Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Benjamin de Almeida Sodré – O Velho Lobo.
Em meados de 1952 eu já tinha passado para os escoteiros. Havido em
aprender tudo sobre escotismo me deliciava com minha patrulha e atividades
aventureiras. Meu Chefe contava muitas histórias de BP e eu me deliciava. Um
dia fazendo uma limpeza na sede fui guardar a bandeira nacional em uma estante
vi lá no fundo da gaveta um livro Escoteiro. Era o primeiro que via em minha
vida escoteira. O peguei como se tivesse encontrado um tesouro. Seu titulo era:
- Guia do Escoteiro – Velho Lobo – Em cima escrito: - Pelo futuro do Brasil.
Fiquei impressionado. Folheei algumas páginas. Incrível o que havia ali. O Chefe
deixou que o levasse, mas para tomar cuidado e devolver. Fui para casa e lá
fiquei toda à tarde, à noite e até o amanhecer lendo o livro, um livro que me
marcou por toda a minha vida escoteira.
Hoje sei que nossa biblioteca escoteira tem joias para deglutir com
gosto de aprender escotismo. Mas naquela época em uma cidade escondida ao norte
de Minas Gerais era impossível ver os famosos livros do fundador. Foi nele que
aprendi muito do escotismo que sei. Seu autor ficou para sempre gravado em
minha memória. - Benjamim
de Almeida Sodré um escoteiro e um futebolista brasileiro que ficou conhecido
como Mimi Sodré. Campeão em 1910 e 1912, pelo Botafogo. Mas isto para nós
escoteiros não tem muito interesse. Filho de Lauro de Almeida Sodré se tornaria
um personagem muito importante na História do Escotismo Brasileiro.
Interessante que foi o primeiro a ser chamado de “O Velho Lobo” e que teve
muito de sua vida passagens e características semelhantes à de Baden-Powell.
Ainda criança mudou-se
para o Rio de Janeiro e depois de terminar seus estudos secundários prestou
concurso para admissão na Escola Naval sendo aprovado em primeiro lugar. Fez
brilhante carreira na Marinha Brasileira, sobrevivendo ao naufrágio do rebocador
Guarani, em 1913 e posteriormente chefiando a Comissão Naval Brasileira durante
a II Guerra Mundial. Tornou-se Almirante em 1954. Assim como Baden-Powell tinha
uma série de talentos. Professor de Astronomia, Navegação e História da Escola
naval publicou diversos trabalhos. Desde que entrou para o escotismo brasileiro
tornou-se um seguidor dos ideais de B-P participando da fundação dos Escoteiros
do Mar e do primeiro Grupo Escoteiro de Belém. Seu livro o “Guia do Escoteiro”
de 1925, é uma das mais importantes obras do Escotismo Brasileiro.
O “Velho Lobo” teve papel
fundamental na idealização e criação da União dos Escoteiros do Brasil ao
reunir quatro de algumas das confederações existentes. Escoteiros Católicos, do
Mar, Escoteiros do Brasil e Federação Fluminense de escoteiros. Foi honrado com
uma série de títulos, entre eles o de Cidadão Honorário do Rio de Janeiro.
Recebeu várias medalhas de mérito, presidindo a Ordem do Tapir de Prata a mais
alta condecoração do escotismo brasileiro. Faleceu em 1º de fevereiro de 1982,
dois meses antes de completar 90 anos. Atualmente diversos grupos em todo o
Brasil honram seu nome de Almirante Benjamim Sodré. Uma homenagem de poucos
escoteiros do Brasil. Vale notar que no passado a revista “(O Tico-Tico) uma
das principais publicações infantis do país, abrigou em 1922 uma coluna
ESCOTISMO na qual o pseudônimo de “VELHO LOBO” dava sua importante contribuição
para a formação da juventude brasileira”. Após escrever o “Guia do Escoteiro”
em sua época foi reconhecido por muitas personalidades entre as quais Coelho
Neto, Rui Barbosa e Olavo Bilac.
Reconhecido como um "IMPOLUTO
MAÇOM", dadas suas qualidades de caráter foi eleito membro honorário e
escolhido Deputado da Assembleia Legislativa do Grande Oriente do Brasil,
chegando a exercer o cargo de Grão-Mestre. Ocupou várias posições importantes
na hierarquia naval, tendo-se destacado em combate e durante um naufrágio onde
salvou bravamente dois colegas oficiais e um marinheiro lutando contra condições
adversas no mar. Ocupou várias posições importantes na hierarquia naval,
tendo-se destacado em combate. Quando o Brasil estava em guerra contra os
países do eixo, (Alemanha-Itália) foi encarregado de comandar o petroleiro
Marajó, único da frota brasileira a transportar de Trinidad, nas Antilhas, o
combustível necessário à nossa Esquadra. Apesar de ser presa cobiçada pelos
submarinos inimigos, o Marajó foi levado a bom termo, cumprindo o nosso
Benjamin Sodré a perigosa missão. Isto foi em 1940/41. Com a vida ligada aos
Escoteiros, à Marinha e à Natureza, e dotado de fina sensibilidade e
misticismo, Benjamin Sodré deixou-nos um texto, inspirado por ocasião da
celebração de uma missa rezada em 28 de setembro de 1948 na igrejinha da Boa
Viagem (Niterói), pelo Bispo D. João da Mata:
Eis o
texto:
"Há
12 anos eu sou o sineiro da Boa Viagem. Sineiro convicto, emocionado.
Entretanto, todos sabem que não sou religioso. Se o Bispo fizesse alusão a
isso, como eu responderia? Diria que faço tudo por Zi (apelido carinhoso da
esposa), que tanto tem se dedicado à sua linda capelinha. É a ela que eu sirvo,
trabalhando pela igreja. Mas, também, é verdade que venero as imagens no que
elas simbolizam: a Virgem Maria representa a Bondade e o Amor Infinitos das
Mães; minha mãe, minha esposa, minhas filhas. São Jorge, o padroeiro dos
escoteiros, é o cavaleiro indômito, exemplo de fortes virtudes; São José, Santa
Joana D'Arc... Jesus sintetiza a moral cristã, que eu sigo como moral, como
seguiria as normas de Confúcio, Buda e todos os grandes filósofos moralistas
pregadores. Os padres, sempre os olhei com simpatia e admiração; são homens que
se sacrificaram por um ideal de fé, privando-se do que a vida tem de mais belo,
por amor ao próximo. Por todos esses motivos, sou há 12 anos, com convicção, o
sineiro da Boa Viagem. E não creio que alguém assista à Missa com maior
emotividade do que a minha. Oh! O que aquela capelinha representa na minha
vida!... Aquela igrejinha é muito nossa e, por ela, por amor a Zi, tudo
farei."
Escritor
e poeta, Benjamin Sodré legou-nos algumas páginas inspiradas, de puro
lirismo... Este é um trecho do texto que chamaríamos de "Contemplando a
manhã":
"Sem
nos apercebermos, enquanto o espírito está suspenso na contemplação
maravilhosa, quase as sombras foram afugentadas... Uma franja avermelhada
coroa, agora, todo o Oriente. A mata despertou toda... Os trinados
multiplicam-se, são incontáveis... O mar está azul. Nas ilhas, a vegetação vai
tomando o colorido habitual... Surgem os primeiros rumores da vida humana... O
sino da ilha bate sonoro, cadenciando o sino da alvorada... Mais alguns
segundos, o sol irrompe prodigioso, pondo por todo o mar, em todas as árvores,
uma faixa forte e viva de luz dourada... Vida!... Vida!... Tudo estreia em
intensa vida, com o ressurgimento do Grande Final Criador!...”.
Almirante
Benjamim Sodré – (10 de abril de 1892 — 1 de fevereiro de 1982).
Nota –
Uma homenagem a um grande escoteiro. Almirante Benjamim Sodré. Seu livro o Guia
do escoteiro norteou muitos como eu nas sendas do escotismo. Para ele eu tiro o
meu chapéu!