro não
são eles. É você.
Pode-se
perfeitamente fazer um escotismo em comunidade pobre ou onde financeiramente
deixa a desejar. Sabendo fazer, sabendo ser um líder e ir aos poucos crescendo,
não querendo ser grande de um dia para o outro o sucesso é garantido. Eu já fiz
assim e sei de muitos que também fizeram. Copiando John Thurman, chefe de campo
de Gilwell Park em 1957, ele escreveu:
Sem dúvida, Baden-Powell
tocou o dedo em algumas das mais formidáveis ideias e práticas que levam os
rapazes a segui-las com entusiasmo, e nos métodos, e modo de manejar e guiar os
rapazes. É por isso que devemos nos manter o mais possível dentro da
simplicidade, da alegria e do entusiasmo que ele inspirou. Os únicos capazes e
possíveis de pôr o Escotismo a perder são os próprios chefes e dirigentes. Se
nos tornarmos arrogantes, complacentes e a nos fazermos passar por demasiado
auto-suficientes, então - e apenas com essas coisas - poderemos arruinar o
Movimento.
"A pobreza não
tira a nobreza a ninguém, a riqueza sim."
(Giovani Boccaccio)