segunda-feira, 4 de março de 2019

Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro. Carnaval Escoteiro.



Crônicas de um Velho Chefe Escoteiro.
Carnaval Escoteiro.

                 Carnaval? Deus me livre. Passo longe, mas democrático que sou aceito que muitos gostem e que pulem, que usem uma fantasia que se matem de pular atrás de um trio elétrico, ou seja lá o que for. Aceito e bato palma pela coragem em ficar uma noite inteira sentado em um degrau de cimento vendo as escolas de samba passar. Eu desde menino corro disso. Fiquei pasmado ao ver uma foto de uma troika de adultos alguns usando a nova bermuda e camisa da EB. Devem ser chefes que ainda não se tocaram da responsabilidade que devem ter com a farda, vestimenta ou vestuário. Ops! Vestuário? Outro dia era vestimenta agora só dizem vestuário. Que seja aprendi a aceitar essa nova mistura que dizem ser o novo uniforme.

                 Sou diferente de muitos. Penitencio-me por ser egoísta e egocêntrico e tudo o mais relacionado a carnaval. Quando vejo uma escola desfilar, seja aqui ou no Rio de Janeiro acho que já vi tudo. Parece tudo igual, mas sei do trabalho que tem os carnavalescos para criar e montar um desfile de carnaval. Dizem que filho de peixe é peixinho também. Deve ser por isso que não me dou com o carnaval. Meus pais fugiam da folia e olhe naquela época era só um sábado agora são cinco dias aqui, pois na Bahia dizem que é o ano inteiro. Vige! Coisa de louco sô!

               Quando menino namorava há tempos um canivete suíço. Daqueles de mil e uma utilidades. Sei hoje que a maioria dos escoteiros que possuem não costuma usar toda a “engrenagem”. Mas eu estava corujando o canivete há tempos. Coisa de 300 piulas em real de hoje. Só namorava. Pelo menos duas vezes por semana ia até as casas Abil para ficar de butuca olhando. Engraxei, limpei quintais, fiz mandados correndo, mas o que ganhava mal dava para comprar minha ração A ou B para ir aos meus acampamentos de tropa ou de Patrulha. (uma ou duas vezes por mês).

                Eis que recebi um recado do Munir, ou melhor, do Maestro Munir. Dizia: - O Ilusão Esporte Clube (da minha cidade de Governador Valadares) está contratando dois corneteiros para usar clarins na abertura do seu desfile no Sábado e na Terça. Estão pagando duzentas piulas por noite para ser os “Trombeteiros do Rei”. Sorri de cabo a rabo. Fui correndo as Casas Abil para ver se meu amado canivete suíço ainda estava lá. O diretor carnavalesco do clube nos deu instruções. – Mandei fazer uma bata azul para cada um com um chapéu do mesmo tecido como se fossem capuzes da era medieval.

                Olhei os demais membros do desfile treinando. Vi-me lá na Avenida Minas Gerais o povo na calçada gritando e aplaudido e quem sabe vaiando e eu de gaiato de bata comprida coisa na cabeça, tocando meu clarim morrendo de vergonha. Não dá moço eu disse. Tem outro no Grupo Escoteiro? Pensei bem, será que não valia a pena o sacrifício e tocar meu clarim nos dois dias? Assim foi feito. Chegou o dia. Eu e Rael na frente, bata no corpinho, clarim na mão vi o sinal para dar o primeiro toque. Gelei! Tentei soprar e não saia nada. Rael precisava do meu repique e não sabia o que fazer. O Diretor veio correndo, era homem inteligente. Sabia o que se passava comigo.

                Eis que sacou seu vidro de lança perfume, encheu de liquido um lenço me mandou cheirar e depois tocar. Minino! A coisa explodiu na minha cabeça. Toquei feito os maiores tocadores de clarim do mundo. Palmas gritos, e eu impoluto na frente com a boca no trombone, trombone não clarim. Foi demais. Depois do desfile fomos para um dos salões de baile e eis que o místico Diretor Carnavalesco exigiu que pulássemos carnaval junto aos participantes. Desta vez não. Escapuli pela escada e só voltei na terça pedindo a ele, por favor, mais uma “pitada” de lança perfume. Olhe ainda bem que foi proibido. Nunca mais cheirei um danado desses.   

               Comprei dando urros de alegria meu querido e amado canivete suíço. Não durou muito. Acampados em Pedra Sabão na Beira do Rio Corrente ele me escapuliu da mão quando limpava duas traíras para o jantar e caiu na correnteza do rio. Já era noite e no dia seguinte mergulhei e vasculhei cada palmo onde ele caiu. Nada, perdi para sempre. Chorei demais. Comprar outro? Impossível. Carnaval para nós era assim, ou ganhar uns trocados ou meter a mochila nas costas e partir para uma grande e bela atividade aventureira. Que pulem carnaval. Eu hoje nem pela TV consigo ver. Mas saúdo com um gostoso Sempre alerta aos foliões que gostam e se divertem. Bom Carnaval!