Crônicas de
um Chefe Escoteiro.
O poder do
nada.
Nota –
E o velho Chefe sorrindo completou: - Vocês
não podem mudar certas circunstâncias ou situações, mas podem adaptar-se a elas
sempre, escolhendo a forma do mal menor. Pode não ser o ideal, mas será o
melhor. Aproveitem as oportunidades que lhes derem, mesmos que sejam
aparentemente pequenas. As grandes árvores vêm de pequeninas sementes. Abraços
fraternos.
Quem lê ou ouve alguém falar da
Filosofia Escoteira, fica estupefato. É linda demais. Juventude unida por um só
ideal. Voluntários que fazem de tudo para que esta estupenda ideia de um
General Inglês possa dar frutos criando homens e mulheres dentro de um
paradigma de amor ao próximo, lealdade, caráter honra e porque não uma ética
escoteira em que todos possam viver fraternalmente.
Muitos vieram dos velhos tempos
outros dos novos tempos. Acredito que ambos deviam conhecer a fraternidade, a
cortesia e o respeito daqueles que se prontificaram a colaborar. Sem soldo,
muitas vezes sem um muito obrigado. Brinco educadamente que o escotismo não tem
dono, não pode ter. Ele é universal e o Fundador dizia que seus frutos seriam
manter a paz entre os homens para um mundo melhor.
Mas eis que apareceram normas,
regulamentos, regimento, leis, roteiros de ação, estatutos, código de conduta e
tantas outras para dizer o que cada um pode fazer. Não existe mais o salomônico
Chefe para mostrar o caminho e dizer o que é certo ou errado. Antes um
escotismo alegre, solto, livre como o vento a correr pelos montes, pelas
trilhas que nem se sabia onde ia dar. Hoje? Tudo mudou. Primeiro as normas,
pedido escrito se pode ou não fazer. Autorização do Chefe do Poder.
Se isto fosse feito de uma
maneira fraterna, educada, sem o cunho de imposição poderia ainda haver aquele
sonho dos meninos correndo pelas matas de Londres ou outro país qualquer sem um
adulto ao seu lado para dizer o que fazer. Mas não, sem perceber apareceram os
“donos do poder”. Alguns com um sorriso outros arrogantes, ríspidos a dizerem o
que é certo e errado, mostrando o artigo, a norma e a lei escrita depois que o
General se foi para dizer onde pisar e escoteirar.
Não critico normas, leis e o
escambal. Precisamos delas na sistemática moderna onde se perdeu a liberdade de
ir e vir no escotismo que tinha sim um sabor todo especial. A liberdade da
responsabilidade já não é mais a mesma. O confiar na palavra escoteira deixou
de existir. Agora se agarra ao artigo tal, a lei tal, a norma diretiva que um
bando de lideres acreditou que seria o melhor a fazer.
Onde foi parar a mística? Aquele
sorriso ao correr pelos campos para descobrir o imponderável? Onde foi parar o
sonho da descoberta, a mangueira alta sombreada a beira de uma cascata de águas
cristalinas para que se possa sorver seu néctar e a sede matar? Tudo agora é
norma, é lei, ande reto e não pare a não ser quando eu mandar. Olhe você só vai
se cumpriu seu dever se pagou a soma que lhe quiseram cobrar. E dizem que ele o
General se vivo fosse faria assim também.
Mas ainda vejo sorrisos, sonhos,
vontade de acertar e caminhar como Caio Martins sempre caminhou. “Com as
próprias pernas”. São meninos, meninas que se formam em um punhado de
sonhadores a fazer um escotismo que acreditam poder realizar. Ainda temos
chefes que fecham os olhos para os adoradores do poder e se metem a sair por aí
com um bornal, cheios de fantasia, imaginação, encantamento a procura de um
escotismo encantado. Não foi assim que disseram para eles?
Entristece-me a discussão de
normas, regulamentos e o escambal. – Chefe, esta difícil... Não dá para
continuar... Não dá? Se todos que são achincalhados e humilhados na sua sina
escoteira pensar assim, quando iremos vencer esta batalha para dar aos jovens
pelo menos uma parte deles que ainda acreditam na graça, no encanto na
grandiosidade de um escotismo que julgam perfeito para viver? Belo é o
escotismo de quem acredita de quem luta e não desiste quando na curva encontram
espinhos sem olhar direito e ver rosas formosas mostrando o caminho da
felicidade.
Sei que os donos do poder dificilmente
vão mudar. Eles não tem histórias e querem fazer histórias. Qual delas? A do
escotismo puro, com cheiro de mato, com trilhas pisadas sem saber aonde ir?
Pode ser. Mas isto só irá acontecer se ombrear ideias, valores éticos sem
dissabores que muitos querem criar. Mas olhe, por favor, não me venha dizer que
as normas vieram para ficar! Não foram feitas por BP e eu não preciso delas,
nunca precisei. Elas sempre existiram na minha maneira escoteira de viver!