Pensamentos
de um Velho Chefe Escoteiro.
Meu nome?
Osvaldo Ferraz, Se me chamarem Chefe Osvaldo melhor.
- Quando menino eu era o “Vado
escoteiro” e hoje sou um Velho Escoteiro, maniento, gagá, chato de galocha e
condenado pela maneira de ver o escotismo como se vivesse no passado. Continuo
pobre como sempre fui, mas orgulhoso. Defendo o escotismo de Baden-Powell o
único que considero verdadeiro. Sou formando na Escola da vida e com ela
aprendi a ler e a escrever. Não abro mão de certas modernidades que no meu modo
de entender desvirtuam toda filosofia Badeniana.
- Ainda acredito em honra, em caráter
em assinar com o fio do bigode. Acredito na Palavra do Escoteiro, acredito na
lealdade na cortesia e na pureza de qualquer membro que um dia fez a Promessa
Escoteira. Costumo ser mordaz quando escrevo meus artigos meus contos e deles
não abro mão. Escotismo para mim não tem segredos. Fui madeira, fui cipó, fui
barraca, fui sisal nasci artimanhas e engenhocas para divertir a escoteirada.
- Não tenho nenhum documento para
provar que ainda sou escoteiro da EB. Não me liguei a outra associação apesar
de respeitar todas elas. Sinto-me no direito de ainda ser UEB livre alegre e
dono de mim mesmo. Fiz a promessa estando nela e pretendo sair deste mundo com
ela. Não abdico meu direito de dizer e escrever o que penso, mesmo que vá de encontro
a outras maneiras de pensar. Não irei participar a troco de medalhas e outras
bajulações. Não faz parte do meu “metier”. Os cabelos brancos me mostrou outros
caminhos e deles faço questão de trilhar.
- Critico com ressalvas o tal
escotismo moderno, estas mudanças insensatas onde a maioria nem consultada foi.
Critico também esta luta pelo poder desmascarando a face de muitos que juraram
ser leais e amigos de todos. Afirmo que muito poderia ser feito, mas não da
maneira estapafúrdia como está sendo realizado. Fico triste em pensar que este
não seria o caminho pra o sucesso escolhido pelo fundador.
- Tentei com todas minhas forças, mas
não consegui fazer uma trilha de flores e água boa para beber no caminho que trilhei.
Ainda penso que um dia poderemos ter uma liderança sensata, ouvindo primeiro
antes de agir. Onde cada um tem os mesmos direitos sem as lutas odiosas pelo
poder do nada há não ser forjar um ego de se considerar superior e o melhor.
- Quer saber? Corro do dinheiro. Fiz
escotismo sem ele. Nenhum níquel nenhum vintém, nenhum tostão. Sei que sem ele
hoje é impossível dar os passos para uma volta a Gilwell. Sei que é difícil ou
quase impossível fazer um escotismo alegre e solto. Dizem que não existem
almoço grátis. Concordo, mas eu estou fora. Hasta lá vista Baby!
- Não vendo nada e não tenho distintivos,
lenços e outros quesitos para vender. Acredito na troca, no presente de um
irmão que queira oferecer a outro irmão escoteiro. Quando me convidam para uma
atividade ou uma festa e dão valores ponho a mão no bolso, pego meu cantil e
vou por aí bebericar uma bela canção escoteira na beira de um riacho qualquer.
- Nunca fui rico. Gastei sim boa parte
do meu soldo colaborando e ajudando os jovens a fazerem seu escotismo com amor.
Sei que sem tostões não é fácil nos dias de hoje caminhar escoteirando. Sei que
despesas existem. Um Grupo Escoteiro precisa deste metal para sobreviver. Se
você gosta de vender trecos escoteiros para seus irmãos de grupo não sou
contra. Desculpe não comprar, não é meu “métier”.
- Não “sou chegado” ao caixa alto nos
órgãos regionais e da nacional. Corro destas taxas e não aceito cursos cheios
de trê-lê-lê sofisticados querendo impressionar. Este não é o escotismo que
conheço. Gosto de contribuições simples e elas são bem vindas. Uma lenha um
bambu, uma corda uma panela uma lona e um bosque ou floresta tem tudo para
fazer um curso nos moldes de Gilwell onde ainda se faz o escotismo que
acredito. Não me impressiono com riquezas de sedes monumentais, de salas
espaçosas, de prédios suntuosos. Não é o meu escotismo. Para mim a vida ao ar
livre são as paredes do meu lar e o céu minha barraca.
- Chuto uma pedra no meio do caminho
sem pisar na flor que me olhou de soslaio pedindo uma lágrima para sobreviver.
Meus cursos não tiveram taxa e quando foi necessário foram as menores
possíveis. Quem pagou? Pergunte a quem correu mundos e fundos para conseguir o
metal sem brilho para custear. Errado eu? Sou sim. Até hoje não carrego no
bolso uma nota maior que dois ou cinco reais quando vou comprar pão. Sei que
nada sem o vil metal anda. Eu sei que ainda tem chefes como eu que fazem tudo
para fazer o escotismo andar com suas próprias pernas.
- Bem este sou eu. Quem sabe igual a
você. Podem até não gostar de mim... Paciência! Mas eu gosto do escotismo puro
nas bases com que foi fundado pelo nosso Líder Mundial. Se você fez a promessa o
considero meu irmão de sangue, mesmo que já não esteja fazendo um Crow em um
rio Waingunga qualquer. – Tu e eu seremos amigos para sempre!
- Calma com este velho maniento. Logo
estarei partindo e quando acontecer serei lembrado por alguns dias e depois
esquecido. Minhas palavras e minhas escritas ficarão postergadas no tempo do faz
de conta. Faz parte e entendo. De tudo um pouco e de muito que andei por aí a
escoteirar sempre repito que nos finalmente o que importa é que fui e ainda sou
feliz. Chega de falar de mim! Já me vou. Desculpe a foto. Hoje não sou mais
assim.
Um fraterno abraço e um até logo, pois
daqui a pouco eu volto e escoteiramente enquanto viver estarei na mesma trilha
que vocês!
Nota – Há dias publiquei um artigo
escrito no Blog Café Mateiro. Tratava-se do Imbróglio Escoteiro onde a nata da
liderança escoteira nacional meteu os pés pelas mãos. Ainda bem que nas
unidades locais (grupos escoteiros) ainda se pratica o escotismo puro nos
pensamentos nas palavras e nas ações. Alguém que se sentiu ofendido reclamou ao
Facebook que interditou minha página onde o artigo poderia ser lido, mas sem
poder comentar curtir ou compartilhar. Querem me calar? Tentem por favor!