sexta-feira, 21 de junho de 2019

Crônica de um Velho Chefe Escoteiro. Distintivo de Lapela Escoteiro. (Button).




Crônica de um Velho Chefe Escoteiro.
Distintivo de Lapela Escoteiro. (Button).

Prólogo: “Levei um ano de minha adolescência com um lenço enrolado no pescoço, flor-de-lis na lapela e pureza no coração, para descobrir que não passava de um candidato à solidão. Alguma coisa ficou, é verdade: a certeza de que posso a qualquer momento arrumar a minha mochila, encher de água o meu cantil e partir. Afinal de contas aprendi mesmo a seguir uma trilha, a estar sempre alerta, a ser sozinho, fui escoteiro — e uma vez escoteiro sempre escoteiro”. (Fernando Sabino).

                O Button é um objeto na maioria das vezes redondo ou com outro formato que contém conteúdo promocional publicitário ou decorativo. É pregado na roupa ou outra superfície com um alfinete e são usados para indicar a adesão a algum movimento, causa ou partido político. Pois é, no escotismo temos um que hoje pouco se vê nos paletós, gola da camisa boné ou bolso. Quem já teve um nunca esqueceu. Houve época que fazíamos questão de presentear autoridades, simpatizantes e todos nós do Grupo Escoteiro o usávamos. Não era caro e juntávamos nossa economia para ir até a Loja Escoteira no Rio de Janeiro e trazer uma baciada. Quando o vi pela primeira vez me encantei. Só não chorei porque o sonho era real e mesmo sem o uniforme eu poderia mostrar que era um escoteiro.

               Pequeno, dourado com uma linda flor de lis em cores verde e amarelo era um distintivo que me deu enormes alegrias. Na primeira vez minha mãe me deu dizendo que era presente do meu tio da capital. Passei a usá-lo na gola diariamente. Tinha uma presilha que se prendia facilmente. Cidade pequena os Rotarianos e os sócios do Lions Club usavam o seu. Na câmara de vereadores cada um desfilava com sua escolha pessoal. Quando presenteávamos não exigíamos que fosse usado, mas a maioria passou a usá-lo com prazer. Zózimo vereador, Capitão Machado, Totonho da Padaria, Leôncio barbeiro e seu Zé do Armazém não tiravam o dele.

               Mesmo não sendo uma peça para usar no uniforme ele estava sempre lá na camisa um pouco de lado para o lenço não ficar por cima. Quando víamos alguém com ele sorriamos de ponta a ponta. E na estação de trem? Eu gostava de ficar lá em horas livres e ver os passageiros em seus vagões sorrindo, cantando e comendo seus lanches que ninguém deixava para trás. Era avistar um com o Button e a gente gritava: - Sempre Alerta! Se o trem fosse ficar mais tempo não faltaria um aperto de mão um abraço e até mesmo contar de onde era e qual grupo.

               Não esqueço lá por volta de 1955 foi feito uma “vaquinha” para comprar cintos, chapéus, e distintivos de segunda e primeira classe. Valparaiso um Sênior foi escolhido para ir até a capital. O Senhor Lair prefeito e muitos vereadores entraram na vaquinha para que eles tivessem também o Button dos escoteiros. Valparaiso fez um bate volta das boas. Quase 30 horas de viagem ida e volta em estrada de terra batida na antiga RioBahia. Voltou no dia seguinte. Escoteiro não tem essa de reclamar. Chegou sorridente com vários pacotes e até um saco de chapéus. Ele foi para a sede e ela se encheu de escoteiros lobos e chefes. Isto em plena terça feira.  

               Quando Valparaiso começou a contar como era o mar, a Igreja da Candelária e as grandes avenidas apinhadas de carros e ônibus formou-se uma roda em volta dele e ficamos lá boquiabertos com tudo que ele falava. Trouxe também alguns livros que eu não conhecia para a biblioteca do Grupo. Para ser Escoteiro, Guia do Chefe Escoteiro, Guia do Escoteiro e Escotismo para Rapazes. Fizemos uma fila na biblioteca reservando datas para levá-los para casa. E a Loja Escoteira? Ele sorria e falava quanta coisa tinha lá. Jurei para mim mesmo que um dia eu também iria lá comprar o que quisesse!

               Pois é, meu Button ou meu distintivo de lapela com uma linda flor de lis nunca esqueci. Hoje quase não se vê mais aquele Botton lindo verde e amarelo nos antigos escoteiros, nos escoteiros sem uniforme e autoridades sejam elas religiosas ou politicas. Sei que ele está à venda nas lojas escoteiras, mas é muito pouco usado. É fato que identificar hoje um antigo escoteiro é difícil. Há não ser que seja conhecido. Agora deram para colocar o lenço em roupa civil e se acham uniformizados. É triste ver um Insígnia fazendo assim. O exemplo de B.P ficou esquecido. BP só de lenço? Não dá para acreditar. As coisas mudam me disseram. Mas sabe? Eu não vou mudar.

                    Estou aqui pensando por que estou escrevendo sobre o Distintivo de Lapela. Afinal nem mesmo conheço os distintivos especiais conquistados pelos escoteiros há não ser as especialidades. A Segunda e Primeira classe ficaram na história. A primeira e segunda estrela não é mais usada. Nem mesmo sei quantos são os Lis de Ouro e Escoteiro da Pátria. Sei sim de muitos chefes que recebem medalhas, lenços, e galhardamente estão nas páginas sociais. Meninos escoteiros? São poucos e quase não são noticias. Pois é, e dizem que o escotismo foi criado para eles. Breve estaremos copiando os americanos que usam uma faixa para colocar as centenas de especialidades. Se eu demorei quatro meses para conquistar há de primeiros socorros, hoje demoram algumas horas. Ainda não tenho uma explicação para tantas especialidades. Mas é uma seara moderna. Eu sou do passado e quem sabe o novo programa poderá trazer resultados surpreendentes. Assim espero.

                     Meu distintivo de Lapela é uma sombra que desapareceu no tempo. Eu perdi o meu em uma enchente onde morava em uma cidade do interior. Lá se foram muitas lembranças, fotos e até mesmo meu primeiro uniforme de lobo e escoteiro. Mas chega de ficar remoendo lembranças que nos fazem voltar no tempo. Mas se você meu caro amigo ou minha cara amiga escoteira usar seu Button quando sem uniforme, se motivar seus amigos escoteiros ou ex-Escoteiros a ter o seu quem sabe teremos muitos perguntando: - O que é isto? Isto? Ora meu caro, sou um escoteiro e ele me identifica como um Badeniano de coração.