Conversas ao
Pé do fogo.
Meus tempos,
minhas saudades.
(- “Os versos são de Cassimiro de Abreu – Meus oito anos!”).
Prologo: - Oh! Que saudades que tenho da
aurora da minha vida, da minha infância querida que os anos não trazem mais! O
céu bordado d’estrelas, a terra de aromas cheia, as ondas beijando o mar! Oh!
Dias da minha infância! Oh! Meu céu de primavera! Que doce à vida não era nessa
risonha manhã! Em vez das mágoas de agora, eu tinha nessas delicias de minha
mãe as caricias e beijos da minha irmã!
- Onde andam? Onde andam
as patrulhas com suas bandeiras nas montanhas verdejantes deste meu belo país?
Correndo saltitantes pelos caminhos do mundo? Onde anda aquele bastão, nas mãos
de um escoteiro procurando trilhas para novos rumos a seguir? Onde andam
aqueles belos campos de patrulhas, cozinheiros de mão cheia fazendo quitutes
para os sorrisos e bem estar dos seus patrulheiros? Onde anda o trinado dos
talheres, dos pratos de esmalte, sendo batidos dolentes com os escoteiros sorridentes
esperando o seu jantar?
- Aonde anda o orgulho
de ser mais um, de poder ajudar, participar e crescer nas sendas da educação
escoteira? Não vejo mais um cordão Vermelho e Branco, um Dourado, uma Correia
de Mateiro, será que foram extintos? Onde estão os Lis de Ouro, os Escoteiros
da Pátria? São pequenos pingos a cair na cascata da ilusão? Meninos valentes,
bandeiras ao vento cantando o Rataplã! Onde estão? Só vejo na sede, só vejo na
cidade, quanta maldade fazendo deles meninos sem estrelas, sem estradas, sem
caminhos ou trilhas do porvir.
- Saudades de uma
inspeção, do lava mão, da faca e do facão, da colher perdida, da toalha sumida,
quantas coisas não vejo mais... Aonde anda o chapelão, a botina Vulcabrás? Onde
anda a liberdade de ir e vir, descobrindo novos campos, moitas de bambus,
folhas secas para dormir... Onde anda o sonho escoteiro, de um belo fogo de
conselho, debaixo de um céu de estrelas, algumas cantantes ao brilhar. Só vejo
chefes, recebendo condecorações, comendas e medalhões. Lá estão eles em cursos,
em fraternos abraços, Insígnias e tantos mais. E os meninos?
- Chefe Vado um deles
me diz, são lindos, parecem meus filhos a escoteirar sob as asas das mães e dos
pais. Estamos aqui junto deles, fazendo escotismo aprendendo o que nem sabíamos.
Hoje descobrimos como fazer ajudar e vencer! E eu, maroto e saudoso meto a
viola no saco e saio por aí sem poder cantar: - E os meninos? Aprendem a
caminhar com as próprias pernas? E suas condecorações, seus distintivos? Para
eles nenhuma saudação, nenhuma palma um parabéns uma foto de esguelha pelo
menos para mostrar que são viventes? E fico pensando onde foi à primavera, que
doce à vida não era naquelas risonhas manhãs.
- Como dizia Casimiro
de Abreu: - Eu ia bem satisfeito, de camisa aberta o peito, pés descalços e
braços nus. Correndo pelas campinas, a roda das cachoeiras, atrás das asas
ligeiras das borboletas azuis! Naqueles tempos ditosos eu ia colher pitangas,
trepava a tirar mangas, brincava a beira do mar... Oh! Que saudades que tenho
da aurora da minha vida, da minha infância querida, que os anos não trazem
mais! Que amor, que sonhos, que flores, naquelas tardes fagueiras, a sombra das
bananeiras debaixo dos laranjais!