sábado, 1 de fevereiro de 2020

Conversa ao pé do fogo. E ele pensou que está na hora de parar!




Conversa ao pé do fogo.
E ele pensou que está na hora de parar!

... – Não é boato, ele tomou uma decisão. Disse para si e seus amigos... “Está na hora de parar”! A velha frase de Ander Monte “Um amor de verdade nunca parte de nossas vidas, mas reparte conosco um pedaço de si e nos deixa saudades”. Não são muitos, mas são frequentes. Desiludidos, acabrunhados tomam a decisão de deixar o Escotismo um amor de verdade, mas com enfrentamentos desconhecidos e para não se machucar, resolveu sair. Sair? Se ainda nem terminou sua jornada?

- Cada um tem seu quinhão de verdade, de escolha que aqueles mais próximos tentam entender se o caminho tomado não seria melhor para sua felicidade. Quando as coisas perdem o sentido, nos sentimos enfraquecidos e desgastados É preciso saber sentir e ponderar que a nova trilha que estamos tomando... Será ela o melhor caminho? Desistir não quer dizer abandonar o barco diante de qualquer dificuldade, sem comprometimento algum; mas sim ter consciência de si para saber quando atingimos nosso limite. Desistir muitas vezes pode simbolizar o fim de um ciclo de inúmeras tentativas fracassadas. E essa última tentativa pode ser a mais difícil e também a que trará mais alegria.

Os casos se sucedem se multiplicam. Muitos saem sofridos outros infelizes, mas tem aqueles que precisavam dar adeus à doutrina escoteira para iniciar novo ciclo da vida. Sabem que ele nunca será esquecido, os velhos tempos de acantonamento, de acampamento, de bandeiras ao vento, de cumprimentos com a esquerda, da saudação soldadesca, dos encontros com amigos, de abraços, de Melhor Possível Sempre Alerta e Servir ficaram para trás. Muitos tendem a achar que desistir é sinônimo de fraqueza, porém, muito pelo contrário, desistir é sinal de força e coragem. Desistir não significa, necessariamente, fraquejar ou parar de tentar, mas sim parar de investir uma energia preciosa de vida em algo que não a está deixando fluir. Desistir muitas vezes é outra forma de tentar e buscar ser feliz.

Os motivos se multiplicam. Para cada um tem uma verdade. Amava e ainda ama aquela associação e seus jovens heróis. Entretanto acreditou em quem não devia acreditar. Às vezes acreditamos no encantamento, na alegria pensando ser duradoura, e quando tudo perde o sentido por causa de uns poucos paramos para pensar. Até onde tudo isso vai nos levar? Bah! Mas que saudades eu tenho das reuniões, das matilhas, dos lenços coloridos, dos sorrisos dos fedelhos lobinhos, da moleca escoteira que fazia graça para poder andar com as próprias pernas. E eis que a verdade, a cortina vai aos poucos se abrindo mostrando que nem todos jogam no mesmo time. Ali estão os arrogantes, os emproados que se acham dono do lugar. Metem os pés pelas mãos querendo mostrar seu poder. Que poder? Sabia que aquele velho Chefe dizia: - “O poder do nada”. Só a vontade de ser o que não é e para isso não se importa em pisar em inocentes, em alguém que só pensava em ajudar.

São tantos os sabidos, os notáveis, alguns sem nenhuma classe escoteira, sem nenhuma galhardia, uma galanteria que quem sabe não teve alguém para ensinar. Sinceramente, às vezes sinto vontade de dar um pontapé no traseiro e sorrir quando ele perguntar por quê? E responder, foi merecido! Sei que isto não é um pensamento do bom escoteiro, mas brejeiramente sempre acreditei que ser irmão de ideal é respeitar e saber compreender dialogando, ouvindo e falando para que as divergências fossem sanadas. Bah! Mas machuca lembrar-se de tudo que aconteceu. Um olhar diferente, uma voz diferenciada, a vontade de discordar, de mostrar que tudo que a gente pensa não é o caminho a seguir.

E o tempo passa... Poderia retornar? São tantos motivos para sim e outros tantos para não. Nossa! Que vontade de vestir minha farda, colocar meu lenço, sair por aí com um sorriso nos lábios para encontrar a meninada escoteira... De pé se saber o que fazer tendo no pensamento um ponto de interrogação me pergunto: Vou ou não vou? Foi Descartes que escreveu se pensando era um afirmativo de existo. Será que vou censurar aqueles que vestem o que não gosto? Fecharei os olhos para não ver? Piso nas nuvens do tempo quando prazeroso aplaudia alguém que recebia uma condecoração, uma comenda, um cordão de eficiência e pulava de alegria nos dias da entrega de um Cruzeiro do Sul de um Lis de Ouro ou Escoteiro da Pátria. Duvidas misturadas na conjunção do tempo. O coração chora por dentro.

E então me pergunto que escotismo é esse? Do pensador Baden-Powell? De suas belas escritas onde surgiu as mais belas palavras surgidas naquele dia venturoso, onde empertigado se perfilou para “jurar a bandeira”. Foi o dia que o sol brilhou a noite cheio de estrelas, a lua passeando nas montanhas e em casa você pensando: - Gente! Foi sim o mais belo dia da minha vida! E agora? Ficar rememorando revivendo o passado? Quem foi que disse que vivemos uma nova era, mais moderna, e os pseudos escritores ou pensadores escoteiros como eu estão fora de lugar. Se tenho filhos escoteirando à tristeza invade. Se tenho filhos que não querem mais meu coração chora. Escotismo, oh! Escotismo onde está você que não te vejo?

- E eu nas asas da imaginação imagino cada amigo meu que decidiu seguir sua nova estrada onde o escotismo não tem mais lugar. Penso neles guardando sua tralha escoteira, seus distintivos e certificados. Imagino no que passei, quantas vezes pensei em esquecer o grande amor que tenho pela filosofia escoteira. Quantas vezes pensei em dar adeus! Ponho-me no lugar de cada um. Ei você! Acha que tem direito de parar? Meu amigo quem vai levantar a bandeira do Escoteiro simples, do lobinho sorridente, da sua vontade em oferecer a ética a honra e acreditar na palavra do escoteiro? Quem vai ficar no seu lugar? Aquele que sorriu quando você partiu? Viro-me de esguelha na janela do tempo... E pergunto sem segundas intenções. E os que ficaram principalmente os que enxovalham o orgulho escoteiro, que sorrindo viram você partir sabendo que não perdeu seu poder... Venceram?  

Aceito... Às vezes nos encantamos com alguma coisa. Às vezes a pressão que o mundo escoteiro nos impõe é demais... Precisamos parar, nos desligar dessas expectativas e cobranças, de pessoas que não nos querem bem e nos reconectarmos conosco mesmos. Porque não escrevi que adoro colher flores silvestres? Porque não escrevi sobre disciplina imposta e não aceita? Porque não escrevi sobre a evasão escoteira que no Brasil é fantástica? Não escrevi. Mas pensando bem o conselho de um Chefe que devo escrever menos e pensar menos acho que vou seguir!
Sempre Alerta e Fraternos Abraços!