sexta-feira, 20 de julho de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Acampar... Lar doce lar...



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Acampar... Lar doce lar...

Hã é doce morrer no mar é doce viver e acampar! Pois é, viva o acampamento. Não dizem assim o acampadores? Claro, um convite sem taxa, uma lotação de graça, pais cozinhando... Nossa! É doce morrer no acampamento... Se é! Chefe! Vai acampar? Me convide, adoro a vida no campo... Quantas vezes ouvimos essa frase? Vamos e venhamos que acampar é bom, mas preparar os bagulhos do acampamento não é. Claro, depende de tropa por tropa. Tem aquela que os pais fazem tudo e tem aquelas que o Chefe se mata de trabalhar.

Preparar um acampamento de tropa é coisa de doido. Tralhas, barracas, panelas, sapa... Ufa! Deus do céu me ajude! E a “farofa” – Seu Manuel estou de pires na mão, colabora com nosso acampamento? Seu Manuel olha torto. Agora é assim escoteiros vão acampar e querem comida de graça! Quer mesmo? Vão acampar no Jamboree! Lá tem “boia” para os Chefes Staffs. Conheci um grupo escoteiro grã-fino, cheio da grana, tinha profissionais para tudo. Acampavam muito no CCB (Camping Club do Brasil) e o último foi no Clube Meed na praia do arpoador. Suas chefes diziam que adoravam acampamentos. Kkkk, assim até eu!

Fui de uma época que o Chefe dizia: Vamos acampar em Pedra do Sino? – Vamôoo! E mais nada. Boca Larga nosso intendente já tinha tudo nos trinques. Ele era exigente. Quer facão? Tudo bem vai e volta e cobrava, como cobrava. Cada um sabia o que levar. Se fosse em trilha ou estrada vicinal tinha as carretinhas. Sempre um joguinho e quem ganhasse ia de carona em cima da carretinha. Dois dias ração A, três dias ração B, quatro ou mais ração C. Tudo empacotado nas mochilas. Todos sabiam de cor. Mamãe! Ração C! Vado! Aí aperta, supermercado só na semana que vem. E lá ia eu pedir para a Tia Mellita.

O campo era uma fartura, Lobrobô, taioba, aipim, bananinha verde, maxixe, uvinha de São Sebastião, goiabinha da terra, abacate, e com sorte até mesmo jabuticabas e Bananas da Terra para fritar. E os peixes? Traíra, bagre e se der sorte uma bela corvina isso sem contar os lambaris que sempre davam uma bela fritada. Pássaros e animais hoje não pode mais, mas naquela época... Hoje não é mais assim. O Chefe quando não tem uma comissão de pais para ajudar é o faz tudo. Prepara a lista de alimentos, verifica junto com as patrulhas as tralhas de campo, ajuda a amolar o facão ou a machadinha e quando falta lá vai ele comprar ou ganhar de um amigo.

E no dia do acampamento? Dona Ana com Mateus: - Chefe ele tá tossindo, aqui tem xarope e comprimido. E a Dona Araci? Chefe não vai poder levar celular? Chefe como vou falar com ele? Não vou aguentar de saudade Chefe! E por aí vai. Opa! Esqueci de comentar o transporte. Lá vai o Chefe atrás de alguma empresa especializada tentando de graça. Chefe Poti, já é a oitava vez! Não dá para ficar oferecendo ônibus de graça! Mas Tunico Boa Ventura, o prefeito diz que a prefeitura está quebrada! Ele que se vire, a pé não vai dar...

Gosto das novas tecnologias. Dizem que no Jamboree a turma estava cozinhando. Beleza vi algumas fotos, uma bela mesa de taboa, vários chefes e meninos com fogão ou fogareiro a gás fazendo a boia do dia. Beleza. Queria ver eles com seus fogões suspensos, sem tijolo a cozinhar no céu de brigadeiro. Falando nisso alguém me explica os 5.200 acampantes se o do Rio e do Rio Grande do Norte teve mais? A taxa? Afinal São Paulo não tem o maior número de escoteiros no Brasil? Porque só 5.200? Mal explicado, mal explicado, mal explicado...

Bem de uma coisa eu sei, acampar é bom demais mas preparar um acampamento dá trabalho. Nas capitais agora se paga. Quanto? Não sei, acho melhor mandar os meninos para um bom Campo de Férias. Tá cheio deles por aí. Taxa? Nem vou falar. O Mestre Josafá, grande Chefe de um grande Grupo Escoteiro me diz que eles não tem esse problema. Dinheiro não falta, emprego todos querem. É só pagar e montar um acampamento de cair o queijo. Melhor levar todo o grupo, lá tem tudo, barracas do exército, barracas Iglus, soube até que tem aquelas Canadenses da minha época, todas brilhantemente armadas!

Belos tempos, belos campos. Tudo discutido e preparado na corte de honra. Maneco! A Tralha da Patrulha? Nos trinques chefes. Vamos na base da ração? Claro Chefe, ração C para cinco dias! Noal seu pai conversou com o Tonico Caçarola para nos levar no caminhão da prefeitura até o entroncamento? Sim Chefe. E lá íamos nós. Material no local, monitores e patrulhas escolhendo seu campo. Três horas para o almoço, o fogão suspenso, a mesa e as coberturas. Tropa da boa sô! Agora sim é aproveitar o sol, as estrelas a lua e o gavião que quer ver o que vai sobrar da matutagem para deglutir no seu paladar!

Nota – Hoje resolvi falar de acampamentos. Dizem que acampar é bom demais, mas preparar o dito cujo não é mole. Como dá trabalho. Dizem que os grupos escoteiro modernos vão no Whatsapp e preparam tudo. Tem aplicativo para todos os gostos. Eu ainda não vi um deles, meus acampamentos eram diferentes. Ração A ou B, mochila nas costas e pé na estrada!