Conversa ao
pé do fogo.
Dia do
Voluntário.
Nota – Meu cordão do
Colar de Gilwell partiu. E daí Chefe, o que tem a ver com o dia de hoje? Hoje
se comemora o dia do Voluntário. Estes bravos que fazem um novo escotismo. Seu
cordão partiu? Sim meu amigo, dou um volta a Gilwell, tiro meu lenço meu anel
ajoelho na grama verde e digo: Obrigado BP por ter me feito um Escoteiro!
Nada a ver com meu lenço da IM,
mas hoje dia 28 de agosto se celebra o dia do voluntario. Aqueles que dão seu
tempo e seus préstimos sem soldo, sem agradecimentos. Mas foi também a data que
em 1968 recebi meu lenço pelas mãos do Chefe Darcy Malta em Minas Gerais na
Sede da Região Escoteira. Presentes? Três assistentes regionais e dois chefes
escoteiros do interior em visita a Região Escoteira. Como sempre faço o tiro
dos guardados, dou uma olhada e sem ninguém perceber fico em posição de sentido
e faço uma saudação escoteira. Calma... Coisas de velhos escoteiros esclerosados.
No dia que recebi nem sabia que
um dia seria meu dia. Afinal também sou voluntário apesar de não me achar como
um. Foi em 28 de agosto de 1985 que o presidente José Sarney assinou o decreto
e as entidades que possuem estes colaboradores festejam sua participação.
Voluntário eu? Não sabia e nem sei se até hoje me considero voluntário. Bem fui
um antecessor da data do voluntário ao receber minha Insígnia de Madeira antes
do decreto e quem sabe o precursor ao festejar uma data tão querida e nunca
esquecida.
Não foi fácil “tirar” a
Insígnia. Comecei em 1959 com o CAB escoteiro, logo depois a IM parte Campo e
aí a porca torceu o rabo. O tal caderno era um terror para os chefes
escoteiros. Ninguém sabia que era seu leitor e eu mesmo pensei que seria um Chefe
idoso, cheio de manias com seu cachimbo a ler meu caderno. Feito a mão (caneta)
cheio de firulas para agradar. Foram quase três anos de vai e vem sinal que não
era um Chefe bem preparado escoteiramente. Será?
Que adiantou minhas 18
especialidades dentre as quais as mais difíceis de Cozinheiro, Sinaleiro,
Construtor de Pioneirias e a de Enfermeiro? Contar para o Leitor que fora
lobinho, escoteiro sênior e pioneiro não valeu. Um dia quase desisti dela.
Reclamei com o Escoteiro Chefe e eis que o próprio chegou uma noite na Sede da
Região escoteira. O Chefe Darcy Malta uniformizado, batendo com o lenço em cada
ombro duas vezes e dizendo: Chefe Osvaldo você não é mais um Pata-Tenra, agora pertence
ao primeiro grupo de Gilwell e deve honrar este lenço por toda sua vida!
Confesso que chorei. Sou um
chorão por natureza. Minha mente voou no passado quando na IM fizemos um jogo e
depois discutimos a Lei Escoteira dentro de um lago com água até o umbigo.
Inesquecível. E vem um jovem iniciante a propor mudanças em parte de um artigo
da lei e outros que querem alterar a Promessa. Foi assim pensando que sem perceber
notei que o cordão do meu colar partiu. Meu coração bateu. Cinquenta anos!
Cinquenta anos com ele pendurado no meu pescoço me dando o orgulho de ser um
membro do Primeiro Grupo de Gilwell.
Sai e fui comprar outro cordão.
Não é de couro, mas parecido. Aquele antigo está guardado para sempre. Foi meu
companheiro de uniforme, de atividades incríveis, foi comigo a centenas de acampamentos
de fogo de conselho de atividades mil por este Brasil imenso. Devo estreá-lo
brevemente. Fui convidado para uma atividade escoteira e se minhas lindas
pernas e meu pulmão raivoso permitirem lá estarei. A vida é uma constante de
lembranças, e dói fundo ver as mudanças sem nada poder fazer.
Meu escotismo é outro, não é
mais aquele da vida ao ar livre de dizer lá vou eu e nem sei quando vou voltar.
Brinca-se hoje de bugigangas tiradas da imaginação do Chefe e o jovem nem é
consultado. Brinca-se de faz de conta pra atingir o mais alto cargo no
escotismo e brigar para não mais sair. Os adultos hoje sentem vontade de fazer
o que ensinam, afinal são voluntários e uma grande maioria não viveu os sonhos
dos escoteiros nas suas aventuras imagináveis. Não tem volta, cada um vai
vivendo seus tempos.
Como me disse um antigo Chefe Escoteiro:
- Chefe tem voluntário que nunca desceu de uma árvore com um nó de evasão. Tem
outros que não sabem o nó de fateixa ou pescador. Tem alguns que não sabem
sorrir, tem muitos que fazem questão de manter a pose de chefão para seus
meninos e tem aqueles que ainda não se tocaram na grande filosofia que Baden-Powell
nos deixou.
Disseram-me que não se fazem mais
“escotismo dos antigamentes” como antes. Não fico triste com o andar da
carruagem escoteira, sigo a pista da roda da carruagem. Quem sabe ela vai me
levar onde sempre sonhei estar? Volta Gilwell, terra boa... Um curso assim que
eu possa eu vou tomar. Há! É mesmo mais verde a grama lá em Gilwell.
Pelo sim pelo não, meus
parabéns aos voluntários escoteiros. Graças a eles ainda podemos sonhar com um
amanhecer cheio de doces lembranças de uma vida dedicada ao escotismo!