Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Projeto escoteiro – Operação Chefia.
Prólogo:
- E você meu amigo, aceitaria meu convite para um acampamento só de chefes? Um
perfeito acampamento de Gilwell? Se aceitar será bem vindo, quem sabe fazemos
um sem ser um sonho? Os bons tempos dirão. Sempre Alerta.
Meditava
sobre o escotismo de hoje e do futuro. O velho sonho de ser um herói da selva
ainda persistia, mas agora na mente dos adultos que chegavam ao escotismo.
Muitos deles não tinham sido escoteiros e quando dirigiam suas tropas se
colocava no lugar de cada jovem na tropa e em sua Patrulha. A maioria queria
voltar no tempo, fazer seu escotismo de raiz conforme ele pensava ser um
Monitor, montar seu campo, dar seu grito escolher seu nome, correr pelos campos
com seu bastão, cantando Rataplã como faziam seus jovens nas serras distantes.
Foi
então que pensei, porque não organizar tropas de chefes escoteiros? Porque não
dar a eles a oportunidade de voltar no tempo e acamparem conforme seus sonhos? Qual
deles não gostaria de ser um patrulheiro, viver no acampamento, fazer sua
refeição e construir sua Pioneiría? Já pensou gritar madeira, montar sua
barraca suspensa, sua ponte pênsil e grandes construções? – Mãos a obra. Publiquei no Facebook minha
intenção. – Amigos eu estou organizando uma tropa de chefes escoteiros para um
acampamento de 10 dias. Se você é akelá, Chefe de tropa Assistente ou membro
honorário do escotismo e quiser fazer parte faça sua inscrição conforme folha
anexa. Tomei um belo susto! Choveram inscrições. 300 só na primeira semana. O que
fazer? Uma tropa teria que ter no máximo 32 chefes. Escolhi a tropa por
sorteio. Prometi aos demais repetir brevemente o acampamento. Muitos reclamaram,
mas o que fazer?
Assim
foi feito. Escrevi para cada um como seria. Pedi para levarem a sério o acampamento
conforme anotações em anexo. A primeira reunião ficou marcada para três meses depois.
Seriam dez dias acampados na Serra do Caparaó. Todos deviam preparar-se bem,
com roupas adequadas, saco de dormir (para pata tenras novatos) e os mais
mateiros poderiam levar seus sacos comuns para encherem de grama e folhas
secas, coisas de escoteiros que estão acostumados a acampar. O local de
encontro, horário, material e a tralha de Patrulha consegui emprestado em uma
tropa escoteira de amigos. O dia chegou chefes gritando sempre alerta. Todos
com seu uniforme ou vestimenta. Exigi postura e pedi para não usarem camisa
fora da calça nem lenço amarrado nas pontas e os tais chapéus de pano que dão
lucro para a Cantina da EB. Risos. Afinal do garbo e boa apresentação não abro
mão.
Formamos
as patrulhas. Vinte minutos para cada uma escolher o nome, o grito, o lema, e o
cargo de cada um na Patrulha. Como eram oito dias haveria revezamento nos
cargos. Todos seriam Cozinheiro, bombeiro lenhador, Construtor de pioneirías, Almoxarife
Intendente, sub e Monitor e demais cargos a escolher. Perguntaram-me se não
podia ser os nomes das patrulhas de Brownsea. Porque não? Logo estavam se apresentando:
- Chefe Corvos prontos, e Lobos prontos. Logo vieram os Maçaricos e Touros,
Sempre Alerta Chefe Patrulha pronta para montar o acampamento! Todos vibrando,
me lembrei do meu curso da Insígnia feito lá pelos idos da década de sessenta. Treinamos
por alguns minutos os sinais manuais. Havia discordância e agora não mais.
Os
chefes vibravam. Cantavam canções desafinados. Por pouco tempo logo iriam
cantar como os três tenores. Sentiam-se rejuvenescidos. Eu sabia que isso seria
no primeiro dia, depois as duvidas, as discordâncias iriam acontecer. Não é
fácil viver em equipe com quem não se conhece mesmo sendo escoteiro. Isto seria
um excelente aprendizado para as futuras tropas. – Uma hora para armarem o
campo e mais uma para o almoço! Foi um corre, corre. Eu olhava com atenção cada
um. As mulheres não ficavam atrás dos homens. Uma barraca, duas uma mesa, duas,
fumaças aromáticas e gostosas no ar. Um sentimento patriótico quando apitei
para a bandeira. Cada um em seu lugar virava para a arena e fazia a saudação.
Os
Touros me convidaram para o almoço. Estava com fome. Seu cozinheiro era um
Chefe de Santa Catarina e o Monitor do Ceará. Distantes na lida, unidos pelo
escotismo. Todas as patrulhas almoçaram e convidei para uma Caçada ao Javali.
Nada de matar o bichinho, o jogo seria quem conseguiria fotografar um pássaro
ou animal mais próximo. Os Maçaricos ganharam. Fotografaram um Jacaré a menos
de um metro no lago próximo. O dia foi demais. Alguns chegaram ao campo de
chefia perguntando o que fazer para acabar com os calos feitos nas mãos com
amarras e sisal. Eita turma de noviços, um pequeno galho para costurar e tudo
estaria resolvido. Sabia que ninguém tinha trazido luva.
A
noite um jogo noturno calmo, todos muito cansados e convidei para uma conversa
ao pé do fogo no meu campo de Chefia. Eu tinha um, fazia questão. Um bule de
café fervia nas brasas, um vasilha de água quente para os aficionados do chimarrão
e claro bananas e batatas doce assando. Ali estavam meninos se divertindo e não
homens reclamões a exigir o que não poderiam fazer. Três dias depois uma
fraternidade cheia de cortesia e respeito. Ninguém mais gritava, sempre o vamos
fazer e não vai você. O primeiro acampamento da tropa Minueto iria ficar na
história. Eu até pensava no dia das grandes pioneirías, no ninho de águia, no
caminho do Tarzan, na torre das nuvens brancas, e no elevador tendo o vento
como combustível. Combinamos que as patrulhas se revezariam na conversa ao pé
do fogo. Dormi como um anjinho e acordei com o nascer do sol...
Acordei
disposto a tudo, procurei meu chifre do Kudu para iniciar a jornada do dia e
nada. Onde estava? Olhei melhor, era meu quarto, tudo não passou de um sonho.
Eita eu que adoro sonhar escoteirando. Senti o cheiro do café que a Célia
fazia. Levantei, espreguicei e cantei uma canção escoteira: Que dia
maravilhoso, que belo amanhecer, na paz de Deus junto a terra... Ah como é belo
viver!
E
então? Vai ou não vai se inscrever neste belo acampamento só de chefes?