Conversa ao pé do fogo.
A tropa escoteira dos meus sonhos.
Nota - Quem
não gostaria de ser um Chefe ou Akelá participando de uma tropa ou uma alcateia
dos seus sonhos? Sinceramente seu sonho se realizou? Sorriu quando viu quase
todos seus jovens passar para escoteiro ou sênior com seu Cruzeiro do Sul e o
Liz de Ouro? Cantou aleluia quando o acantonamento ou acampamento só deles foi
festejado por eles e não por você? Pois é, assim somos nós chefes. Todos tem um
sonho e tem a liberdade de realizá-los... Se quiserem!
- Dos meus sonhos? Uma tropa para
que eu possa dizer que é minha? Que fui eu quem a fiz? Não. Está não é a tropa
escoteira dos meus sonhos. Se eu pudesse, se voltasse no tempo eu não iria me
prender a mania de grandeza, de poder, de superioridade. Nunca iria dizer que
sou o melhor Chefe que existe, pois não sou. Faria de minha humildade o
sinônimo de servir. Nunca vou esquecer que meus melhores dias foram em tropas
escoteiras apesar de que fui Akelá e também um Chefe Sênior do qual muito me
orgulho. Nesta tropa dos meus sonhos o sorriso seria obrigatório onde todos
aprenderiam a liderar e serem liderados. Não seria uma tropa onde todos seriam
empurrados e nem ficassem preocupados com as formaturas e nem o apito do Chefe.
Meu programa seria simples, feito com diversas mãos principalmente dos
monitores. Teria uma boca para falar, mas dois ouvidos para ouvir. Na sede
teria um horário de início e fim, mas o meio não. O horário seria conforme o
interesse e o sorriso da tropa. Teria elasticidade para mudar se necessário. O
relógio seria um complemento e mais nada. Nesta tropa os escoteiros seriam os
donos do programa. Meu julgamento se tudo estava perfeito não iria existir. O
perfeito é os jovens que iriam dizer. Somente os resultados seriam importantes
em um programa feito por todos.
Nesta tropa dos meus sonhos o
respeito e a individualidade seria questão de honra e aceito com dignidade.
Haveria uma fila para formação, mas esta não seria como uma escala hierárquica
para chegar ao topo. Quem sabe um sorteio, quem sabe determinado em um conselho
de Patrulha ou uma escolha pessoal exceto monitores e subs. A importância maior
é que todos estivessem satisfeitos e soubessem que eram uma equipe unida e
fraterna. O Monitor era mais um e não o único. Eu nunca iria determinar ou
indicar quem seriam os monitores. Seus amigos da Patrulha seriam os
responsáveis para elegê-lo. Sua formação e adestramento seria realizado pelos
demais monitores onde eu seria mais um na Patrulha só nossa. Ali eu teria condições
de analisar, coordenar, e deixar que todos pudessem assimilar dentro de seu
estilo e personalidade sua liderança. Eu nunca seria um Chefe cheio de
obrigações e responsabilidades. Faria minha parte como orientador amigo e
aconselhador. Nesta tropa dos meus sonhos os monitores teriam parte importante
no seu desenvolvimento. Nesta tropa teríamos como objetivos liderar e sermos
liderados.
Baden-Powell comentava que o
Chefe é o líder de seus monitores, ou melhor, o Monitor dos monitores. Se eles
fossem bem formados e adestrados a Patrulha teria um alto grau de conhecimento
técnico e as reuniões mais divertidas. Eles teriam tempo para conversar e
ensinar aos demais. Eu daria a todas as condições de aprender o respeito, o
amor, a vida no campo, como atingir o objetivo da formação escoteira e os
monitores seriam partes importantes para a aplicação do método de fazer
fazendo. Nesta tropa dos meus sonhos eu seria um amigo, mais que um irmão.
Faria questão de conhecer a cada um em seu lar assim como aos seus pais. Deles
ficaria amigo, e iria me aconselhar a melhor maneira de ajudar o seu filho. Teria a
oportunidade de conversar a sós com cada escoteiro para saber o que ele pensa e
o que poderia ajudar para desenvolver suas potencialidades. As reuniões de sede
iriam existir, mas as atividades de campo teriam prioridade. Seja em um fim de
semana, seja em um final de sábado ou domingo. Iria ensinar a eles que a
aparência faz parte do nosso crescimento e de nossa apresentação pessoal. Seria
exigente com o uniforme, mas iria preparar a todos para que compreendessem sem
demonstrar que isto teria um caráter de obrigação.
Não teríamos a pretensão de ser o
melhor. De ser uma tropa padrão. De ser a primeira mostrando o orgulho de ser a
melhor. Seria uma tropa simples, humilde, cujo objetivo seria um só... Formação
da Ética e o caráter individual. Faria sim questão da amizade, do sorriso, da
educação e cortesia e de ajudar ao mais fraco. A lei seria lembrada
constantemente. Eu confiaria em todos eles na minha presença ou fora dela. Eu
faria questão de ter sempre a mão uma carta prego, uma jornada no bairro com um
propósito definido. Faria questão que cada um dentro de suas possibilidades
fossem exemplos na sua escola, na sua rua e no seu bairro sem esquecer os
deveres religiosos e a obediência aos pais e professores. E os acampamentos?
Seriam incríveis. Deixaria que eles depois de treinados e adestrados,
acampassem em um sítio próximo ou de um pai ou conhecido sem a presença dos
chefes. Viveriam independente e aprendendo que um dia eles seriam donos de sí
ou quando formassem uma família. Nos acampamentos com a participação de todas
as patrulhas seriam perfeitos. Se possível em local ermo, com matas, com
aguadas maravilhosas, com possibilidades de bambus ou eucaliptos para fazerem
suas pioneirías e que cada um deles construíssem sem minha presença seus campos
de patrulhas com todas as regalias que pudessem idealizar como espelho de suas
moradas.
Nesta tropa dos meus sonhos, eu
faria de tudo para dar a eles conhecimentos de cidadania honra e ética. Não
iria obrigá-los a fazer atividades que eles não quisessem. A tropa seria deles
e de mais ninguém. E eu faria tudo para recebê-los e os entregar com um sorriso
nos lábios ao Chefe Sênior. Para mim seria questão de honra que eles ficassem
por muitos e muitos anos. Se alguém um dia saísse ele seria ouvido e suas
razões anotadas e discutidas com quem ficou na tropa. Eu teria muito mais para
contar se pudesse voltar no tempo e fazer a tropa escoteira dos meus sonhos. Meu
sorriso seria para todos, mostrar que ali somos todos irmãos. E quando
chegassem na idade adulta, um pequeno sorriso e dizer: - Cumpri com minha
obrigação.