Crônicas
de um Chefe Escoteiro.
Escotismo
é só para ricos?
Nota - John Thurman Chefe de
Campo de Gilwell Park já falecido escreveu que Baden-Powell tocou o dedo em
algumas das mais formidáveis ideias e práticas que levam os rapazes a segui-las
com entusiasmo, e nos métodos, e modo de manejar e guiar os rapazes. Se nos
mantermos dizia, o mais possível dentro a simplicidade, alegria e entusiasmo o
sucesso será real. No entanto os únicos capazes e possíveis de pôr o Escotismo
a perder são os próprios chefes e dirigentes. Se nos tornarmos arrogantes,
complacentes e a nos fazermos passar por demasiado autossuficientes, então - e
apenas com essas coisas - poderemos arruinar o Movimento.
Há dias vi uma postagem de
chefes reclamando dos altos preços cobrados pela Loja Escoteira. É um tema que
muitos comentam sem sucesso. Afinal queira ou não boa parte dos participantes
hoje do escotismo já entram sabendo que tem gastos e eles não irão medir
esforços para que seus filhos tenham tudo que precisam. O jovem de hoje não
luta para ter seu material com seu próprio esforço pessoal. Muitas atividades
tem o sabor de aprendizado pelos novos chefes e estes não medem esforço para estarem
presentes.
Quando Baden-Powell criou
o escotismo, tinha como meta os mais humildes, principalmente a juventude que
morava em bairros pobres de Londres e pudessem receber outro tipo de formação.
Hoje isto ficou para trás. Não existe mais esta preocupação. Se por um lado
tenta arrebanhar um maior numero de associados que não podem pagar por outro
lado se cobra preços absurdos dos materiais escoteiros a venda na Loja
Escoteira. Os eleitos para postos mais altos não estão lutando para conseguir
que o mais humilde também possa participar.
No passando nos orgulhávamos
em ver uma tropa ou alcateia completa com seus uniformes desbotados, mas com
apresentação impecável. Sinal que ali o jovem ficava por muitos anos e davam
valor ao que tinham. Dava gosto de ver lobinhos primeira e segunda estrela,
escoteiros segunda e primeira classe. Nos acampamentos distritais e regionais
era bom demais ver as patrulhas chegando completas, desfraldando seu totem,
dando seu grito de patrulha e trazendo seu próprio farnel e sua tralha. Os sub
campos ferviam de bom escotismo. Patrulhas completas se orgulhando do seu grito
de sua participação visando conquistar uma simples bandeirola de eficiência.
Mas tudo mudou. Em vez do
formidável sistema de patrulhas passou-se a considerar o jovem e não sua
equipe. Qualquer atividade tem taxas que nem todos podem pagar. Nas atividades
regionais e nacionais dificilmente as patrulhas participam completas. Parece
que o lucro vem em primeiro lugar. Li um artigo que dizia: - Quanto tempo leva
uma empresa para dar lucro? Será que já somos uma empresa ou somos uma associação?
Onde estão as empresas que poderiam estar fazendo seu Marketing nas atividades
escoteiras? Onde estão os profissionais escoteiros para fazerem isso?
Criou-se uma vestimenta
com diversos tipos de uso. Para que? Para vender mais? Alguns reclamam das
péssimas condições de confecção e do próprio tecido, que não é próprio para o
campo e desbota com rapidez. Penso até que isto foi premeditado para que as
trocas sejam feitas mais amiúdes. Afinal a Loja Escoteira é um truste sem
sócios e onde só ela tem os direitos dos produtos que comercializa. Chega ao
ponto que a UEB exige que nas suas atividades realizadas em regiões ou
distrito, a taxa deve cobrir todas suas necessidades assim como ter o devido
lucro na sua gestão financeira. É como o lema: - Nada pode dar prejuízo!
Muitos dirão que isto é
o correto. Não vou discutir. Aldous Huxley no seu livro Admirável Mundo Novo,
dizia que uma organização não é consciente nem viva. Seu valor é instrumental e
derivado. Não e boa em si, é boa apenas na medida em que promoveu o bem dos
indivíduos que são partes do todo. Dar primazia as organizações sobre as
pessoas é subordinar os fins aos meios. Temos hoje uma associação que quer ser
servida e não servir. Em uma promessa ela mesmo exige que todos digam em alto e
bom som que irão servir a União dos Escoteiros do Brasil.
Muitos discutem o porquê
o escotismo não cresce levando em consideração o crescimento populacional. Quem
sabe este pode ser um dos motivos. Pense nas enormes despesas para montar e
manter um Grupo Escoteiro. Dizer que compete ao grupo se preparar para as
despesas para mim é uma falácia. E onde entra a UEB neste contexto? Quando o
grupo se torna uma pequena empresa na minha humilde opinião deixa de ser tudo
aquilo que pensamos de uma filosofia fraterna e onde o lema um por todos e
todos por um deixa de existir. Parodiando John Thurman quando B.P assentou as
bases do escotismo, disse que ele nasceu entre meninos pobres e, se
economicamente os rapazes melhoram deste então, ainda existem rapazes tão
pobres como naquela época que precisam do escotismo.
É um estado de coisas difícil de
ser modificado. Se este é o escotismo que queremos sinceramente não é o que
vivi. Eu sempre pensei que nossa associação teria que fazer o máximo para
servir ao associado e não o contrário. Ela existe para isso e deve lutar para conseguir
os meios necessários para que o escotismo possa evoluir de maneira simples
buscando seu verdadeiro objetivo que é a formação do jovem dentro dos
princípios e métodos idealizado por Baden-Powell.
O escotismo não é para ricos. Os
direitos do rico e do pobre deveriam ser iguais. Visar lucros sem ver a
necessidade de seus associados é uma maneira de estagnar a alavanca de um
escotismo para todos. Programas e metas devem ter papel importante no caminho
que procuramos seguir. Um escotismo que visa lucros em todas suas atividades e
esquecendo o que é mais importante seria abrir um leque para alavancar e dar
possibilidade a um maior número de jovens possa usufruir.
Não sei não, somos um
movimento que não luta por seus direitos. Poucos procuram ver e quando sente na
pele tal situação saem do escotismo, para sempre ou para outra das novas
Associações escoteiras que estão chegando. Mas o futuro é inexorável. Quem
viver verá se o caminho foi realmente o sucesso esperado. Quem sabe se tivéssemos
uma associação que se preocupasse com as condições sociais dos jovens o Jamboree
de Barretos teria tudo para ser um dos maiores em quantidade que o Brasil já
pode conhecer. Não foi o que aconteceu. Paciência, quem sabe um dia?