quinta-feira, 4 de julho de 2019

O último dos moicanos. Israel ou Rael, Escoteiro da minha Patrulha Lobo foi para o céu.




O último dos moicanos.
Israel ou Rael, Escoteiro da minha Patrulha Lobo foi para o céu.

- Não, não foi o último dos Moicanos. Eu ainda estou de pé. Fiquei sozinho dos remanescentes da Patrulha Lobo. Rael foi o sinaleiro e construtor de pioneiras. Éramos sete. Tãozinho o Monitor, Helinho o Sub-monitor, Darcy o Cozinheiro, eu escriba e bombeiro lenhador, Chiquinho o mais novo sorria por ter sido eleito intendente. Totonho não era frequente. Não tinha cargo e ajudava em tudo. Um dia desapareceu do Grupo Escoteiro e só um mês depois soubemos que fora com seu pai para a selva do Suriname em busca de ouro. Se ficou rico não sei. Rael sempre foi meu amigo mais próximo. Passávamos horas conversando na porta de sua casa ou na Oficina de Meu pai onde depois da escola ajudava no que podia fazer. Adorava almoçar e jantar na minha casa e isto aconteceu mesmo quando casei. Tivemos aventuras enormes pelas cercanias de Governador Valadares, cidade onde nasci escoteiro e no Grupo Escoteiro São Jorge onde fiquei até os dezoito anos.

- Inesquecíveis nossos acampamentos, nossas aventuras e ele foi meu companheiro na Jornada de Primeira Classe. Seis meses depois fez a sua e eu o acompanhei.  Desde os treze anos que vez ou outra em cima de uma biscicleta, eu na minha Husqvarna sueca, me deliciava com seu pneu balão faixa branca e ele em sua Philips inglesa rodávamos da Pastoril até São Raimundo depois da ponte sobre o Rio Doce só para conversamos pedalando, coisas que hoje não faço mais. Tãozinho tinha uma Monark semi nova e Helinho também uma Philips usada. Chiquinho tomava emprestado da minha irmã uma Husqvarna freio contra pedal de uso feminino, e Darcy pegava a do seu pai (não me lembro à marca) quando íamos nos aventurar biscicletando por trilhas e estradas carroçáveis nos arredores de nossa cidade. Mantena, Itahomi, Tarumirim, Caratinga, Teófilo Otoni, Guanhães, Coronel Fabriciano, Ipatinga, Conselheiro Pena, Aimorés, Baixo Guandu e tantas outras cidades nos receberam sempre gritando: Estão chegando os Escoteiros do Brasil. Totonho não era frequente nem sempre seu pai emprestava biscicleta.

Quando fiz meu primeiro CAB (Curso de Adestramento Básico) em 1959, Israel chorou porque não podia ir. Eu estava próximo aos dezoito e ele ainda não tinha dezessete. Se não me engando era dois anos mais velho que ele. No IM parte II fomos juntos. Fiquei na Touro e ele na Maçarico. Nossa amizade continuou por toda a vida. Da Patrulha foi o único que se formou como Engenheiro Mecânico. Terminando o curso foi trabalhar como Engenheiro na CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) em Volta Redonda. Sempre em suas férias lá estava ele na minha casa onde ficava dias descansando. Quando saiu da CSN foi para Governador Valadares onde se tornou professor. Vez ou outra recebia dele uma carta até que morando em São Paulo eis que ele chega na minha casa, com aquele sorriso de sempre acompanhado de sua Esposa Dora. Foram mais de dois dias para colocarmos o papo em dia.

- Vez ou outra recebia seu telefonema. Sempre batendo aquela saudade. Hoje fiquei sabendo de seu falecimento. Sua esposa telefonou. Estava preparando outro artigo para publicar, mas o Rael tinha prioridade. Morava e ainda mora em meu coração. Fizemos escotismo juntos desde os lobinhos e até quando ele assumiu a chefia no São Jorge. Passamos uma temporada longe um do outro, mas a amizade nunca foi perdida. Tive muitos amigos do peito, mas o Israel foi o único que através dos tempos nunca perdemos o contato. Estou sozinho agora, a Patrulha se foi. Breve estarei com eles no Grande Acampamento e em reunião de Patrulha darei a sugestão de partimos para grandes aventuras escoteiras no espaço sideral. Nossas reuniões de patrulhas serão retornadas em uma estrela qualquer. Os sorrisos, as idéias, as noites estreladas que lá no céu devem ser espetaculares irão ouvir o Cantar da Patrulha Lobo e o seu grito inesquecível: - Qui que quode. Com a Lobo ninguém pode!

Ao Israel meu ultimo abraço enviado aqui da terra. Não faltarão outros na outra dimensão do infinito que iremos viver. Agora estou só, não sei se sou o ultimo dos Moicanos. Israel agora se foi, e eu fiquei sozinho. Minha mente estará sempre com ele esteja onde estiver. Espero que os demais da Patrulha Lobo estejam ao seu lado, e breve  muito breve estaremos reunidos outra vez!