Conversa ao pé do fogo.
E ele pensou que está na hora de parar!
... – Não é boato, ele tomou uma decisão. Disse para si e seus amigos...
“Está na hora de parar”! A velha frase de Ander Monte “Um amor de verdade nunca
parte de nossas vidas, mas reparte conosco um pedaço de si e nos deixa saudades”.
Não são muitos, mas são frequentes. Desiludidos, acabrunhados tomam a decisão
de deixar o Escotismo um amor de verdade, mas com enfrentamentos desconhecidos
e para não se machucar, resolveu sair. Sair? Se ainda nem terminou sua jornada?
- Cada um tem seu quinhão de verdade, de escolha que aqueles mais
próximos tentam entender se o caminho tomado não seria melhor para sua
felicidade. Quando as coisas perdem o sentido, nos sentimos enfraquecidos e
desgastados É preciso saber sentir e ponderar que a nova trilha que estamos
tomando... Será ela o melhor caminho? Desistir não quer dizer abandonar o barco
diante de qualquer dificuldade, sem comprometimento algum; mas sim ter
consciência de si para saber quando atingimos nosso limite. Desistir muitas
vezes pode simbolizar o fim de um ciclo de inúmeras tentativas fracassadas. E
essa última tentativa pode ser a mais difícil e também a que trará mais alegria.
Os casos se sucedem se multiplicam. Muitos saem sofridos outros
infelizes, mas tem aqueles que precisavam dar adeus à doutrina escoteira para
iniciar novo ciclo da vida. Sabem que ele nunca será esquecido, os velhos
tempos de acantonamento, de acampamento, de bandeiras ao vento, de cumprimentos
com a esquerda, da saudação soldadesca, dos encontros com amigos, de abraços,
de Melhor Possível Sempre Alerta e Servir ficaram para trás. Muitos tendem a achar que desistir é sinônimo de fraqueza, porém, muito
pelo contrário, desistir é sinal de força e coragem. Desistir não significa,
necessariamente, fraquejar ou parar de tentar, mas sim parar de investir uma
energia preciosa de vida em algo que não a está deixando fluir. Desistir muitas
vezes é outra forma de tentar e buscar ser feliz.
Os motivos se multiplicam. Para cada um tem
uma verdade. Amava e ainda ama aquela associação e seus jovens heróis.
Entretanto acreditou em quem não devia acreditar. Às vezes acreditamos no
encantamento, na alegria pensando ser duradoura, e quando tudo perde o sentido
por causa de uns poucos paramos para pensar. Até onde tudo isso vai nos levar?
Bah! Mas que saudades eu tenho das reuniões, das matilhas, dos lenços
coloridos, dos sorrisos dos fedelhos lobinhos, da moleca escoteira que fazia graça
para poder andar com as próprias pernas. E eis que a verdade, a cortina vai aos
poucos se abrindo mostrando que nem todos jogam no mesmo time. Ali estão os
arrogantes, os emproados que se acham dono do lugar. Metem os pés pelas mãos
querendo mostrar seu poder. Que poder? Sabia que aquele velho Chefe dizia: - “O
poder do nada”. Só a vontade de ser o que não é e para isso não se importa em
pisar em inocentes, em alguém que só pensava em ajudar.
São tantos os sabidos, os notáveis, alguns sem nenhuma classe
escoteira, sem nenhuma galhardia, uma galanteria que quem sabe não teve alguém para
ensinar. Sinceramente, às vezes sinto vontade de dar um pontapé no traseiro e
sorrir quando ele perguntar por quê? E responder, foi merecido! Sei que isto
não é um pensamento do bom escoteiro, mas brejeiramente sempre acreditei que
ser irmão de ideal é respeitar e saber compreender dialogando, ouvindo e falando
para que as divergências fossem sanadas. Bah! Mas machuca lembrar-se de tudo
que aconteceu. Um olhar diferente, uma voz diferenciada, a vontade de
discordar, de mostrar que tudo que a gente pensa não é o caminho a seguir.
E o tempo passa... Poderia retornar? São tantos motivos para sim e
outros tantos para não. Nossa! Que vontade de vestir minha farda, colocar meu
lenço, sair por aí com um sorriso nos lábios para encontrar a meninada
escoteira... De pé se saber o que fazer tendo no pensamento um ponto de
interrogação me pergunto: Vou ou não vou? Foi Descartes que escreveu se
pensando era um afirmativo de existo. Será que vou censurar aqueles que vestem
o que não gosto? Fecharei os olhos para não ver? Piso nas nuvens do tempo
quando prazeroso aplaudia alguém que recebia uma condecoração, uma comenda, um
cordão de eficiência e pulava de alegria nos dias da entrega de um Cruzeiro do
Sul de um Lis de Ouro ou Escoteiro da Pátria. Duvidas misturadas na conjunção
do tempo. O coração chora por dentro.
E então me pergunto que escotismo é esse? Do pensador Baden-Powell? De
suas belas escritas onde surgiu as mais belas palavras surgidas naquele dia
venturoso, onde empertigado se perfilou para “jurar a bandeira”. Foi o dia que
o sol brilhou a noite cheio de estrelas, a lua passeando nas montanhas e em
casa você pensando: - Gente! Foi sim o mais belo dia da minha vida! E agora? Ficar
rememorando revivendo o passado? Quem foi que disse que vivemos uma nova era, mais
moderna, e os pseudos escritores ou pensadores escoteiros como eu estão fora de
lugar. Se tenho filhos escoteirando à tristeza invade. Se tenho filhos que não
querem mais meu coração chora. Escotismo, oh! Escotismo onde está você que não
te vejo?
- E eu nas asas da imaginação imagino cada amigo meu que decidiu seguir
sua nova estrada onde o escotismo não tem mais lugar. Penso neles guardando sua
tralha escoteira, seus distintivos e certificados. Imagino no que passei,
quantas vezes pensei em esquecer o grande amor que tenho pela filosofia
escoteira. Quantas vezes pensei em dar adeus! Ponho-me no lugar de cada um. Ei
você! Acha que tem direito de parar? Meu amigo quem vai levantar a bandeira do
Escoteiro simples, do lobinho sorridente, da sua vontade em oferecer a ética a honra
e acreditar na palavra do escoteiro? Quem vai ficar no seu lugar? Aquele que
sorriu quando você partiu? Viro-me de esguelha na janela do tempo... E pergunto
sem segundas intenções. E os que ficaram principalmente os que enxovalham o
orgulho escoteiro, que sorrindo viram você partir sabendo que não perdeu seu
poder... Venceram?
Aceito... Às vezes nos encantamos com alguma coisa. Às vezes a pressão
que o mundo escoteiro nos impõe é demais... Precisamos parar, nos desligar
dessas expectativas e cobranças, de pessoas que não nos querem bem e nos
reconectarmos conosco mesmos. Porque não escrevi que adoro colher flores
silvestres? Porque não escrevi sobre disciplina imposta e não aceita? Porque
não escrevi sobre a evasão escoteira que no Brasil é fantástica? Não escrevi.
Mas pensando bem o conselho de um Chefe que devo escrever menos e pensar menos
acho que vou seguir!
Sempre Alerta e Fraternos Abraços!