Crônicas de uma Velho Chefe Escoteiro.
Uma volta a Gilwell.
Prólogo: - - É uma pena que um homem tenha que viver sessenta anos
para adquirir alguma experiência de vida e a leve para o túmulo, cabendo aos
que o seguem começar tudo de novo, cometendo os mesmos erros e enfrentando os
mesmos problemas... Baden-Powell.
Acordei assustado. Não gostei do sonho. Lá pelas duas da manhã após uma
breve história no tempo, eis que tomei uma resolução. Vou voltar de novo a um
Grupo Escoteiro. Chefe de Tropa não vai dar o corpo enxuto não vai ajudar, na
Alcateia complica. Fazer o Grande Uivo levantando e abaixando? Nem pensar.
Seniores? Como seu “Moço” se nem andar posso? Ora bolas qual cargo então?
Pensei, pensei em me oferecer como Gari. Poderia limpar a sede, na manutenção e
se o Presidente do Grupo deixar, catequizar os pais para ajudarem ao seu modo o
Grupo Escoteiro. Sempre achei que era bom nisso.
Era um bonito sábado de sol. Vesti meu uniforme com dificuldade.
Coloquei o chapéu e nem sei por que me deu na telha usar minha faca mundial. Botina
engraxada (saudades do Vulcabrás) peguei meu carrinho e lá fui para o Grupo
Escoteiro próximo a minha casa. – Sempre Alerta! Disse para o primeiro lobo e
escoteiro que vi. Responderam com má vontade. – O Chefe? – Ainda não chegou Chefe.
Akelá, Balu, Bagheera, Kaa primavam pela hora certa. Lobo, lobo, lobo! E a
lobada alegre lá foi se formar.
Fui
até a sede. Fechada. Quinze minutos e chegou o Chefe. Olhou-me de soslaio. Não
me reconheceu. – Sempre Alerta Chefe! Gritei em posição de sentido juntando os
cascos. Pediu-me para esperar e foi até o almoxarifado vestir o uniforme. Nova
moda atual. Voltou – O que posso ajudar? Perguntou. – Ops, desculpe Chefe Osvaldo
ao seu dispor. – Prazer Chefe, o que posso ajudar? – Vim ver se precisam de um Velho
Chefe Escoteiro. Tenho aqui meu curriculum e pode verificar minhas experiências
escoteiras.
Pegou meu curriculum leu só os tópicos frigiu a testa e perguntou. – Em
que pode nos ajudar Chefe? – Tudo que você quiser. São setenta e um anos de
escotismo. Como DCB e DCIM dei mais de duzentos cursos, quase oitocentas noite
de campo, perito em atividades mateiras. Comecei como lobo até chegar a Chefe.
Fui Presidente de uma Região no passado. Ele me olhou de novo. - Olhe Chefe me
preencha essa ficha. Depois aguarde que vamos analisar junto ao Conselho de
Chefes e a Diretoria. Vamos consultar também o Distrito e a região. O senhor
sabe da Nova Diretrizes Nacionais para gestão de Adulto, a Escoteiros do Brasil
disse para tomarmos cuidado, pois os antigos acham que seu tempo é melhor e
podem atrapalhar o estupendo trabalho que estamos desenvolvendo.
Quando terei resposta? Aguarde Chefe. Eu
telefono para o Senhor. Uma semana, duas dois meses, quatro e nada. Resolvi
procurar outro Grupo Escoteiro. Sempre a mesma coisa. Velho escoteiro já era. Reconheci uma Chefe de
lobos. Ela me cumprimentou meio sem graça e voltou para seus lobinhos. Seis
meses e percorri quatro grupos. No último disseram-me que eu tinha de fazer uma
reciclagem. Se passasse eles poderiam me aproveitar como Suplente do Diretor
Administrativo.
- Quem vai me reciclar? Perguntei. O Assistente
do Comissário Distrital. Ele vai pedir informações na EB e se for aprovado vai
chamá-lo para lhe orientar das novas bases do escotismo no Brasil. Eu já tinha
lido sobre a admissão de antigos dirigentes ou escotistas e depois de selecionados
passam por um período formativo de atualização. – É preciso? – È sim Chefe. Dizem
que os antigos quando chegam trazem o vício de sua passagem no escotismo e isto
pode trazer conflitos interpessoais além de prejudicar a nova politica escoteira
da Escoteiros do Brasil.
Vi que nunca mais poderia atuar em uma unidade escoteira. Todas elas
obediente às normas da Escoteiro do Brasil. Pensando bem, quem sabe devia
procurar uma nova associação? São várias, será que podem me aproveitar? Melhor
não. Ainda são ligados ao seu fundador, e mesmo me aceitando eu iria cobrar
Estatutos, Regimento Interno, Normas e Regras, e eleições livres e
democráticas. Será que encontraria isso?
Meu espelho metido a “besta” riu e comentou: - Chefinho (me lembrei de
algumas chefes de lobinhos que me chamam assim) – Seu negócio Chefe é escrever,
tem gente que gosta e tem outros que não. Você chefinho sabe que os grandões,
os varões da Casta, os donos do poder não leem o que escreve e se estão lendo é
na calada da noite e em OF. Guarda para si seus valores, seus conhecimentos,
guarda no fundo do bornal tudo que fez e colaborou para a formação de milhares
de jovens e chefes no Brasil.
Acordei e corri no site da UEB. Queria ler de novo e tentar entender as Nova
Diretrizes Nacionais para gestão de Adulto. Assustei. Os antigos ou mesmo
chefes que saíram há algum tempo estavam marginalizados. Poxa, serei a partir
de agora um excluído? Um proscrito? Um exilado? Um hilota? Sou considerado uma
pessoa de baixa casta?
Fechei os olhos e me veio à mente o que BP escreveu: - “É uma pena que
um homem tenha que viver sessenta anos para adquirir alguma experiência de vida
e a leve para o túmulo, cabendo aos que o seguem começar tudo de novo,
cometendo os mesmos erros e enfrentando os mesmos problemas”... – E eu... Já
entrando nos setenta e oito anos. Velho demais!
Nota – As Diretrizes Nacionais para gestão de Adulto é real. A
entrada de antigos deve ser considerada formalmente pela diretoria do grupo para
evitar futura discórdias (assim dizem). Antigos Chefes como eu nem sempre serão
benvindos.