terça-feira, 25 de setembro de 2018

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Escotismo... Eu te amo!



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Escotismo... Eu te amo!

Nota – Apenas uma crônica que o vento jogou no ar, se molhou com o orvalho da madrugada e como se fosse uma folha de papel qualquer caída em uma fonte de águas cristalinas sem poder ler o que estava escrito para ver até onde podemos alcançar nos sonhos escoteiros tradicionais...

O que irei escrever? Olho para a tela do computador que mudo nada me diz. Pense Chefe, afinal para que serve uma cuca escoteira? Para dizer que sabe fazer o pão com a melhor massa do padeiro? Olhei de novo a tela e lembrei-me do meu espelho. Danado de espelho. Sempre zombando de mim. – Cara tu tá com cara de quem não gostou da sopa do cozinheiro no seu acampamento mateiro que se foi e nunca mais vai voltar? Ele gosta de desfazer de mim, mas no fundo me ama.

Tiro os olhos da tela do computador e me volto ao que vi no espelho. Que cara meu! Lembrei quando ao meu lado na internação, um idoso que pensei ser mais que eu levantava com dificuldade nas difíceis camas que inventaram para os hospitais. – Quer ajuda? Perguntei? Ele riu. – Você? Danado de idoso, rindo de mim e olhe ele estava ali há três semanas e eu dois dias. Seu filho acompanhante entrou e perguntou por que estava rindo: - Olhe, o velhote me ofereceu ajuda!

Passo - Chega de hospital UPA ou o escambal. Meu espelho gargalha. Digo para ele: - Espelho, espelho meu, existe alguém mais feio do que eu? Ele deita no chão de rir. Eita espelho danado. Sorrio e me vou. Já o conheço de longa data. Tento pensar um tema para escrever. São tantos que escrevi que preferi não plagiar. Ainda ontem escrevi uma historia sem eira nem beira sobre a lenda do Broche de Ouro. Lenda? Sei não, mas fez sucesso na minha tropa quando o vimos pela primeira vez. De ouro? Bem não sei, era apenas um botton simples, mas lindo de morrer. Viva a ex-UEB!

Quando fiquei sabendo dele nunca tinha visto. Foi Caramelo quem chegou espavorido na Oficina de meu pai freando com um toque na roda da frente de sua bicicleta e gritando: - Tem gente nova no pedaço! Tem um homem com um broche de ouro escrito UEB! Espere, papai vai chegar logo. Meia hora depois estávamos fuçando os quatro cantos da cidade a procura do homem do broche de ouro. Nada. Na estação ferroviária o Trem Rápido para Vitória estava saindo e dentro do vagão Caramelo alertou: La está ele! Não vi, o trem pipocou na curva e sumiu.

Alguém sábio escoteiramente andou escrevendo sobre o Escotismo Tradicional. O que tem de caso com o Broche de Ouro? Não sei. Meu botton de tanto limpar foi perdendo a cor. Demorou para comprar outro. Isto é tradicional? Meu espelho me diz que sou burro. Claro que é velhote de araque. Tradição... Para que existir? Um celebre poeta que não lembro o nome disse que quem não tem passado não tem futuro. Tem? Escotismo se enquadra?

Não sei e nem posso afirmar, mas existiu ou ainda existe um desejo de se fazer nos novos escoteiros e chefes uma lavagem cerebral em nome do moderno. – Esqueça cambada! O passado foi bom para a velharada, para os tais Velhos Lobos (ainda bem que sou um velho Escoteiro). Mas afinal temos escotismo tradicional? Alguns prodígios humanos dizem que não existe tradição. Outros dão no pé da tal EB e fundam seus feudos chamados de escotismo tradicional.

Gosto de ler comentários dos prodígios escoteiros que conhecem a fundo a filosofia de Baden-Powell, do que ele pensa, do que ele escreveu do escotismo moderno e tradicional. Sei não... Não me enquadro. Escoteirei lobiasticamente meninote de seis anos e meio, escoteirei por montes e terras desconhecidas para mim naquele tempo. Escoteirei senioresticamente por plagas nunca antes imaginadas. Apertei milhares mãos de irmãos escoteiros e então sou o que? Tradicional ou moderno?

Mas não importa não é espelho, espelho meu. O escotismo tem seus percalços chamativos. Quem não sonha com a natureza? Quem não quer ouvir o cantar de um sabiá-laranjeira ou um Uirapuru nas madrugadas de uma floresta encantada? Quem não quer ver o por e o nascer do sul nos longínquos picos do mundo ou mesmo do Brasil? Subir nas Agulhas Negras, no Itatiaia ou na Bandeira tem um gostinho de lembranças tradicionais pra mim é claro.

Hora de parar. O corpo enxuto do Velho Chefe Escoteiro sabe que a elasticidade de suas veias onde corre o sangue escoteiro já não é mais as mesmas. Volto a Gilwell, na grama verde que nunca pisei, quem sabe também na modernidade e a saudade que muitos querem ainda ter nas suas andanças ou arruaças por campos e montes do meu Brasil. Que a EB sem consulta, menosprezando milhares de adeptos agindo de forma autoritária, fazendo seu trabalho de lavagem cerebral continue. A Escoteirada de hoje ainda vibra com o místico, com o passado e com as tradicionais lendas escoteiras de Baden-Powell. Lendas?