domingo, 28 de outubro de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. A fantasia é maior que a ficção.



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
A fantasia é maior que a ficção.

Prefácio: - Mais um ano de eleições. Candidatos acreditando que podem ser eleitos, fazendo planos, tudo na paz sem maiores contratempos. Democracia? O Brasil caminha para ser um estado modelo ao mundo. E o escotismo? É democrático?

                     Levantei animado. O dia seria o mais importante em minha vida. Maior que minha promessa, maior que meu primeiro acampamento, maior que a mesa que fiz e caiu com o vento... Hã vento! Quantas boas lembranças ele me trás lá do passado! Mas hoje seria diferente, o que nunca acreditei iria acontecer, ou melhor, estava acontecendo. Eu mesmo um eterno contestador, um amotinado de uma direção que não me deu segurança durante anos, parecia que agora tudo ia mudar. A transmutação já estava a caminho.

                    Tudo aconteceu quando um líder foi eleito para o CAN e subverteu a ordem e a hierarquia do poder. Outros se aliaram e formaram a primeira equipe dirigente máxima do escotismo nacional. Um passo para o futuro valorizando o passado. Tudo começou com a liberdade de cada Grupo Escoteiro no país opinar para uma nova ordem, um novo estatuto, mudança de normas, pesquisando e ouvindo mais do que falando, resultado de nova tendência do escotismo mundial.

                    Um fato significativo foi o cancelamento em todas as instâncias (de comum acordo com as associações) dos processos levado a cabo pelos antecessores contra aqueles que não aderiram a UEB, Ops! Voltou à sigla UEB, abaixo a EB, lembranças de um passado que todos queriam soterrar para sempre. Convites para uma boa convivência, uma nova camaradagem baseada no principio da fraternidade tão protagonizada no sexto artigo da lei: - O escoteiro é amigo de todos e irmãos dos demais escoteiros.

                    Chefes de ambos os lados fazendo os mesmo cursos, certificados válidos para todos que um dia fizeram a promessa. A amizade imperava até nas atividades nacionais e internacionais. “Vamos dar as mãos e cantar”! Muitas das nossas nomenclaturas antes existentes agora voltavam a prevalecer. Comissário do Distrito, Escoteiro Chefe, Adestrador, Chefe de Grupo e melhor voltou a valer os distintivos de segunda e primeira classe, com novas etapas mais modernas sem esquecer as técnicas de campo. Não esquecer a primeira e segunda estrela. Um deleite para os antigos escoteiros que um dia se orgulharam em ser um deles.

                    Uma comissão foi composta para valorizar os chefes ou até mesmo os jovens escoteiros dos diversos ramos, fornecendo a eles o direito de receber as condecorações que tinham direito conforme dados fornecidos pelo PAXTU sem maiores burocracias. Havia sorrisos no ar. Uma mudança tão esperada aconteceu na área das comissões de Ética. Direitos e deveres mais bem elaborados. Ouvir o acusado, direito de defesa, verificar, estudar e sugerir prováveis mudanças de rumo. Tudo na mais perfeita democracia e justiça, baseada no principio dos direitos fundamentais do ser humano.

                    Foi arquivado tudo que se dizia é proibido isto e aquilo. Agora era proibido proibir. Insistentemente se falava em abraços, aperto de mão, solidariedade, ajuda e trabalho em prol dos mais necessitados. Profissionais foram contratados para aumentar a arrecadação da UEB (União dos Escoteiros do Brasil) e assim os cursos teriam taxas mínimas, o registro seria simbólico, o atendimento aos associados seria feito a moda escoteira: - “Bem vindo, aqui também é o seu lar”!

                   Os Jamborees seriam agora subvencionados por grandes empresas, e com isto facilitando a participação do maior contingente a ser formado no grupo escoteiro. Uma equipe de profissionais foi formada nas regiões, visando uma maior participação, valorização dos distritos e visita aos grupos, colaboração na conscientização junto às autoridades locais. Os valores cobrados na Loja Escoteira tiveram abatimentos enormes, pois se evitava a palavra “Lucro” e substituída pela palavra “Servir”.

                  Finalmente no ano em curso seria realizada a primeira eleição para a diretoria nacional, com a participação de todos aqueles maiores de dezesseis anos que praticassem escotismo em solo brasileiro. Tudo feito pelo PAXTU e diversos convites foram enviados as regiões para que tivessem presentes auditores independentes, na maior democracia já realizada pelo escotismo. Se tudo corresse de acordo, a partir das cinco horas da tarde, ou pelo horário atual de seu estado todos ficariam sabendo qual seria a nova liderança escoteira da União dos Escoteiros do Brasil.

                  Sentando na minha varanda eu vibrava com essa transformação. Até mesmo pensava que agora poderia de novo retornar e fazer o meu registro coisa que não fazia há trinta anos. Nunca pensei em fazer meu registro novamente apesar de que na minha consciência me considerar um escoteiro imortal. Esperava com ansiedade o fechamento das eleições para ver quem seriam os novos dirigentes e o novo Escoteiro Chefe eleito por quatro anos. Mas... O pior aconteceu...

                 - Marido! Marido! Acorda! Está quase caindo da cadeira! Você está velho demais para dormitar assim sentado e pode cair quebrando alguns ossos do seu corpo. Os homens do jaleco branco já te disseram que na sua idade recobrar as forças perdidas não é fácil! – Linda mulher! Linda esposa! Sempre ao meu lado para me mostrar onde devo caminhar. Acordei sorrindo, sei que a verdade era outra. A Democracia escoteira ainda não existe. Foi apenas um sonho, mas um belo sonho! Ah! Escotismo que te quero que te amo, que não o deixarei jamais!