quinta-feira, 12 de julho de 2018

Conversa ao pé do fogo. Autorização Provisória. Uma história quase real.



Conversa ao pé do fogo.
Autorização Provisória.
Uma história quase real.

                  Eu era o recém Comissário Regional em Minas Gerais. Ainda balançando nas redes do poder, mas continuava o mesmo matuto escoteiro que sempre fui. É uma história verídica, aconteceu há muito tempo, se me lembro bem em 1968 por aí. Trabalhava na Siderúrgica Mannesmann e quando terminava meu turno no retorno para casa sempre passava na sede regional para ver se tinha visita, alguma correspondência ou mesmo revisar algum planejamento que estava desenvolvendo junto aos amigos assistentes regionais. Coisa de uma ou duas horas por dia e depois pegava o ônibus para minha casa.

                  Meia hora depois entrou sede adentro um Coronel da PM. Educado, simpático e ainda fez o Sempre Alerta no melhor estilo inglês batendo as botinas. Apresentou-se. Foi logo no assunto – Comissário preciso de alguém para dar um curso para alguns voluntários na minha cidade. Queremos organizar um Grupo Escoteiro e não temos ninguém que conhece bem o escotismo. Terá todo apoio. Prefeitura, Lyons, Rotary, Maçonaria e Batalhão da Policia Militar. Conversamos por meia hora. Resolvi eu mesmo ir lá e preparar estes voluntários com um informativo. Dois dias.

                  Expliquei sobre se poderia ser acampado. Dei detalhes. Dei relação de materiais. No dia determinado embarquei no noturno das sete da noite. Cheguei lá por volta de onze horas. Um sargento em um jipe me esperando. Fomos para o local. Um clube de campo com um belo bosque. Barracas armadas e alinhadas uma ao lado da outra. Uma recepção militar. 60 soldados, cabos e sargentos formados em dois batalhões. Um corneteiro tocou “saudação à autoridade” quando cheguei.

                 E agora José? Ia ser difícil com sessenta homens funcionar bem no sistema de patrulhas. Nunca o deixei de lado nas minhas andanças e nos meus cursos. Mesmo assim formei dez patrulhas com seis cada. Dei tempo para grito, escolha do Monitor e demais membros da Patrulha. Quinze minutos depois chamei os monitores. O capitão não saia do meu lado. Vieram marchando e prestaram continência. O curso não foi ruim. Difícil esquecer o militarismo. O Capitão não gostava do que eu fazia. Não disse nada. Três dias. No final todos eles sem uniforme. Civil. Se divertindo a valer. Patrulhas ótimas. Escotismo na “pinta”. Dei adeus.

                  No retorno o capitão me levou até ao quartel para me apresentar ao Coronel Comandante na cidade. Disse que foi informado como foi o curso. Não gostou. Seus soldados são soldados. Sem diálogos. Disse que não iam mais fazer o grupo. Melhor seria uma Guarda Mirim. Perdi meu tempo? Na estação todos os alunos estavam lá. Abraços, sorrisos, lágrimas e despedida. Juraram que o grupo ia sair. Uma semana depois fui convidado a comparecer ao Quartel Geral da Policia na capital. O coronel pediu desculpas. Pela primeira vez soldados, cabos e soldados fizeram um abaixo assinado. Pediam o grupo. O coronel da cidade foi trocado. Um grupo surgiu. Cinco anos depois um dos melhores do estado!

                   Historias. Ah! Quantas foram? Não importa, as lembranças estão aqui para confirmar.

Nota – Esta é uma historia quase real. Aconteceu, mantenho em OF o nome da cidade e dos militares. São historias que valem a pena ser relembradas tantas vezes para ver que tudo vale pena, mesmo quando achar que não. Onde andam hoje? Não sei. Gostaria de saber se o escotismo de lá (ainda tem um grupo) é o mesmo daquela época. Quem sabe?