Conversa ao pé do fogo.
Nota - Totem significa o símbolo
sagrado adotado como emblema por tribos ou clãs por considerarem como seus
ancestrais e protetores. O totem costuma ser
um poste ou coluna e pode ser representado por um animal, uma planta ou outro
objeto. ... Os totens são vistos
como talismã, objetos de veneração e de culto entre o grupo.
Esta é uma
tradição muito antiga no escotismo, parte da mística escoteira que vemos citada
quando chefes mais idosos são mencionados e que atualmente está em desuso. Por
isso que Benjamin Sodré era chamado Velho Lobo, Glaucus Saraiva era conhecido
por Uirapuru, Jarbas Pinto Ribeiro era Quati e tantos outros. Além da
tradição passada de ouvido a ouvido, existe uma base documental, o livro Sempre
a Direito, publicado em Portugal pela Editora Educação Nacional, escrito por
Léopold Derbaix, com citações do próprio Baden-Powell. No capítulo “Os
Tótemes”, páginas 298 e 299, o autor faz a seguinte explanação que está
transcrita na forma original, sem mudanças no idioma ou estilo:
“Cada
escoteiro terá, igualmente, o seu nome de guerra: o seu tóteme”. Eis aqui uma
inovação que muita gente critica e que, pelo contrário, revela a admirável
sagacidade pedagógica de Baden-Powell. A mania das alcunhas e dos sobrenomes
constitui um fato inegável, quer na caserna, quer nos colégios. Em vez de um
nome puramente convencional, quase todos preferem designar os indivíduos por
uma expressão incisiva ou maliciosa, nem sempre inocente, através da qual
ressaltem os seus pontos fracos ou seus defeitos.
Baden-Powell aproveita
esta mania, que sabe perfeitamente ser impossível de combater; não só a torna
inofensiva, mas tira dela todo o partido possível, utilizando-a com uma
finalidade educativa. “Ele gosta que se dê um nome de guerra a cada escuta, o nome
de qualquer animal que possua um sinal característico da personalidade do
interessado e que lhe recorde uma qualidade que lhe falta ou um defeito que ele
deve combater.”
Nos grupos escoteiros brasileiros que adotavam esta mística, a prática
costumava ser que cada membro ao entrar para o grupo, mesmo que lobinho
escolheria um animal para ser chamado e servir de alcunha. Ao mesmo tempo,
também poderia escrever uma pesquisa sobre o referido animal, descrevendo seus
hábitos e características. Não era recomendado que fossem nomes de patrulhas do
grupo nem totens que estivessem sendo usados por outros jovens naquele momento,
para evitar confusões. Os que voltavam a ser usados em outros tempos recebiam
números em romanos, tipo Jacaré II, Panda III.
A prática desta tradição revela situações inusitadas promovidas pelos jovens
que valem alguns relatos. Muitos destes totens acabam virando apelido de rua
dos jovens, especialmente em lugares onde estes têm convivência também fora do
grupo escoteiro. O inverso também ocorre com o apelido da rua virando o totem,
quando já era um nome de animal. Outras vezes, o totem se estende para o seu
irmão mais moço, que fica conhecido pelo diminutivo, algo tipo o coruja e o
corujinha. Por vezes o escoteiro escolhe um totem e os outros acabam adequando
o novo apelido, como o menino que escolheu pastor alemão, mas dada a sua
personalidade, o totem foi adaptado para cachorro louco.
Enfim, esta prática antiga é muito interessante e pode se tornar uma boa
ferramenta para evitar o bulling, uma vez que o próprio escoteiro escolhe o
apelido, evitando situações jocosas ou pejorativas. Particularmente, a
empregamos em nosso grupo escoteiro com sucesso até os dias de hoje, onde
todos, inclusive os chefes, tem seu totem.