O último dos
moicanos.
Israel ou
Rael, Escoteiro da minha Patrulha Lobo foi para o céu.
- Não, não foi o último
dos Moicanos. Eu ainda estou de pé. Fiquei sozinho dos remanescentes da Patrulha
Lobo. Rael foi o sinaleiro e construtor de pioneiras. Éramos sete. Tãozinho o Monitor,
Helinho o Sub-monitor, Darcy o Cozinheiro, eu escriba e bombeiro lenhador, Chiquinho
o mais novo sorria por ter sido eleito intendente. Totonho não era frequente.
Não tinha cargo e ajudava em tudo. Um dia desapareceu do Grupo Escoteiro e só
um mês depois soubemos que fora com seu pai para a selva do Suriname em busca
de ouro. Se ficou rico não sei. Rael sempre foi meu amigo mais próximo. Passávamos
horas conversando na porta de sua casa ou na Oficina de Meu pai onde depois da
escola ajudava no que podia fazer. Adorava almoçar e jantar na minha casa e
isto aconteceu mesmo quando casei. Tivemos aventuras enormes pelas cercanias de
Governador Valadares, cidade onde nasci escoteiro e no Grupo Escoteiro São
Jorge onde fiquei até os dezoito anos.
- Inesquecíveis nossos
acampamentos, nossas aventuras e ele foi meu companheiro na Jornada de Primeira
Classe. Seis meses depois fez a sua e eu o acompanhei. Desde os treze anos que vez ou outra em cima
de uma biscicleta, eu na minha Husqvarna sueca, me deliciava com seu pneu balão
faixa branca e ele em sua Philips inglesa rodávamos da Pastoril até São
Raimundo depois da ponte sobre o Rio Doce só para conversamos pedalando, coisas
que hoje não faço mais. Tãozinho tinha uma Monark semi nova e Helinho também
uma Philips usada. Chiquinho tomava emprestado da minha irmã uma Husqvarna
freio contra pedal de uso feminino, e Darcy pegava a do seu pai (não me lembro à
marca) quando íamos nos aventurar biscicletando por trilhas e estradas carroçáveis
nos arredores de nossa cidade. Mantena, Itahomi, Tarumirim, Caratinga, Teófilo Otoni,
Guanhães, Coronel Fabriciano, Ipatinga, Conselheiro Pena, Aimorés, Baixo Guandu
e tantas outras cidades nos receberam sempre gritando: Estão chegando os
Escoteiros do Brasil. Totonho não era frequente nem sempre seu pai emprestava biscicleta.
Quando fiz meu primeiro
CAB (Curso de Adestramento Básico) em 1959, Israel chorou porque não podia ir.
Eu estava próximo aos dezoito e ele ainda não tinha dezessete. Se não me
engando era dois anos mais velho que ele. No IM parte II fomos juntos. Fiquei
na Touro e ele na Maçarico. Nossa amizade continuou por toda a vida. Da Patrulha
foi o único que se formou como Engenheiro Mecânico. Terminando o curso foi trabalhar
como Engenheiro na CSN (Companhia Siderúrgica Nacional) em Volta Redonda.
Sempre em suas férias lá estava ele na minha casa onde ficava dias descansando.
Quando saiu da CSN foi para Governador Valadares onde se tornou professor. Vez
ou outra recebia dele uma carta até que morando em São Paulo eis que ele chega
na minha casa, com aquele sorriso de sempre acompanhado de sua Esposa Dora.
Foram mais de dois dias para colocarmos o papo em dia.
- Vez ou outra recebia seu
telefonema. Sempre batendo aquela saudade. Hoje fiquei sabendo de seu
falecimento. Sua esposa telefonou. Estava preparando outro artigo para publicar,
mas o Rael tinha prioridade. Morava e ainda mora em meu coração. Fizemos
escotismo juntos desde os lobinhos e até quando ele assumiu a chefia no São Jorge.
Passamos uma temporada longe um do outro, mas a amizade nunca foi perdida. Tive
muitos amigos do peito, mas o Israel foi o único que através dos tempos nunca
perdemos o contato. Estou sozinho agora, a Patrulha se foi. Breve estarei com
eles no Grande Acampamento e em reunião de Patrulha darei a sugestão de
partimos para grandes aventuras escoteiras no espaço sideral. Nossas reuniões
de patrulhas serão retornadas em uma estrela qualquer. Os sorrisos, as idéias,
as noites estreladas que lá no céu devem ser espetaculares irão ouvir o Cantar
da Patrulha Lobo e o seu grito inesquecível: - Qui que quode. Com a Lobo ninguém
pode!
Ao Israel meu ultimo
abraço enviado aqui da terra. Não faltarão outros na outra dimensão do infinito
que iremos viver. Agora estou só, não sei se sou o ultimo dos Moicanos. Israel
agora se foi, e eu fiquei sozinho. Minha mente estará sempre com ele esteja
onde estiver. Espero que os demais da Patrulha Lobo estejam ao seu lado, e
breve muito breve estaremos reunidos
outra vez!