Crônicas
de uma Velho Chefe Escoteiro.
Quem
quer dinheiro?
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Acho que tendemos a nos fazer demasiado respeitáveis e a nos converter em um
movimento para apenas os rapazes bons, em vez de levar o Movimento para os
rapazes que dele necessitam. O Escotismo nasceu em 1907 entre meninos pobres e,
se economicamente os rapazes melhoraram desde então, por outro lado moral e
espiritualmente existem rapazes tão pobres como naquela época, que necessitam
do Escotismo. Por John Thurman - (chefe de Gilwell Park)
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Sou das antigas. Um punhado de arroz, macarrão e uma naca de linguiça e lá
íamos acampar. Um dois três até doze dias dependendo a época escolar.
Atividades distritais? Cada cidade se virava. O prefeito o Seu Joaquim do
Armazém, os pais correndo de chapéu na mão e tudo saia nos contendo. Fui
crescendo fazendo minhas atividades escoteiras sem Money, sem tutu, sem necas
de catibiriba de dólar. Até hoje sou um velho escoteiro esclerosado. Detesto
taxas, mensalidades e coisa e tal. Mas sei que elas precisam existir. Nem
sempre se consegue um bom material de Patrulha, de Matilha, da diretoria do
grupo e até mesmo o deslocamento para o campo. Isto claro se o grupo adotar o
método Badeniano de viver a vida escoteira ao ar livre. Quem sofre mais são os grupos nas grandes
cidades. Um sufoco para sair. Agora pagar para acampar em um terreno? Juro que
não pagaria. Jamé!
- Se
tivesse condições “saudescas e juventude” eu toparia começar de novo, em um
grupo, fazendo o que fiz. Dizer que o escotismo mudou pode ser. Ele não mudou
eles chefes e associação é que mudaram com ele. Criaram normas, artigos,
subitens e meteram tudo na casa de BP. Pobre Paxtu, agora é um programa de
computador. Eles não perdoam o mestre. Risos. Outro dia li a pergunta de um
Chefe que queria saber quanto cada grupo cobra de mensalidade. Eita! Grande
“Perguntasso”! Fiquei embasbacado, soube de grupo que cobra tantos Euros que
tremi na base. Tem aqueles que cobram em Dólar e outros ficaram nos trinta e
pouco até duzentos mangos. Mas os humildes escreveram com pena: - Chefe! Apenas
cinco paus! E olhe que é duro para receber! Sei como é. Já vi este programa na TV.
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Quando vejo os preços cobrados para atividades distritais regionais e nacionais
quase dou um troço! Já sem ar corro a tacar na cara meu inalador pessoal. E as
brigas, discussões, desavenças, pau na cumbuca em atividades nacionais e
regionais? Lá estão às fotos, os vídeos dos barrigudos, barbudos com as camisas
esvoaçantes na pança, gritando, dando berros querendo seus direitos. Meu Deus!
Isto é fraternidade? O cara paga caro uma vestimenta, solta a camisa, paga a
viagem, paga a taxa de inscrição, compra quinquilharias na lojinha, só para
assistir este espetáculo grotesco? Mas tem outros que não. Tiram o sábado para
tascar medalhas. Todas foram regiamente pagas. Se o medalhado merece tudo bem
se não fica o dito pelo não dito.
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Tem estados apaziguados. A turma vai para se confraternizar. Beijinhos,
abraços, aperto de mão e sempre alerta, claro sempre com a camisa solta no ar.
Eita camisa idolatrada pela chefaiada atual. Fico pensando o que o povão acha
disso. A dona EB até hoje não perguntou. Queria saber o que o Ibope e o
Datafolha iriam perguntar: - Gosta de barbudo, barrigudo com a camisa prá fora?
Tenho dito que este escotismo de hoje não é o meu. Não é mesmo. Tive a honra de
ser convidado para Comissário Regional em Minas Gerais. Fiz com meus amigos
assistentes, gente fina, que se dedicaram sem esperar recompensas e sem mandar
cartinhas ameaçando alguém um escotismo fraterno e amigo. Sem desavenças.
Apenas um papo, umas caipirinhas ou as loirinhas da Brama ou Antárticas e tudo
se resolvia. Nada como conversar. Assim se entende não é?
- Me
lembro dos Conselhos Regionais. Conselhos gente! A turma achou melhor copiar o
PT a CUT e o escambal e mudaram para Assembleia. Nunca ouve taxa. Nunca. E olhe
que ofertávamos o material doado por alguma empresa ou por dirigentes de
famosas lojas locais. E olhe que ainda tinha transporte gratuito. Isto pode?
Pode e se não acredita pergunte a quem esteve lá. Ainda tem muitos. Foram muitos Acampamentos Regionais e
distritais sem taxa. Levamos centenas de patrulhas de minas e do Brasil pelo
interior de Minas Gerais. Mas famosas mesmo ficaram as Indabas. Estas tinham o
cheiro de quero mais. Bate papo, Fogo de Conselho, jogos, trabalho em grupo,
sistema de patrulhas, todos dando ideias de como melhorar o escotismo e o
Estado Escoteiro. Isto não existe mais.
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Sei que tem muitos que estão lendo de outros estados que fizeram o mesmo. Outro
escotismo onde o dinheiro não é tudo. Onde o Zé Pereira de Mato Dentro e o
Escoteirinho de Brejo Seco podiam participar. Às vezes eu me pergunto: - Será
que estou errado? Porque esta grandeza, esta superioridade em ser o melhor? Comprar
sedes monumentais, viajar pelas “estranjas” Oferecer riquezas e nobrezas a quem
paga e quem não paga que vá dormir na barraca furada... E aqui estou eu pedalando
meus dissabores, meus penhores que penhoradamente vivo por aqui a reclamar.
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Desculpe, me pergunto se tenho direitos... Acho que tenho. Já chegando aos 72
anos de escotismo bem escoteirado. Saudade da sede regional simples no Prédio
do Palácio dos Esportes, a gente lá fazendo plantão para receber os escoteiros
visitantes do interior ou pegando ônibus de carreira para uma visita em alguma
cidade de nosso estado. Planejando, só a Vovó Conceição ajudando na burocracia,
e a turma de assistentes verdadeiros heróis combatentes lutando para oferecer
tudo... De graça gente! De graça!