LEI ESCOTEIRA.
Prefácio: - Um amigo
virtual. Uma amizade sincera. Uma troca de ideias e de ideais. Acho que já
publiquei, mas sempre é bom publicar novamente.
Saudações meu Monitor,
Vamos
adentrar na Sala da Corte de Honra, passar por suas cortinas duplas e sentar ao
redor da mesa de reuniões. Não é preciso lembrar que o que é dito dentro desta
sala, aqui permanece. Às vezes, na calada da noite, uma ideia vem devagarzinho,
entra em meus pensamentos e se instala em um canto. Com o tempo, ela vai se
acomodando melhor, tomando corpo e chega a um determinado momento em que ela
começa a se fazer notada. Pois é, essa foi uma delas. “O Escotismo de Baden
Powell é possível de ser colocado em prática em sua plenitude, ou é apenas uma
utopia?”
Parece
uma pergunta descabida, mas vamos espremê-la um pouco para ver se sai caldo. Comecemos
pela Lei Escoteira, aquela que aqui no Brasil tem seus dez artigos. Ela é viável
de aplicação plena? O Escoteiro tem uma só palavra; sua honra vale mais que sua
própria vida. Quando um escoteiro diz “eu
prometo” ou “eu juro” ou mesmo quando ele diz simplesmente que fará alguma
coisa, ninguém deve duvidar dele. Se você mentir, roubar ou for desonesto, perderá
sua honra.
Aqui na nossa República das
Bananas, quanto vale a “honra” de alguém? Ou melhor, vamos fazer algumas
perguntas antes: “O que é a honra de alguém?”, “Qual a definição de honra hoje
em dia?”, “Quais os exemplos de honra que podemos citar na nossa atualidade?”. Complicou
a coisa. Como explicar para um jovem, que assiste a nossa programação da TV
aberta, aos diversos filmes e séries nas TVs por assinatura, que ocasionalmente
vê alguma notícia na mídia, que joga os mais diversos jogos no computador
(todos envolvendo armas e violência) qual o significado de honra proposto por
BP? Com a nossa classe política fazendo acordos e conchavos, desde que continue
a entrar o dinheiro no bolso, com as falcatruas dos pseudo empresários, com a
OAB defendendo o traficante e mandando prender o militar.
Com os “Direitos Humanos”
oferecendo água e balinha para estupradores, enquanto a vítima tem que se virar
e se expor para provar que foi atacada? Como incutir na cabeça de um jovem algo
que contraria tudo o que ele aprende no dia-a-dia? Como fazer para dizer que é
certo um conceito que hoje tem por sinônimo a palavra “trouxa”?
Dizer para ele que é correto
fazer aquilo que ele disse que iria fazer, quando todos a sua volta fazem o
contrário, deixando de fazer algo prometido ou fazendo exatamente o contrário
do que disseram? Praticamente dizer para ele que ele deverá ser uma pessoa da
qual os outros poderão tirar proveito e quiçá jogar a culpa de algo.
Como ir contra a Lei de Gerson:
“O importante é levar vantagem em tudo”?
“Se você mentir, roubar ou for
desonesto, perderá sua honra.” Se não mentir, não roubar e não for desonesto, o
jovem de hoje tem alguma chance de sobreviver no nosso mundo? Mesmo que seja em
pequeníssimas parcelas, esses três itens estão incorporados ao nosso cotidiano.
Mentimos na escola ou no trabalho ao apresentar um atestado médico que sabemos
não ser condizente com a verdade, roubamos quando não devolvemos o troco que
veio a maior, quando pulamos uma catraca, quando furamos uma fila, quando
encontramos alguma coisa e não tentamos achar seu dono (muitas vezes com medo
de que alguém se aproveite e diga que é seu sem o ser), e somos desonestos o
tempo todo nas mídias sociais, nas desculpas inventadas para não fazer algo ou
deixar de cumprir um compromisso. São atitudes incorporadas ao nosso viver
diário.
Então pergunto: Será que nós,
como Chefes Escoteiros não estamos mentindo, roubando e sendo desonestos com o
nosso jovem quando explicamos para ele o significado desse primeiro artigo da
Lei? Será que não estamos incutindo nele uma falsa esperança, um vislumbre de
um mundo do passado? Será que não estamos “despreparando” ele para a sua vida
como adulto?
O que é
a “honra” para um policial, para um militar, para um médico?
O que é
a “honra” para um traficante, um terrorista ou um assaltante?
Tenho
muito medo meu Monitor, de que estejamos hoje em dia fazendo exatamente o
contrário do que BP tinha em mente quando criou o Escotismo. Sei muito bem que
a aparência do que fazemos, resgatando os valores antigos pode dar um alento
para as pessoas adultas que já praticaram o Escotismo do chapelão, mas e os que
estão começando agora?
Sei
muito bem que poderão dizer que as mudanças devem acontecer, e que alguém tem
que promovê-las, mas será que teremos alguém para fazer a mudança? Será que os
nossos jovens não serão tragados nos “arrastões” da vida por não estarem
preparados para a realidade que encontrarão.
Como
disse acima, estamos dentro da Sala da Corte de Honra, e aqui é o melhor lugar
para se desabafar e buscar opiniões que jamais poderiam ser dadas em outro
lugar. E repare que a nossa lei tem dez artigos, e apenas o primeiro foi
trazido à baila hoje.
Saudações
meu Monitor!
Continuemos
a nossa agradável tarefa de não deixar o Escotismo de BP morrer quando sairmos
dessa sala. As pessoas merecem um alento nas suas atribulações do cotidiano, mesmo
que seja ativando lembranças ou a imaginação delas. Desculpe o meu desabafo,
mas precisava fazê-lo, e nada melhor que os ouvidos de um Monitor para isso.
Quem
sabe, do lado de lá, possamos ter o nosso Escotismo sonhado, e se o Patrão
Velho permitir, um bom bate papo com Baden Powell ao redor de uma fogueira, assando
um pão de caçador.
Sempre
Alerta!
Rogério
J. Sarczuk
Membro
da Patrulha Dinossauro