Conversa ao
pé do fogo.
John Thurman
um visionário?
Prologo: - O escotismo brasileiro
vem mudando através dos tempos e nem sempre benéfica. Temos hoje uma liderança
cuja principal meta é o lucro e o poder. Paga-se bem para ser um escoteiro. Que
digam os participantes da Escoteiros do Brasil. Os últimos acontecimentos o “truste”
feito por uma só associação no fornecimento de seus acessórios sem livre
escolha, a imposição de certas normas e vestuário (aconselho a lerem os últimos
artigos publicados no site (Café Mateiro) mostrando as mazelas da Escoteiros do
Brasil nos últimos tempos). Como venho postando anualmente, estou publicando este
artigo de John Thurman que previa o que poderia acontecer ao Escotismo no futuro.
Escrito em agosto de 1957 nunca deixou de ser atual. John Thurman foi Chefe de Campo
de Gilwell Park por muitos anos. Boa leitura!
Os Sete Perigos
Por
John Thurman - (chefe de campo de Gilwell Park)
Existem sete perigos para o Escotismo, para os quais, me parece, devemos estar alertas e tomar cuidado:
1.
Complacência, do tipo de pessoas que pensam: "há cinquenta anos temos
trabalhado assim e temos feito um bom trabalho, portanto continuemos
assim". Recordemo-nos que o trabalho para os rapazes de hoje tem que ser
feito pelos homens do presente. Estou tão orgulhoso, como qualquer outro
Escotista, do nosso passado, mas isso não nos leva a parte alguma. Há, hoje,
muito mais a ser feito do que houve em qualquer outra época e o máximo que o
passado pode fazer para nós é inspirar-nos para um maior esforço;
2.
Centralização. Acampamentos Nacionais, Regionais e Jamborees são muito bons,
mas quando muito frequentes, podem ser desastrosos. Devemos dar ao Escotista a
maior oportunidade possível para trabalhar com a sua Tropa e infundir-lhe os
bons princípios e não juntar os rapazes em grandes massas para um grande
espetáculo. Às vezes existe tal número de atividades organizadas pelo Distrito
ou Região que praticamente não resta tempo ao Escotista para trabalhar com as
Patrulhas ou Alcateias;
3.
Super administração e não suficiente capacitação. Gostaria de sugerir-lhes dar
uma olhadela nos orçamentos e balanços, para verificar se aquilo que gasta com
papelada e administração está equilibrado com o que se emprega na capacitação
técnica. Ambas as coisas são necessárias, porém mantenhamos o equilíbrio.
4.
Seriedade Demasiada. O Escotismo é algo sério, contudo, uma das grandes coisas
é a alegria de participar dele, isso tanto para os dirigentes como para os
rapazes. Em alguns países, há o perigo de se pensar em termos educacionais ou
psicológicos e, enquanto fazemos isso, perdemos muito da nossa condição de
"amadores". E vocês todos sabem que como amadores somos bons, mas
como profissionais somos péssimos. Somos uma parte complementar na vida do
rapaz; complementar na escola, dos pais, da igreja, e, mais tarde, do trabalho.
5. Exclusividade, o perigo de pensar que "os chefes
devem provir do próprio Movimento". Penso que necessitamos de gente de
fora, com diferentes experiências - homens de bem que tenham a faculdade de
crítica construtiva e que tragam sangue fresco para o Movimento;
6.
Austeridade demasiada. Acho que tendemos a nos fazer demasiado respeitáveis e a
nos converter em um movimento para apenas os rapazes bons, em vez de levar o
Movimento para os rapazes que dele necessitam. O Escotismo nasceu em 1907 entre
meninos pobres e, se economicamente os rapazes melhoraram desde então, por
outro lado moral e espiritualmente existem rapazes tão pobres como naquela
época, que necessitam do Escotismo.
7.
Trabalhar para fazer super escoteiros. Devemos estar conscientes, no que diz
respeito a adestramento, de não tratar de começar um curso a partir de onde
deixamos o anterior, sem pensar que necessitamos começar e recomeçar sempre
pelas bases e os princípios para progredir a partir destes.
Para
terminar, recordemo-nos que Baden-Powell, em 1938, proclamava com orgulho e
alegria o número de três milhões e meio de Escoteiros no mundo. Agora podemos
ver um movimento que ultrapassou os oito milhões, (1957) devido justamente à
sua simplicidade e ao prazer dos rapazes que tem sido contínuo.
Sem dúvida, Baden-Powell tocou o dedo em algumas das mais formidáveis idéias e práticas que levam os rapazes a segui-las com entusiasmo, e nos métodos, e modo de manejar e guiar os rapazes. É por isso que devemos nos manter o mais possível dentro da simplicidade, da alegria e do entusiasmo que ele inspirou.
OS ÚNICOS CAPAZES E POSSÍVEIS DE PÔR O ESCOTISMO A PERDER SÃO OS PRÓPRIOS CHEFES E DIRIGENTES.
Se nos tornarmos arrogantes, complacentes e a nos fazermos passar por demasiado auto-suficientes, então - e apenas com essas coisas - poderemos arruinar o Movimento. Feliz palavra de John Thurman. Muitos associados adultos, rapazes e moças estão saindo. Reclamam das atividades. Precisamos meditar.
Nota
- John Thurman britânico foi condecorado com o “Bronze Wolf”, mais
alta comenda do Movimento Escoteiro. Também assumiu o cargo de Chefe de Campo
em Gilwell Park entre os anos de 1943 e 1969, tendo se destacado nesta função.
Hoje em Gilwell existe um auditório que leva seu nome. Este seu artigo dá plena
visão do que pensava B.P sobre nossa atuação no movimento escoteiro.