quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Conversa ao pé do fogo. Acampar, um sonho escoteiro.



Conversa ao pé do fogo.
Acampar, um sonho escoteiro.

- “O Acampamento é a grande atração que chama o rapaz para o Escotismo e oferece o melhor ensejo para ensiná-lo e confiar em si próprio, e a desenvolver o espírito de iniciativa, além de lhe dar saúde e robustez”!

Parte II
                     Já comentamos que um acampamento requer uma preparação e uma organização perfeita. Considero e repito que isto é a “alma do negocio”. Se ele for feito como o jovem esperava vai trazer sem dúvida nenhuma sua permanência por mais tempo no escotismo. Vocês já devem ter visto um desenho onde se diz que – “ele esperava isto, e encontrou aquilo”. Ele sonhava com atividades mateiras, escadas de cordas, barracas em cima de árvores, construir pontes, transmitir por bandeirolas, aprender sinais de fumaça, nós, pistas de animais e tantas outras técnicas mateiras. Mas encontrou ao contrário, um Chefe falando, falando e falando. Ou quem sabe um Chefe apitando, um Monitor mandão, uma Patrulha desanimada, o Chefe fazendo uma atividade com um por um e ele cochilando na Patrulha esperando a sua vez. Ele vai voltar? Não vai. Era isto que esperava? Não era.

                   Lembramos que por melhor programa que se faça sem um bom Monitor nada vai dar certo. Só com um bom Monitor pode-se atingir a perfeição do Sistema de Patrulhas e sem isto o acampamento será um amontoado de corre, corre sem saber aonde se vai sem rumos definidos. Acredito que todos que me leem conhecem bem o Sistema de Patrulhas ou já leram sobre isto. Admiro muito que o Chefe Escoteiro E. E. Reynolds escreveu. Ele foi perfeito em seu livro Aplicando o Sistema de Patrulhas (se você não leu e gostaria de ler, eu tenho em PDF, é só pedir por e-mail). No livro ele descreve pormenores interessantes sobre o tema. Pensando que você já tem Monitores bem preparados, patrulhas adestradas antes do acampamento, um bom material para as patrulhas e para você mesmo, um bom local já escolhido previamente e devidamente autorizado, não haverá duvidas, o acampamento será perfeito.

                  Não é fácil montar um acampamento. Na parte I comentamos sobre muitos temas. Eu sinceramente não gosto de acampamentos só para ricos ou que o grupo assuma com todas as despesas. Nem mesmo para uma meia dúzia. Nada deve ser dado de graça. Tem que haver uma taxa, a menor possível. O jovem ou a Jovem devem aprender desde cedo que a vida não é um mar de rosas e nem tampouco que sempre haverá alguém para auxiliá-lo. Assim é importante que ele consiga por meios honestos pagar parte de suas despesas no escotismo. Para que as despesas do acampamento não sejam altas existem inúmeras possibilidades:

a)     Uma taxa de todos para cobrir as despesas, tais como – transporte, alimentação e outros. Esta é a maneira usual. É caro isto. Depende do Grupo Escoteiro e se os membros têm condições de pagar. Vejamos como diminuir um pouco esta taxa.
b)     Uma comissão de três ou quatro escoteiros acompanhados de um Chefe ou pai para tentar junto à prefeitura, órgãos militares, empresas de ônibus e visando conseguir transporte gratuito. Sei que se estiverem bem uniformizados e treinados no que falar o sucesso é garantido.
c)     Uma reunião de pais dos jovens da tropa (acredito que o seu grupo “amarrou” os pais desde a entrada do seu filho ao grupo) para discutir o assunto. Se houver um trabalho em equipe com eles, podem surgir ideias de algum supermercado que possa colaborar ou mesmo dar um bom desconto. Assim a alimentação não ficará cara. Note-se que o cardápio foi simples. Como se diz na gíria, “o arroz com feijão feito em casa”.

                 Não esquecer que é preciso cumprir certas normas portando ler a parte de Acampamentos no POR é importante. Fugir delas e acontecer algum acidente podem complicar a vida do Chefe, do grupo e o nome do escotismo na comunidade. Alerto principalmente para o banho em lagoas, rios, mar e represas. Não esquecer principalmente a autorização por escrito dos pais. Tudo feito, tudo nos “conformes” estamos no campo aonde iremos junto às patrulhas passar por bons momentos acampando. Na chegada é hora de escolher os campos de patrulhas. Importante que desde a saída da sede até o retorno a disciplina é cobrada a todo instante e sempre através dos Monitores. Aprenda a se dirigir a eles sempre. A escolha dos campos de Patrulha pode ser feita pelos Monitores ou mesmo com a Patrulha unida. Claro, não se esquecer de orientar quanto às probabilidades de tempestades, galhos caindo, terrenos encharcados ou mesmo enchentes/surpresas que é muito comum em córregos ou riachos.

                       Escolhido o campo de cada Patrulha é hora da montagem do campo. O tempo para isto vai depender muito do horário de chegada. Não esquecer, o Chefe também tem campo em separado e nele fará suas pioneiras tais como fogão suspenso (ele cozinha para sí e só em casos especiais ele aceita o convite das patrulhas). A escolha de seu campo se possível deve ter uma visão de todo os campos de patrulhas. As patrulhas já sabem que irão fazer um fogão suspenso com toldo, um lenheiro, uma mesa com bancos para todos e claro com toldo, armar as barracas levando em consideração o vento e o terreno, fossas e claro um pequeno WC afastado do campo pelo menos trinta metros. Claro que é possível não terminar no primeiro dia, mas teremos o segundo e o terceiro. Conheci patrulhas que faziam tudo isto em acampamentos de fins de semana. Torno a repetir, sem um bom cozinheiro, sem um bom almoxarife, sem um bom aguadeiro, intendente ou construtor de pioneiras e uma perfeita sincronização da equipe o acampamento pode deixar a desejar. Monitor? Sem comentários. A peça principal.

                       O programa do acampamento deve ser flexível. É preciso que as patrulhas se conheçam. Deixe-as trabalharem. Evite o máximo ir ao campo delas, pois se não ficarão sempre dependentes do Chefe. Problemas se houver o Monitor vem até ao campo da chefia e se necessário o Chefe chama o Escoteiro ou a Patrulha toda para uma Conversa ao Pé do fogo ali no campo da chefia. Eu costumava ter em frente a minha barraca um local para fogo, com pedras em volta e pequenos troncos já caídos para servirem de bancos. Era o local para fazer as reuniões de Corte de Honra, Conversa ao pé do fogo etc. Cuidado para não ser severo demais. Eles foram acampar pensando que seria bom e não tire isto deles. Lembrar-se que uma conversa individual é ouvir e saber aconselhar. Por favor, não faça ameaças. Ele não foi ali para ser ameaçado. Você é mais "Velho" que ele e sabendo entender tudo se resolve.  O Monitor pode estar junto ou não. Vai depender do assunto.

                         Eu costumo dizer que o acampamento é realizado sem horários apertados. Muitas vezes se necessário é melhor deixar que eles aprendam a fazer fazendo, tentar sempre até fazer o certo. Importante explorar as amizades, o campo o que fazer e como fazer. Nestes casos chamamos de atividades de Tempo Livre. Por partes poderíamos dizer que o tempo seria:
- Tempo livre – Horários para preparar refeições e limpeza ao terminar. Pelo menos três horas e meia.
- Horários para atividades pela manhã e a tarde – Jogos ou excursões a pequenas distancia com metas programadas. Jogos noturnos. Pelo menos oito horas de sono – Alvorada bem cedo – se possível educação física (só quinze ou vinte minutos) – após pelo menos três horas para a refeição matinal -- Preparar campo para inspeção, horário de bandeira, avisos etc. Todo o programa do dia seguinte é discutido na véspera em Corte de Honra.

                       Na última parte iremos detalhar como é feito a inspeção de Gilwell, Conversas ao Pé do fogo, Corte de Honra, jornadas e o Fogo de Conselho. Iremos dar ideias para um fogo só da tropa. Este sim deve marcar sempre. Tudo irá dar certo e repito só dará certo se você se preparou antes. A máxima de “se vai para o mar, avie-te em terra” não deve ser esquecida. Lembre-se deixe que eles vivam a natureza, que “se virem” sozinhos em Patrulha. Você ir lá não ajuda e só atrapalha. Na minha humilde opinião aconselhe os pais para não visitarem o acampamento. Eles ali não são bem vindos. Um dia quem sabe será feito um acampamento com esta finalidade, mas isto esporadicamente. Já vi casos de jovens chorando querendo voltar para casa. O pior é que isto, um pequeno fato pode levar todo o sucesso que se esperava jogado por terra. Cuidado com celulares ou outros. O Escoteiro foi acampar para viver a vida de um aventureiro, um mateiro, a aprender a viver em equipe junto à natureza. Alguns trabalhando e outros conversando em seus aparelhos não são bons exemplos. Basta um ou dois com a chefia e mais nada.

Nota – Amanhã a parte III e ultima desse artigo.