terça-feira, 29 de janeiro de 2019

Uma conversa ao pé do fogo. Apenas uma mesa de acampamento.



Uma conversa ao pé do fogo.
Apenas uma mesa de acampamento.

Prologo: - Todos são peças importantes no trabalho em equipe, cada um representa uma pequena parcela do resultado final, quando um falha, todos devem se unir, para sua reconstrução. (Salvador Faria).

                                        Era uma mesa simples. Nada diferente de tantas que ele um dia viu fazer. Era sua primeira. Teve a permissão de construí-la sozinho. Gentileza do Monitor. Era um desafio que ele mesmo fez para si. O Monitor lhe disse onde seria o campo da patrulha. – Se for fazer a mesa escoteiro faça perto da cozinha. Viu os demais patrulheiros seus amigos planejando e fazendo atividades mil. Sabia que sempre fora assim. Em casa planejou, matutou, desenhou e calculou. Pensou como seria. Quantas achas de madeira, quantos bambus. Multiplicou, fez da álgebra a parte final para não errar as medidas de sua primeira construção.

                                       Mãos a obra. Uma machadinha e um facão eram instrumentos preciosos. Próximo ao bambuzal viu dois eucaliptos. Estavam autorizados no corte. Quando o primeiro caiu ele ia gritar “madeira”! Mas sentiu tristeza, pois ele sabia que a árvore morrera nas mãos de um Escoteiro. Alguém lhe disse que cortando vinte centímetros acima da terra as mudas ao redor dariam outras três. Não ajudou, mas deu para esquecer a tristeza momentânea.

                                       Arrastou os dois pés de eucalipto por trezentos metros. Longe. Não foi fácil. Voltou para pegar os bambus que havia cortado. Nada de sobra, nada de faltar. Fez um feixe e foi para seu lugar onde iria trabalhar. Tirou a camisa escoteira tirou o lenço. Sabia que não se colocava o lenço sem estar uniformizado. O sol a pino, mas não dizem que os Escoteiros não se assustam com nada? Uma estaca e lá esta ele cortando e medindo sua madeira e bambus. Tudo pronto agora era fazer os buracos. Seriam quatro. Quarenta centímetros de fundo no mínimo para que a base fique forte.

                                      Uma hora, duas três. Estava terminando. Quantas amarras deu? Quantos nós fez? Era hora de fazer simultaneamente duas costuras de arremate no seu tampo da mesa. O suor não perdoava. Correu até o regato e lavou o rosto, ajoelhou na beirada e bebeu da água cristalina pausadamente com a própria boca. Olhou de longe sua construção. Foi mais perto, pôs a mão na cintura fazendo pose. Olhou de um lado, passou para o outro.

                                      O Escoteiro estava deslumbrado com o que fez. Ninguém na patrulha observou ou elogiou. Puderas afinal isto era uma rotina de todos os acampamentos, mas não para ele. Sorriu satisfeito. Pegou a lona, jogou pela viga mestra, já tinha fincado a primeira forquilha. Ele ria da lona torta. Aguarde dona lona, ele disse. Mais quatro espeques. Pronto. Podia chover canivete. Sorriu quando o monitor lhe deu uns tapinhas leve nas costas dizendo – Parabéns!

                                      No jantar viu quando todos pegaram seus pratos suas canecas e se dirigiram para a mesa. Ele foi o último. Queria vê-los todos em volta e sentados. Um espetáculo a parte de quem fez. Oraram. “Senhor obrigado por esta refeição, obrigado pela natureza bela que nos deu para viver uns dias, obrigado senhor pela água límpida do córrego, obrigado senhor pela noite, pelos vagalumes e pela Dona Coruja que vai nos olhar com seus olhos espantados”. Amem!

                                     Ele baixinho completou: - E pela força que me deu por ter feito a sala de jantar da patrulha. Obrigado Senhor. À noite deitado na grama olhando o piscar das estrelas, pensou consigo mesmo sorrindo. Quem dos meus amigos vai entender tudo isso? Perguntou para sí próprio. A dor dos ossos da junta reclamante, dos calos nas mãos ele sabia que iriam fazer efeitos no dia seguinte. Os ossos do corpo doíam e iam piorar, mas ele não se importava.

                                     Hora de dormir, disse o Monitor. Ele sorriu para seu amigo Monitor. Sabia que não fora um pária... Tinha feito sua parte. Ele entendeu agora quando o Monitor explicou que eram uma equipe, uma Patrulha. Todos colaboram para que a Patrulha possa ter sua casa, seu lar assim era o Campo de Patrulha.

                                     Dormiu feito um anjo e sabia que este dia seria para ele o inicio de muitos outros que iria mostrar a força de um trabalho em equipe. Amava sua patrulha e por ela daria sua vida. Agora ele sabia como era bom ser Escoteiro e feliz ajudando aos outros e ajudando a sí mesmo!