terça-feira, 28 de agosto de 2018

Conversa ao pé do fogo. Dia do Voluntário.



Conversa ao pé do fogo.
Dia do Voluntário.

Nota – Meu cordão do Colar de Gilwell partiu. E daí Chefe, o que tem a ver com o dia de hoje? Hoje se comemora o dia do Voluntário. Estes bravos que fazem um novo escotismo. Seu cordão partiu? Sim meu amigo, dou um volta a Gilwell, tiro meu lenço meu anel ajoelho na grama verde e digo: Obrigado BP por ter me feito um Escoteiro!

                Nada a ver com meu lenço da IM, mas hoje dia 28 de agosto se celebra o dia do voluntario. Aqueles que dão seu tempo e seus préstimos sem soldo, sem agradecimentos. Mas foi também a data que em 1968 recebi meu lenço pelas mãos do Chefe Darcy Malta em Minas Gerais na Sede da Região Escoteira. Presentes? Três assistentes regionais e dois chefes escoteiros do interior em visita a Região Escoteira. Como sempre faço o tiro dos guardados, dou uma olhada e sem ninguém perceber fico em posição de sentido e faço uma saudação escoteira. Calma... Coisas de velhos escoteiros esclerosados.

                No dia que recebi nem sabia que um dia seria meu dia. Afinal também sou voluntário apesar de não me achar como um. Foi em 28 de agosto de 1985 que o presidente José Sarney assinou o decreto e as entidades que possuem estes colaboradores festejam sua participação. Voluntário eu? Não sabia e nem sei se até hoje me considero voluntário. Bem fui um antecessor da data do voluntário ao receber minha Insígnia de Madeira antes do decreto e quem sabe o precursor ao festejar uma data tão querida e nunca esquecida.

                Não foi fácil “tirar” a Insígnia. Comecei em 1959 com o CAB escoteiro, logo depois a IM parte Campo e aí a porca torceu o rabo. O tal caderno era um terror para os chefes escoteiros. Ninguém sabia que era seu leitor e eu mesmo pensei que seria um Chefe idoso, cheio de manias com seu cachimbo a ler meu caderno. Feito a mão (caneta) cheio de firulas para agradar. Foram quase três anos de vai e vem sinal que não era um Chefe bem preparado escoteiramente. Será?

                Que adiantou minhas 18 especialidades dentre as quais as mais difíceis de Cozinheiro, Sinaleiro, Construtor de Pioneirias e a de Enfermeiro? Contar para o Leitor que fora lobinho, escoteiro sênior e pioneiro não valeu. Um dia quase desisti dela. Reclamei com o Escoteiro Chefe e eis que o próprio chegou uma noite na Sede da Região escoteira. O Chefe Darcy Malta uniformizado, batendo com o lenço em cada ombro duas vezes e dizendo: Chefe Osvaldo você não é mais um Pata-Tenra, agora pertence ao primeiro grupo de Gilwell e deve honrar este lenço por toda sua vida!

                Confesso que chorei. Sou um chorão por natureza. Minha mente voou no passado quando na IM fizemos um jogo e depois discutimos a Lei Escoteira dentro de um lago com água até o umbigo. Inesquecível. E vem um jovem iniciante a propor mudanças em parte de um artigo da lei e outros que querem alterar a Promessa. Foi assim pensando que sem perceber notei que o cordão do meu colar partiu. Meu coração bateu. Cinquenta anos! Cinquenta anos com ele pendurado no meu pescoço me dando o orgulho de ser um membro do Primeiro Grupo de Gilwell.

                Sai e fui comprar outro cordão. Não é de couro, mas parecido. Aquele antigo está guardado para sempre. Foi meu companheiro de uniforme, de atividades incríveis, foi comigo a centenas de acampamentos de fogo de conselho de atividades mil por este Brasil imenso. Devo estreá-lo brevemente. Fui convidado para uma atividade escoteira e se minhas lindas pernas e meu pulmão raivoso permitirem lá estarei. A vida é uma constante de lembranças, e dói fundo ver as mudanças sem nada poder fazer.

                 Meu escotismo é outro, não é mais aquele da vida ao ar livre de dizer lá vou eu e nem sei quando vou voltar. Brinca-se hoje de bugigangas tiradas da imaginação do Chefe e o jovem nem é consultado. Brinca-se de faz de conta pra atingir o mais alto cargo no escotismo e brigar para não mais sair. Os adultos hoje sentem vontade de fazer o que ensinam, afinal são voluntários e uma grande maioria não viveu os sonhos dos escoteiros nas suas aventuras imagináveis. Não tem volta, cada um vai vivendo seus tempos.

                Como me disse um antigo Chefe Escoteiro: - Chefe tem voluntário que nunca desceu de uma árvore com um nó de evasão. Tem outros que não sabem o nó de fateixa ou pescador. Tem alguns que não sabem sorrir, tem muitos que fazem questão de manter a pose de chefão para seus meninos e tem aqueles que ainda não se tocaram na grande filosofia que Baden-Powell nos deixou.

             Disseram-me que não se fazem mais “escotismo dos antigamentes” como antes. Não fico triste com o andar da carruagem escoteira, sigo a pista da roda da carruagem. Quem sabe ela vai me levar onde sempre sonhei estar? Volta Gilwell, terra boa... Um curso assim que eu possa eu vou tomar. Há! É mesmo mais verde a grama lá em Gilwell.

Pelo sim pelo não, meus parabéns aos voluntários escoteiros. Graças a eles ainda podemos sonhar com um amanhecer cheio de doces lembranças de uma vida dedicada ao escotismo!