Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Os velhos tempos de outrora...
...”As estrelas desmaiam, concluiu o lobo Gris, de olhos erguidos
para o céu. Onde me aninharei amanhã?... Porque dora em diante os caminhos são
novos...”!
Como
começar esta crônica? No começo ou no fim? Não sei. Dei-me conta que envelheci,
minhas ideias meus conhecimentos ficaram em um passado distante. Sempre digo
para mim no espelho: - Vado Escoteiro esqueceu que os tempos são outros, os
velhos tempos de outrora ficaram no passado. Como sempre acontece procuro
sempre um motivo para acreditar que ainda posso ajudar, sugerir, colaborar no
escotismo que sempre fiz e sempre amei. Mas os tempos ôh os tempos! Ficaram para
trás. Hoje já é o amanhã e eu fiquei parado no ontem.
Eis
que me deu um estalo, gritei: - Eureca! Que tal um grupo só de gente que quer
conversar e trocar ideias sobre o Movimento Escoteiro? - Brilhante! Pus-me a
campo. Aprendi alguma coisa e lá estava eu montando um Grupo do WhatsApp Escotismo
e Suas Histórias. Começou com trinta, oitenta, cento e vinte e agora cento e
quarenta membros. Alguns entraram e saíram outros continuam. A turma é boa,
conversa, troca ideias, sugestões de todos os tipos aparecem. Sempre tem um que
entende de alguma coisa que eu não entendo.
Opa!
Lá estou eu navegando, tentando voltar ao escotismo de campo, de aventuras, de
descobertas, de noções de monitoria, de patrulhas, de matilhas, de... De... Tantas
coisas que me perdi. Os participantes quando escrevo se calam. Ninguém me
segue. Sou um poste pregando no deserto do escotismo moderno. Um me pergunta
sobre portadores de deficiência, jovens de necessidades especiais. Tento
responder. Sou leigo. Mas sou fechado por um motorista escoteiro mais conhecedor.
E ele desfia respostas, dá exemplos e eu? Fico na berlinda. Ali não é minha
praia.
Toco
no tronco da sabedoria de BP. E os monitores? Quantos já fizeram acampamentos
com seus monitores? Quantos por ano? Deu certo? Valeu? – Pluft! Ninguém responde.
Um baixinho escreve: - Teve uma corte de honra distrital! Nossa? Corte de honra
distrital? Calei-me. É tudo moderno. Começo novamente e logo meu tema fica na
berlinda. Programas... Chefe Como fazer um programa para lobos baseado na mística
do Rei Arthur? Putz grila! Empaquei.
Deixo
a turma se esbaldar. Um ensina outro exemplifica, outro aplaude e a turma vai
crescendo, alguns até já dizem que é o melhor grupo escoteiro de WhatsApp que
participaram. Sorrio... O velho escoteiro para sua jornada. Tira sua mochila,
abana “a quentura” com seu chapéu olha em volta, lembra-se da “Pinguela” do Rio
Corrente. Bela pinguela. Bem feita, uns dez metros não mais. No meio um galho
enorme empaca e serve de guia. Era o lugar perfeito para tirar o Vulcabrás,
sentar, por os pés nas águas corrente do rio e se deleitar...
Estou
lá agora, sentado, olhos semicerrados, á agua fria é gostosa demais. Peixinhos beliscam,
deixo-os brincar... Sinto o vento soprando, não tenho cabelos lisos mas eles
balançam uma ponta ali outra acolá! Deixo a mente voar pelo espaço, quem sabe
olhar lá de cima a subida que ainda tinha que fazer para chegar na Fazenda Tapioca.
Acampava sempre lá. Juvenal e Dona Helena sabiam receber: - Ei moçada! Ficam
para o almoço? Olhos para a escoteirada da Patrulha, sinto saudades de todos, talvez não seja saudade, seja necessidade de viver
tudo outra vez.
Á água se diverte em minhas canelas. Quantos sorrisos do
Romildo, do Tadeu, do Joãozinho, do Chiquinho, do Rael e do Fumanchu. Velhas
amizades, velhos sorrisos, saudades demais dos velhos motivos, saudades das
coisas que se foram e não voltarão. Abro os olhos, lá está escrito no Whatsapp:
Estou saindo do grupo. Acho que não gostou. Pena era um Velho Lobo que muito
poderia contribuir, melhor que eu pois ele se adaptou aos novos tempos e eu? Eu
não!
- Estou aqui escrevendo, minha mente está lá na “Pinguela”
do Rio corrente. Ainda não abri o Whatsapp. Estou sem vontade. Será que posso
ser útil em alguma coisa: É Vado, eu sei como se sente. Sente saudades e do
carinho que cada amiga lhe dava, das momices dos contos dos velhos amores.
Fecho os olhos... Tá na hora de parar de escrever. Ninguém ou quase ninguém lê
tudo que escrevo. Extenso demais. Volto à mente para os novos amigos, tem hora
que nem sei o que eles querem de mim. Mal os conheço, estão longe são vistos
por uma maquinha que não era do meu tempo. Mas sinceramente? Tenho eles no
coração.
WhatsApp... Oi! Tudo bem? Vamos falar do moderno? – Pô Chefe
que moderno? Estou ocupado, fazendo um trabalho para meu caderno da Insígnia de
Madeira. Pediram-me para falar sobre Montessori e suas ideias melhores que a de
Baden-Powell. Pois é. Montessori. Eu me matei no Sistema de Patrulha, meu
caderno voltou por não explicar bem sobre a corte de honra, e hoje? Hoje meus
amigos são novos tempos, os meus? Ficaram lá atrás na “Pinguela” do rio
Corrente!
Nota – Porque gostar ainda do Movimento Escoteiro? – Quem sabe
pelo seu ar de saudosismo que não se perde nos horizontes, quem sabe pela
retidão de muitos que ali ficaram estacas... Quem sabe por sentir que ainda
existe em alguns a confiança da lealdade, mas antes de tudo na passagem pela “Pinguela”
do rio corrente que ensinava a gente a acreditar... Que o escotismo é belo e lá
eu terei sempre o meu lugar!