Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Posso contar uma história?
Prefácio: - Era uma vez... Em uma montanha bem perto
do céu... Venha, venha comigo contar uma história...
Quem não gosta? Quem nunca se sentiu atraído para dentro da história
vivendo com os personagens e tentando adivinhar o que virá depois? Contar
histórias é um incentivo a imaginação não só de crianças, mas nos adultos
também. No escotismo elas fazem grande diferença para criar uma atmosfera
agradável dentro de um ambiente que se cria por palavras e atos.
Afirma-se
que é uma das grandes oportunidades de desenvolvimento da imaginação infantil.
É uma das atividades mais antigas do ser humano, servindo inicialmente para
contar fatos recentes ou episódios passados, formando agrupamentos fortalecidos
e comunidades com identidade e origem. Estes são momentos nos quais se abrem
oportunidades importantes para a construção de uma identidade social e cultural
que será apresentada a criança. Por meio delas podemos enriquecer as
experiências infantis, desenvolvendo a linguagem, ampliando vocabulário,
formando o caráter, a confiança no bem e proporcionando a ela viver o
imaginário.
Eu gosto de contar histórias. Quando Escoteiro, Sênior, Pioneiro e Chefe,
passávamos horas adentrando a madrugada em volta de um fogo de conselho, em
conversas ao pé do fogo, ouvindo, vivendo as personagens e até mesmo arriscávamos
a contar a nossa historia...
Aprendi a criar
histórias baseadas na minha vivencia escoteira ou aquelas que um dia me
contaram em volta de uma fogueira, ou mesmo dentro da barraca quando uma chuviscada
de inverno caia e ficávamos lá imaginando como seria bom estar lá com eles, os
personagens da história.
João Pequeno um rapazote
dos seus dezesseis anos sem eira nem beira não entendia nada de escotismo, mas
como sabia contar histórias. Prendia a todos nós na sala de aula e um dia o
convidei para um fogo de conselho e ele se divertindo com a escoteirada
presente, criou da sua imaginação uma historia sobre um Escoteiro Fantasma que
causou ojeriza, apavorou a escoteirada e não foi fácil dormir naquela noite.
Mas quem se esqueceu da história?
Escoteirei neste
mundo de Deus por centenas de vezes. Construí pioneirías de tirar o folego.
Vivi situações inusitadas nos tempos das diligencias e até mesmo quando o homem
pisou na lua. Mas eu gostava mesmo era de contar uma história, ver a lobada ou
escoteirada com aqueles olhares incrédulos, pensativos até que se transportavam
para o contexto querendo viver o que cada personagem vivia.
Todo contador de
histórias se sente feliz ao ter tantos bons ouvintes. Histórias de fantasmas
eram sempre as mais pedidas. O contador de história tem ali um manancial enorme
para discorrer seu conto. Uma floresta escura, a luz da lua se apagando o som
da mata ou de um riacho ao lado, prende a atenção do mais valente lobo ou
Escoteiro. E o susto do grito de horror no final? Masoquista Chefe? Não,
depende da história. Se ela tem um fundo de exemplos pode contar. Tem seu
valor.
Não tem quem não se emociona ao contar uma historia. Tem chefes que adoram.
Quando tinha voz e era Chefe de Tropa ou de Alcatéia adorava contar. Hoje não
mais, perdi a voz, o tom de bom contador e agora só a escrever. Nos cursos que
dirigi contei muitas. Ninguem resiste a uma boa história contada ao pé do fogo.
Vendo o crepitar da fogueira, olhando as fagulhas que se espalham no céu de
estrelas onde algumas personagens fazem morada.
Quem já contou uma história em uma lamparada e vê os lobinhos felizes abrindo
olhos e ouvidos para ouvir e viajar na história contada pelo Akelá? A mente
está ali fixa no conto, que vai se desenrolar uma aventura e o lobo de olhos
arregalados vive sem perceber a história com as personagens. Ele pode ser um
Mowgly, um Balu, uma Bagueera ou quem sabe até mesmo Hati, o elefante da selva.
Ele se transforma, é um herói, um explorador, um grande acampador dos seus
sonhos inimagináveis.
Não deixe de contar histórias para seus lobos e ou escoteiros ou até mesmo
para chefes. Eles adoram também. A narração de histórias desenvolve a
linguagem, apresenta o mundo da arte, aplica o universo de novos significados e
excelente para conexão entre pais e filhos e porque não dizer entre chefes e
lobos ou escoteiros.
Lembro-me uma vez um Chefe me disse que no escotismo de hoje já não
existem mais aquela chama pelo impossível, pela aventura, pelo sonho de ser
herói ou mesmo pela filosofia da natureza. Quem sabe faltou histórias para
criar na mente de todos o que eles ainda não aprenderam? Se prepare. Tenha
sempre a mão um punhado de histórias, Escoteiras ou não. Este pode ser o
caminho para o sucesso que muitos de nós esperamos encontrar.
Sempre Alerta