Crônicas de um Velho
Chefe Escoteiro.
“Eu prometo"!
Pela minha honra...
Nota – Quando tantos falam em mudanças,
em esquecer pequenos trechos da promessa, da impossibilidade da palavra dada,
do sentido de uma palavra quem tem tudo para ser a maior eis que aparecem os
estudiosos, tentando mudar o que é o de mais sagrado para um escoteiro que um
dia jurou cumprir a lei. Jurou pela sua honra que para muitos podem não
significar mais nada, mas significa muito para mim. Então pensativo volto no
passado quando jurei, jurei sim a Bandeira a Pátria e a meu Deus. Disseram-me
que ela seria por toda a vida. Este é o meu escotismo, aquele que vive em mim e
com ele morrerei.
- Fiquei três meses meu amigo, três meses para me preparar.
Aprendi a Lei e seus dez artigos, aprendi a Promessa de cor e salteado, aprendi
a desenhar a bandeira, a fazer sinais, a armar minha barraca, aprendi a coar um
café no coador de pano, aprendi oito nós, aprendi o hino Alerta e o Hino
Nacional. Fiz minha primeira Pioneiría aos onze anos. Tive duas conversas com
meu Chefe que me disse sobre o que eu iria fazer. Vado, quando fizer a Promessa
terá que fazer o Melhor Possível para cumpri-la. Ele me falou da minha palavra
de escoteiro, da minha honra da minha ética e do meu caráter... Sim foram três
meses e eu jurei!
Jurei pela minha honra, nem me lembrei do melhor
possível. Todos meus amigos escoteiros sabiam do valor da promessa. Não eram
santos, mas faziam de tudo para cumprir. Honra Vado? É aquilo que ninguém pode
tirar de um escoteiro. Um dia meu amigo eu pensei comigo, fazer o melhor
possível? Vou fazer. E passei uma semana tentando cumprir todos os artigos. Até
dei a mão ao Pato Loco que uma vez pelo menos por semana saiamos às raias da
discussão para uma boa sessão de pescotapas! (ele não era escoteiro).
Nos seniores mais crescidos e sabidos ainda sabíamos o
que era honra caráter ética e não precisava ninguém perguntar: - Palavra de
Escoteiro? – Não, não precisava. Nossa palavra era nossa lei individual.
Aprendemos a cortesia e dávamos enorme valor à lealdade. Cresci, virei homem,
virei Chefe. Era minha vez de ensinar aos novos que estavam chegando. E hoje?
Hoje meu amigo querem tirar de mim o que fui e sabem por quê? – Porque estamos
na virada do tempo, hoje tudo mudou... Mudou? Mudou o que? A Honra? A Palavra
do Escoteiro perdeu o valor? A promessa de crer na paz do Senhor?
Sabe meu amigo eu não sei quanto tempo de escotismo esta plêiade
de jovens chefes recém-chegados ao Escotismo que querem mudanças têm. Alegam
que nos países mais avançados estão mudando. Eles mudam eu mudo. Eles saltam no
buraco e eu vou atrás. Obrigar alguém a dizer aquilo que não quer? Então vamos
mudar. Mudar! Só porque eles pensam assim? Joga o tema de supetão só para ver a
reação dos demais? Então eu tenho de mudar só porque ele novato vem me dizer
que os tempos são outros? Como disse o Lobo Gris onde me aninharei amanhã?
Não é a primeira vez meu amigo. Estão aí em pequenos
grupos recém-chegados e batalhando para tirar Deus da Promessa. Por quê? Eles
são agnósticos? Não acreditam em Deus? Quantos eles são? Quanto apoiam estas
novas ideias para deixar de lado aquelas que para mim deram certo no passado?
Eles são quantos torno a repetir. Meia dúzia? Quantos? Não respeitam mais o meu
passado? Um me chama de lado e diz: - Chefe, não há como fugir, um dia tudo vai
mudar. – Pode ser que sim. Mude, mas fique para ver os resultados, não vá fugir
depois como muitos fugiram. Resultado? Não sei se deu ou se vai dar resultado!
Meu amigo eu fico me perguntando onde estão nossos
direitos de longevidade no Escotismo. Fizemos uma promessa, foi nossa escolha
individual e alguns poucos querem tirar nosso direito só porque não acreditam
nas palavras da Promessa e da Lei. Se eles não aceitam o que encontraram não
seria melhor fazer outra associação onde poderiam mudar a vontade? Agora me
fazer aceitar algum que não acredito? Mudar minha crença? Com que direito? Ou
será que setenta anos de escotismo me fez perder o direito que adquiri?
Cochicham por aí que se BP ainda estivesse vivo, ele iria
mudar, mudar seu estilo inglês, mudar seu uniforme, seu chapéu, quem sabe uma nova
bengala elétrica, deixar o cavalo para um transporte rápido para chegar onde
ele pensou que nunca iria chegar. Falam em nome dele e quando não em nome da
modernidade... Que ele iria aplaudir! Modernidade... Será ela tão importante
para acabar com a flauta mágica que ouvi quando era menino tocando divinamente
o Rataplã? Não vou mais seguir meu Flautista de Hamelin a me chamar?
A lei Chefe, ora a lei... Quem disse isso? Foi Getúlio
Vargas? O que ele queria dizer? Será que a Lei, ora, a Lei devia ser aplicada
ao cidadão comum enquanto a própria legislação concede imunidades e benefícios às
classes privilegiadas? Seria a Lei para beneficiar aos que assumiram para
servir e hoje querem ser servidos? Ah! A Lei... Eu prometo... Sim eu prometi
fazer o melhor possível, ate hoje me lembro daquele dia que empertigado,
segurando no bastão da minha Patrulha e firme olhando a bandeira disse a viva
voz: - Cumprir os meus deveres para com Deus e Minha Pátria ajudar o próximo em
toda e qualquer ocasião e por último falei alto para todos ouvirem: - Cumprir a
Lei do escoteiro!
E como dizem por aí nas redes sociais, nos sites
históricos, nos filmes e na TV: - Palavra de Escoteiro! Querem acabar com ela?
Bah! Tirar o meu direito de escolha? Será que eles tem mais direito do que eu? Esses
Pata Tenra ainda tem muito que aprender...