quinta-feira, 28 de março de 2019



LEI ESCOTEIRA.

Prefácio: - Um amigo virtual. Uma amizade sincera. Uma troca de ideias e de ideais. Acho que já publiquei, mas sempre é bom publicar novamente.

Saudações meu Monitor,
Vamos adentrar na Sala da Corte de Honra, passar por suas cortinas duplas e sentar ao redor da mesa de reuniões. Não é preciso lembrar que o que é dito dentro desta sala, aqui permanece. Às vezes, na calada da noite, uma ideia vem devagarzinho, entra em meus pensamentos e se instala em um canto. Com o tempo, ela vai se acomodando melhor, tomando corpo e chega a um determinado momento em que ela começa a se fazer notada. Pois é, essa foi uma delas. “O Escotismo de Baden Powell é possível de ser colocado em prática em sua plenitude, ou é apenas uma utopia?”

Parece uma pergunta descabida, mas vamos espremê-la um pouco para ver se sai caldo. Comecemos pela Lei Escoteira, aquela que aqui no Brasil tem seus dez artigos. Ela é viável de aplicação plena? O Escoteiro tem uma só palavra; sua honra vale mais que sua própria vida. Quando um escoteiro diz “eu prometo” ou “eu juro” ou mesmo quando ele diz simplesmente que fará alguma coisa, ninguém deve duvidar dele. Se você mentir, roubar ou for desonesto, perderá sua honra.

Aqui na nossa República das Bananas, quanto vale a “honra” de alguém? Ou melhor, vamos fazer algumas perguntas antes: “O que é a honra de alguém?”, “Qual a definição de honra hoje em dia?”, “Quais os exemplos de honra que podemos citar na nossa atualidade?”. Complicou a coisa. Como explicar para um jovem, que assiste a nossa programação da TV aberta, aos diversos filmes e séries nas TVs por assinatura, que ocasionalmente vê alguma notícia na mídia, que joga os mais diversos jogos no computador (todos envolvendo armas e violência) qual o significado de honra proposto por BP? Com a nossa classe política fazendo acordos e conchavos, desde que continue a entrar o dinheiro no bolso, com as falcatruas dos pseudo empresários, com a OAB defendendo o traficante e mandando prender o militar.

Com os “Direitos Humanos” oferecendo água e balinha para estupradores, enquanto a vítima tem que se virar e se expor para provar que foi atacada? Como incutir na cabeça de um jovem algo que contraria tudo o que ele aprende no dia-a-dia? Como fazer para dizer que é certo um conceito que hoje tem por sinônimo a palavra “trouxa”?

Dizer para ele que é correto fazer aquilo que ele disse que iria fazer, quando todos a sua volta fazem o contrário, deixando de fazer algo prometido ou fazendo exatamente o contrário do que disseram? Praticamente dizer para ele que ele deverá ser uma pessoa da qual os outros poderão tirar proveito e quiçá jogar a culpa de algo.
Como ir contra a Lei de Gerson: “O importante é levar vantagem em tudo”?

“Se você mentir, roubar ou for desonesto, perderá sua honra.” Se não mentir, não roubar e não for desonesto, o jovem de hoje tem alguma chance de sobreviver no nosso mundo? Mesmo que seja em pequeníssimas parcelas, esses três itens estão incorporados ao nosso cotidiano. Mentimos na escola ou no trabalho ao apresentar um atestado médico que sabemos não ser condizente com a verdade, roubamos quando não devolvemos o troco que veio a maior, quando pulamos uma catraca, quando furamos uma fila, quando encontramos alguma coisa e não tentamos achar seu dono (muitas vezes com medo de que alguém se aproveite e diga que é seu sem o ser), e somos desonestos o tempo todo nas mídias sociais, nas desculpas inventadas para não fazer algo ou deixar de cumprir um compromisso. São atitudes incorporadas ao nosso viver diário.

Então pergunto: Será que nós, como Chefes Escoteiros não estamos mentindo, roubando e sendo desonestos com o nosso jovem quando explicamos para ele o significado desse primeiro artigo da Lei? Será que não estamos incutindo nele uma falsa esperança, um vislumbre de um mundo do passado? Será que não estamos “despreparando” ele para a sua vida como adulto?

O que é a “honra” para um policial, para um militar, para um médico?
O que é a “honra” para um traficante, um terrorista ou um assaltante?

Tenho muito medo meu Monitor, de que estejamos hoje em dia fazendo exatamente o contrário do que BP tinha em mente quando criou o Escotismo. Sei muito bem que a aparência do que fazemos, resgatando os valores antigos pode dar um alento para as pessoas adultas que já praticaram o Escotismo do chapelão, mas e os que estão começando agora?

Sei muito bem que poderão dizer que as mudanças devem acontecer, e que alguém tem que promovê-las, mas será que teremos alguém para fazer a mudança? Será que os nossos jovens não serão tragados nos “arrastões” da vida por não estarem preparados para a realidade que encontrarão.

Como disse acima, estamos dentro da Sala da Corte de Honra, e aqui é o melhor lugar para se desabafar e buscar opiniões que jamais poderiam ser dadas em outro lugar. E repare que a nossa lei tem dez artigos, e apenas o primeiro foi trazido à baila hoje.

Saudações meu Monitor!
Continuemos a nossa agradável tarefa de não deixar o Escotismo de BP morrer quando sairmos dessa sala. As pessoas merecem um alento nas suas atribulações do cotidiano, mesmo que seja ativando lembranças ou a imaginação delas. Desculpe o meu desabafo, mas precisava fazê-lo, e nada melhor que os ouvidos de um Monitor para isso.

Quem sabe, do lado de lá, possamos ter o nosso Escotismo sonhado, e se o Patrão Velho permitir, um bom bate papo com Baden Powell ao redor de uma fogueira, assando um pão de caçador.

Sempre Alerta!

Rogério J. Sarczuk
Membro da Patrulha Dinossauro