Crônicas de
um Velho Chefe Escoteiro.
Ditadura ou
democracia?
Desde
2009 quando entrei nas redes sociais, prometi a mim mesmo escrever e comentar
somente sobre Escotismo. Para os demais assuntos do Brasil e do mundo havia uma
dezena de bons articulistas e eles davam conta do recado. Vez ou outra tiro da
cartola alguma sátira dos nossos homens do poder, mas, por favor, sempre sem
ofensas. Os tempos passaram e eu não passei com o tempo. Fiquei com a mesma
metáfora, sem arredar pé do meu amado Escotismo. Claro, muitas vezes me debruço
sobre o Escotismo praticado pela Escoteiros do Brasil. Cada um aceita como quer,
mas o que fazem hoje não é minha praia e o meu escotismo.
Não entro
em polêmicas, discussões aqui e nem em outro lugar. Não vou dizer que meu pai
dizia que Política e Religião não se discutem. Eu fico fora do eixo e não me
meto a “besta” para polemizar com sumidades que conhecem o nosso passado nosso
presente e até já imaginam nosso futuro. Refiro-me as últimas eleições. Não
votei no nosso Presidente. Aliás, devido à dificuldade de locomoção nem fui lá,
a idade me permite esta excentricidade. Um militar aposentado foi eleito. Seus
eleitores o defendem com unhas e dentes. Tomara que eles tenham razão.
Discutem
no calor do tema o que ele diz ou faz. Sei não, ainda o acho meio imaturo nas
redes do poder. Mas olhe meus caros eleitores, torço por ele e se ele acertar
será bom para mim, para você e para o Brasil. Só não concordo quando dizem que
na Época dos militares dirigindo o país era melhor, que não tinha nada do que dizem.
Tortura, perseguição e tantas “cositas más”. Se fizeram algum de bom não vou
polemizar. Afinal a imprensa estava amordaçada e não sabíamos do que acontecia
no porão do poder. Mas não acho que tenha tantos santos daquela época como
dizem. Claro em toda organização seja civil ou militar tem gente fina gente
boa.
Em 1964
casado, estava de folga do meu trabalho (Usina Siderúrgicas de Minas Gerais –
Usiminas) quando “estourou” a revolta dos militares chamada de Revolução de 64.
Os estudiosos podem contar melhor cada passo dado pelos generais. Tentei voltar
e não consegui. Só quatro dias depois o Trem da Vitoria Minas Voltou a
circular. Ao descer na estação de Coronel Fabriciano, Tomé um Assistente Sênior
e Motorista de Taxi me avisou que tomasse cuidado. Estava sendo procurado pela
policia por ser comunista.
Nossa! Eu? Um pacato chefinho escoteiro
entrando nos seus 24 anos, imberbe, apolítico e amante do escotismo de
Baden-Powell? Ao chegar a Melo Viana um distrito de Coronel Fabriciano, o
pároco me avistou e veio me avisar que o Grupo Escoteiro Tapajós do qual eu e o
Chefe Carlos fomos os fundadores, estava fechado e sem poder reabrir suas
portas. Um velho conhecido que tentou colocar seu filho e queria que ele
entrasse logo como Monitor (risos) “dedurou” como comunistas e até deu a prova:
- Lenço vermelho e branco!
Vado,
disse o pároco, levaram o Chefe Carlos (meu irmão meu amigo, por ele daria
minha vida) e está preso no DOPS em Belo Horizonte. Não sabia o que fazer. Um
silencio de ouro imperava entre os demais chefes. Cada um se afastou do Grupo e
claro não tínhamos permissão para abrir. Voltei ao Trabalho em um dos Altos
Fornos da usina. Um mês depois voltei às lides escoteiras. Graças a Deus não
fomos impedidos. Um mês e meio e o Chefe Carlos voltou de BH.
Com lágrima nos
olhos me mostrou sua mão com duas unhas arrancadas a alicate, e contou o que
sofreu durante os dias presos. Vado! Queriam que eu confessasse quem eram os
comunistas escoteiros! Poucos meninos voltaram ao Grupo. Quatro meses depois
fui demitido. Motivo? Até hoje não sei. O Chefe Carlos meu irmão e meu amigo
voltou para sua cidade (Juiz de Fora) onde fizera um escotismo no Grupo Aimorés
um dos melhores de Minas Gerais, sendo agraciado como Escoteiro da Pátria do
qual tinha muito orgulho. Sei que alguns meses depois uma carreta no trevo de
Juiz de Fora passou por cima do seu Karmann-guia.
Conheci
outros que também foram presos. O trem da Vitória Minas passava lotado de presos
rumo a Belo Horizonte e depois ao DOPS. São muitas histórias para contar. Eu
quase fui preso e por quê? Era comunista? Um dedo duro disse a todos que
formávamos meninos para guerrilha. Acreditaram nele? E os que morreram por
isso? Até hoje me pergunto onde foi parar o “OURO PARA O BEM DO BRASIL”. Minha
mãe doou sua aliança e um anel. Qual o valor arrecadado nunca soube. Se fizeram
estradas, se fizeram a Ponte Rio Niterói, se abriram uma Transamazônica (até
hoje inacabada) não comento. Não é minha praia.
O novo
Presidente tem toda a possibilidade de percorrer um Caminho para o Sucesso. Tem
uma equipe salvo alguns de primeira qualidade. Mas ele ainda age como amador em
certos casos. Dizer que nada houve no período em que os militares ficaram no
poder é um engodo. Nem mesmo tivemos a possibilidade de ter naquela época uma
“Lava Jato”, pois tudo que acontecia com aqueles que estavam no poder a
imprensa era proibida de noticiar. Só sei que fiquei em filas homéricas para tentar
um emprego e da Usiminas fui parar no Porto de Tubarão em Vitória. Como consegui
esse emprego um ano depois? Como foi essa passagem? Outra história, outra fase
que me orgulho de ter sido e ser escoteiro.
Se a tal
revolução foi democrática ou se fizeram uma ditadura não sei. Só sei que fui
muito prejudicado profissionalmente e perdi um amigo que para mim era um irmão.
Um Escoteiro da Pátria não merecia o que fizeram com ele. Não bato palmas nem
saúdo aquela época. Dizer que era melhor também não posso afirmar. Difícil
comparar com os dias de hoje onde a democracia dizem está ai para mudar e às
vezes nem sei se está mudando.