Conversa ao
pé do fogo.
Apenas uma
reunião de tropa...
Prólogo:
- Benjamin Franklin resumiu isto
quando disse: “Se você me coloca sua opinião de uma maneira dogmática,
diretamente oposta ao meu modo de pensar, e não deixa espaço para negociação,
eu sou obrigado a concluir – para proteger a mim e a minha autoestima – que
você está errado. Por outro lado, se você coloca a sua opinião como uma
hipótese, evidenciando boa vontade para discuti-la e explorá-la, na maioria das
vezes eu vou me empenhar em comprovar que você está certo.”.
Gedeão sabia que o sábado
estava chegando. Antes uma motivação enorme quando ia para as reuniões de
tropa. Uma alegria uma vontade de continuar ali além do horário, mas agora...
Agora não. Ele notou que as últimas reuniões foram fracas, sem graça, e
Marcondes faltou duas reuniões. Ele se lembrava de Ethan e Galileu. Nenhum
deles o procurou para dizer que estavam saindo. Foi à casa dos três e não foi fácil.
Morava do outro lado da cidade e só aos sábados após as reuniões lhe sobrava um
tempo, mas sabia que isto interferia com sua família que o cobrava sempre. Havia
meses que pensava onde estava errando. Rebuscava no passado as atividades os
acampamentos e as reuniões de tropa que fez com a tropa. Era outra época. Quatro
patrulhas completas. Dificilmente alguém saia, mas hoje? Hoje era tudo
diferente. Se não fosse Jerusa, Jesebel Germine e Isabel que passaram da
Alcateia para a tropa nem três patrulhas teria.
Ele sentia que as meninas
ficavam mais tempo, eram mais interessadas e queriam a todo custo chegar ao Lis
de Ouro. Os meninos nem todos. Agora a tropa tinha dezenove participantes, mas
dez eram meninas. Isto não pode continuar, pensava. Não podia perder meninos
assim. Tinha que haver um motivo. Ficou feliz quando Ester saiu dos lobos e
veio ajudar na chefia. Ela tinha boa vontade e pouco experiência dos
Escoteiros. Na área desconhecida ade jovens meninas consultou-a muitas vezes, mas
nas outras áreas pouco ajudava. Um dos maiores problemas ele conseguiu
resolver: - O enorme tempo que ficavam no hasteamento e arreamento da bandeira.
Como o horário era único todas as sessões faziam o Cerimonial em conjunto na
abertura e encerramento. Tudo era ali realizado. Promessa, entrega de
distintivos e especialidades e certificados o que atrasava muito o programa da
tropa. Ele sabia que eram uma grande família e estar juntos fazia parte da fraternidade.
No Conselho de Chefes levantou o assunto. Sorriu quando viu que outros pensavam
como ele.
Ficou acordado que cada
sessão faria suas cerimonias de promessa e entrega de distintivos dentro do seu
tempo de reunião. No Cerimonial de Bandeira só as grandes conquistas: -
Cruzeiro do Sul, cordões de eficiência, Lis de Ouro e Escoteiro da Pátria. Quinze
minutos na abertura e dez no encerramento. Mesmo assim não estava satisfeito.
As reuniões estavam mornas, os jogos sem graça e as atividades técnicas
desinteressantes. Notou também que as patrulhas quase não se reuniam, não
conversavam e nem se adestravam. Sabia que adoravam acampamentos e excursões, mas
estava tendo problemas na sua área profissional. Não podia faltar. Conversou
com os monitores na Corte de Honra. – O que está havendo? Poucos respondiam e
não o convenciam. Sabia que não era jogos, tinham um grande arquivo e com a Internet
ficou mais fácil ainda. Adiantava? Não.
Chefe Gedeão precisava
descobrir o motivo. O motivo real. Sabia que não era só ele. Muitos chefes
amigos se ressentiam da mesma maneira. Comprou livros e montou a duras penas
uma excelente biblioteca Escoteira. E os cursos? Pagou do próprio bolso a
maioria deles. Sorriu quando recebeu a Insígnia de Madeira, mas viu que nada mudou
a não ser o lenço. Cantava em pensamento o Volta a Gilwell. Mas voltar para
onde? Não sabia se existiam cursos de pós-graduação o conhecido MBA no
escotismo. Será que existia? Ele precisava de um curso assim. Descobrir seus
erros se é que existiam. Voltar a Gilwell e onde está este curso para voltar?
Tentou de tudo. Fez jogos
que ninguém esperava, montou diversas bases técnicas, deu dica para cada
patrulha e tentou o máximo formar melhor seus monitores. Levou um amigo
violonista para ensinar a cantar melhor as musicas Escoteiras. Nunca faltou uma
palavra de motivação da Promessa e da Lei Escoteira. Como religioso Deus estava
presente em tudo que faziam. A cada três meses encomendava um caminhão de
eucaliptos e bambus para atividade de pioneirías na sede. No inicio supimpa,
mas depois... É, dizia para sí. Preciso voltar a Gilwell. Mas não sabia onde
ficava Gilwell no Brasil. Passou domingos e domingos montando programas,
discutiu com monitores e pediu ajuda, mas nada ajudava.
Chefe Gedeão estava
desanimado. No último sábado Jerusha não veio. No encerramento foi procurado
por Joviel que disse não viria mais. Deu uma desculpa qualquer. E agora meu
amigo? Disse para si mesmo. Tentou uma última cartada. Visitou chefes amigos,
muita conversa, mas pouca ação. A maioria passava pelo que estava passando e
fingiam que com eles era diferente. Detestava quando via patrulhas incompletas,
com três ou quatro ou mesmo quando via algum Chefe tirando Escoteiro de uma
patrulha para colocar em outra. Naquele sábado foi para casa amargurado. Tinha
de haver uma solução. – Fazer fazendo? Deixar que eles decidissem? Querem
fechar a tropa? Melhor acabar com tudo? – Gedeão já tinha decidido. Iria
insistir para que cada um desse sua opinião, ele sabia que no inicio todos
sempre abaixavam a cabeça e não diziam nada. Os mais afoitos comentavam, mas
nada importante.
- Tropa! A partir de hoje vamos ficar
quinze minutos depois do horário. Avisem aos seus pais. Não disse mais nada. –
Naquele sábado eram doze. Cada dia um ou outro saindo. Pretendia levantar o
problema e permanecer calado até que eles se tocassem onde estava o erro, o que
deveriam fazer. Não era isto que dizia BP? Ouvir o ponto de vista do rapaz? Agora
é com vocês... Gedeão falou e se calou. Pegou todo mundo de surpresa. Naquele
sábado o tempo acabou sem ninguém falar nada. Todos estupefatos. Nunca
aconteceu aquilo. Ninguém falava. Assim foi no terceiro e quarto sábado. Gedeão
soube que eles se reuniam fora da sede. E no quinto e sexto sábado começaram a
falar. Ele só ouvia. Nunca deu palpite. Afinal por anos ele fazia tudo e achava
que tinha a solução na mão.
Três meses depois ele viu
alguém levantando a mão. – Sabe Chefe, eu acho... – Outro também disse: - Sabe
Chefe... E assim Gedeão venceu a batalha. Agora todos faziam questão de opinar.
A tropa se motivou de tal jeito que vinte minutos não dava. Precisavam de mais.
As discussões eram acaloradas. Gideão nunca falou. Nunca disse nada. Sempre
ouvindo seus Escoteiros e Escoteiras. Mas o que diziam ele sabia que devia por
em prática. Só sei que em menos de oito meses a tropa de Gedeão tinha três
patrulhas completas a caminho para a quarta. Chefe Gedeão ainda lembrava quando
leu em um livro um comentário de saber ouvir: - Perceber,
reconhecer, entender, compreender, valorizar, dar atenção, respeitar… São
vários nomes diferentes para um processo tão simples, mas ao mesmo tempo tão
difícil de ser praticado: ouvir, de fato, o outro.