Crônicas do Velho Chefe Escoteiro.
A locomotiva ficou para trás.
Brigo
com minha consciência. Leve graças a Deus. Ela me acusa por não ter feito
melhor. Nem sei bem o que é melhor. Passei boa temporada sem escoteirar, escrevendo,
dizendo como chegar ao caminho do sucesso e vejo que não foi meu melhor
caminho. Sucesso? O meu? O Seu? Ou o Dele? Cada um de nós escolheu o seu
sucesso. Quem sabe é por isso que fica a duvida se o ontem foi melhor.
Sento
na janela do tempo, outra era, outro céu outra cantiga... Não, desculpe, não
havia tanta divergência. Na tropa éramos como irmãos. Nem sabíamos que exista a
UEB onde morava Zeus... O Deus principal, governante do Monte Olimpo. Nem sabíamos
de Hera sua mulher a rainha do Olimpo. Será que foi Poseidon que nos deu o dom
de pensar? Deixo para lá Atena, Ares, Deméter, Apolo e Artêmis. Para nós era
bom marchar, pisar na terra onde nascemos e nem pensar que poderia haver no futuro
um Lula, um Alkmin, um Meireles e um Soldado que se diz valente chamado Bolsonaro
que nunca terá meu voto.
Voo
nas asas da minha imaginação. A vida era bela, tudo era tão simples sem
empulhação. Um Chefe amigo, um Chefe irmão. Inimigo? Alguns mas que nunca
usaram uma arma, quem sabe os punhos e a cara feia em cima do sorriso. Tudo às
claras. Ainda não havia Comissão de Ética. A nossa ética era a Lei Escoteira.
Puro nos pensamentos nas palavras e nas ações... UEB? Fiquei sabendo que
existia quando um Comissário Viajante passou na nossa Xangri-lá. Coitado, nunca
mais voltou na bela terra dos escoteiros que não entendiam o poder do nada!
Mas
o tempo danadamente não para... E eis que a lei do Karma vai batendo forte na
mente do Velho Escoteiro. Como ela dizia mesmo? “Colhemos o que plantamos”. Faz
curso, lê o que não entendia, conhece os ditames da organização. E
escoteiramente aceita o que para ele seria uma maneira de manter a
fraternidade. – Bem vindo! Minha casa é sua casa! Fraternidade... Existia sim. Ninguém
era de ninguém e todos eram de todos. Eita saudade danada...
Mas
a guerra dos vaidosos chegou. Ele sem perceber vê que criou inimigos. Pensou
que eram todos amigos e se enganou. Moço, volte para sua terra, aqui não é o
seu lugar. Nunca fui de dar um passo atrás. Meu bastão é meu guia. Enfrentei.
Se ganhei ou perdi até hoje não sei. Me mantive caqueano, briguento pelas
minhas ideias que sempre achei ser a de Baden-Powell. Mas quem sou eu para me
igualar... Aos donos do lugar!
Me
dou um descanso. Deixo meu Vulcabrás no armário. Da pena da minha Parker 51 dou
um salto para o teclado... Da minha Remington e depois a Olivetti. Mas danação,
que coisa boa, inventaram uma maquina, quadrada hoje esticada onde você escreve
o que quer e manda suas idéias para as plagas distantes do planeta terra. Que
bom. Recebo um abraço virtual dos amigos do novo e do antigo continente. Até
mesmo de um da Oceania e outro da Antártica. Quem diria em Valadarense?
Aí começou
a saga do novo que passou para o velho escoteiro. O menino, o boy, o garoto, o
pirralho passou a ser massa de manobra. A importância era o adulto chauvinista,
ou o pacifista, aquele que colocava o pé na Montanha de BP e chutava sua filosofia
como se fosse o novo Deus Escoteiro. Deus? Ele se achava assim, ou ainda se
acha. Tomaram conta do paralelo 6, se uniram ao paralelo 1 e se declararam
donos de algum que nunca foram seus.
Adianto
a cartilha do conto de São Nunca. Chego logo no fim da estrada. Não tem caminho
a evitar só a seguir. Não tem obstáculo. Tudo está lá no PAXTU e para isso o
velho escoteiro tem de reverenciar... Curvar... Aceitar as novas regras, as
novas normas... Um pirralho de fraldas que nunca viu um nó feito de cipó, que
nem sabe andar pelas trilhas da mata do Tenente, que nunca viu o cantar de um
sabiá é hoje o tal, o coisinha, o chefão, são meia dúzia ou uma dúzia deles
mandando de roldão.
Aí o
Velho Escoteiro descobre que não é mais o menino de outrora. Aquele do
chapelão, da ordem unida, da formatura com garbo, do grito de Patrulha dado com
a força de Hercules e seu vozeirão. Eles ditam as regras criadas debaixo de
suas asas pois ninguém viu ninguém sabe o porquê delas. Os seguidores não
importam. Suão suas camisas nos sábados de sol, de chuva de calor e de frio.
Metem a mão no bolso para a beleza dos Chefes de Plantão. Fazer o que?
E
quem liga? E quem se importa? Estão com os olhos voltados para seus meninos que
acreditam ainda em um novo Brasil. Hino Nacional? Hino a Bandeira? O Rataplã?
Necas... Hoje eles sabem ou cantam funk, Tem sim o funk da escola, o Funk
escoteiro. O hino, a canção feita de melodia aos poucos deixa de existir. E é
nesta hora que fico pensando se vale a pena continuar a escrever... Para quem?
Para os gulosos do poder? Eles nem sabem que o Velho Escoteiro existe...
Tiro
a minha querida roupa caqueana. Esqueço aquela que usei chamada traje. Passo
longe da tal Vestimenta... Ainda não posso comprar e nem pagar, cara demais prá
mim. Melhor colocar o pijama... Você já era meu caro Chefe, não tem mais
estrada para pisar nem lugar para acampar. O Fogo do Conselho virou um Fogo Fato
que um dia te pegou nas teias da chapada do Gavin e não existe mais. Deixa
passar a saudade, amanhã quem sabe eu volto, com novas cantigas, com novos
versos de um escoteiro que sempre amou o que fez!
Nota – “Dos
Restos de Velhos Tempos”! - Para exemplo ainda continua a Lua Nas noites
por sobre os novos edifícios; Entre as coisas de cobre é ela a mais
inutilizável. Já as mães contam de animais, chamados
cavalos, que puxavam carros. É verdade que quando se fala de
continentes já não são capazes de acertar com os nomes: Pelas grandes
antenas novas Já dos velhos tempos
Se não conhece nada. Bertold
Brecht