Crônicas
de um Velho Chefe Escoteiro.
Quebra
Coco. O último desafio!
Nota: Há tempos era uma tradição
cantar a canção Quebra Coco nos fogos de conselho. Quebra Coco é uma
tradicional canção escoteira, provavelmente adaptada do folclore do Estado do
Para. Conforme o Chefe Fabio Neiva, o primeiro registro desta canção foi de uma
publicação da revista Escoteiro da Gloria, do Rio de Janeiro de fevereiro de
1926´. Provavelmente parodiando antigos repentistas e com o tempo se tornou
muito popular nos fogos de conselho.
Acho que o tempo apagou estas
lembranças incríveis. Quase não vejo alguém cantar ou falar desta canção.
Sempre foi um desafio incrível. Deve ser os novos tempos, novas músicas, novas
canções. E quem se anima a cantar as antigas? Elas devem ter ficado no tempo
presas na mente dos antigos escoteiros que ainda vivem seus sonhos em um passado
distante. Acredito que devem ser poucos que ainda lembram-se do desafio em um
Quebra Coco que só foi terminar lá pelas tantas com o sol dando as caras pela
manhã. Na minha época um tremendo e bom desafio.
Como era gostoso cantar e ver os desafiantes
meditando e montando a estrofe que iria cantar. Até quando fui Chefe de tropa
tentei incutir em todos o desafio do Quebra Coco. Acho que não fui feliz. Os
jovens não se interessavam mais. Tudo foi mudando, novas ideias novos Fogos de
Conselho. Quem diria que naquela época teríamos um animador de fogo? Nunca!
Animador? Nem pensar. O fogo era espontâneo.
Lembro-me do meu primeiro
acantonamento/acampamento no sitio do Vale Feliz. Lobinhos cantavam as canções
antigas com vigor. Fizeram um desafio e eu aceitei sem saber como montar uma
estrofe. Lobos acampando? Risos. Claro, era comum. E porque não? Era mais
divertido. Lembro-me do Miúdo (era nosso Balu, nunca fiquei sabendo seu nome
real) e do Munir Boca Grande (nosso Bagheera) a fazer os almoços e jantas e que
manjar! Eles eram bons e todos nós em volta ajudando, buscando água, lenha,
cantando e contando “pataquadas”.
Bons tempos. Já tinha
participado de dois Fogos de Conselho. Não sabia como era o Quebra Coco. Foi o
Akelá Laudelino quem explicou. Tratava-se de um desafio entre escoteiros. A
tropa antes de encerrar o Fogo de Conselho fazia o desafio. No começo todos
participavam, mas depois de algum tempo ficavam dois ou três. Os demais não
eram bons repentistas e se quisessem podiam ir dormir. Mas ninguém arredava o
pé enquanto não houvesse um ganhador.
Quando escoteiro e sênior o
quebra coco era minha diversão favorita nos Fogos de Conselho. Desenvolvi uma
facilidade grande em criar versos. Nada dos conhecidos. Isto era para Patas
Tenras. Poucos tinham a “audácia” de me desafiar. Iniciava o quebra coco
cantando: – “Meus amigos, escutem bem, hoje estou um pouco rouco, mas é bom
ficar sabendo, sou o campeão do Quebra Coco” e daí em diante não parava mais.
Mas tudo mudou quando quebraram
meu orgulho de cantador. Fui humilhado por um matuto de uma pequena cidade do
fim do mundo. Fomos acampar em Serra Vermelha com uma Tropa da cidade de Guanhães
e foi um desastre. Todos perguntando se tínhamos bons “cantadores” do Quebra
Coco. Apontavam-me e eu ficava todo orgulhoso. Não falaram nada do Mandinho. Um
Escoteiro magrelo, desengonçado e achei até que ele era gago. Quando chegou a
hora e ele em pé aceitou meu desafio, sorri de leve. “Este está no papo”.
Deus do céu! Onze horas, meia
noite e o danado lá aceitando todos meus versos e devolvendo em dobro! O Chefe
disse que quem quisesse podia ir para as barracas, mas ninguém arredou o pé.
Minha cabeça fervilhava, a busca de versos era medonha. Mais de quatro horas e
o danado do Mandinho ali com um sorriso simples, sem afetação me colocando no
chinelo! – Entreguei os pontos. Fui lá do outro lado à fogueira cumprimentá-lo.
Parabéns Mandinho. O elogiei. Faz parte da Fraternidade Escoteira. – “Mandinho,
estou orgulhoso de você”! Pensei em encerrar minha carreira de cantador, mas
quando se canta pela primeira vez a gente mantem no coração a chama escoteira.
Ganhar é bom, mas se perdeu paciência. (Nosso Chefe Jessé dizia).
Os tempos foram mudando.
Participei de muitos Fogos de Conselho. O Quebra Coco se tornou saudades de um
tempo no passado. Chegaram novas canções e ele, o meu amado Quebra Coco ficou
na história de um livro que não foi escrito. Quebra Coco, Quebra Coco, na
ladeira do Piá, Escoteiro Quebra Coco e depois vai trabalhar! Até hoje eu canto
com boas lembranças.
Aqui na minha salinha mágica onde
viajo pelo mundo escoteiro, olhei para o passado e fui para minha varandinha
querida. Meu recanto. Onde penso e faço minhas histórias. Sentei na minha
cadeira rústica e olho pela fresta do portão e vejo a meninada jogando bola.
Uma rua íngreme. Poucos carros. Cada um se diverte como gosta. Cantava baixinho
o Quebra Coco. Saudades vêm e vão e eu "Velho" Escoteiro vou
lembrando como posso dos meus tempos de criança. Quebra Coco, O meu Chapéu tem
Três Bicos, o Yupy Aia, a Árvore da Montanha e tantas outras. Onde está meu violão?
Acho que as cordas arrebentaram. Preciso comprar novas e ficar aqui na minha
varandinha relembrando. Fazer a melodia brotar de novo pelo som do meu violão. Quebra
Coco, Quebra Coco, na ladeira do Piá... Escoteiro quebra coco, e depois vai
trabalhar!
“Minha
mãe chamava Caca, E meu pai Caco Maria,
Juntando
caco com caco, Eu sou filho da Cacacaria!
A
turma do Facebook, Não são doidos varridos,
É
uma turma das boas, Turma de muitos amigos.
Fui
na horta apanhar couve, esqueci apanhei repolho,
Vou
mandar cê prús infernos, pru capeta fazer molho.
Não
chorem na minha partida, Hora de o Velho sumir.
A
hora passou no tempo Desculpem, preciso dormir.