Papeando nas areias do Waingunga.
O Ramo Lobinho.
Prologo: – Ao
fazer pela manhã minha caminhada matinal, quando bengalando e tropicando raciocino:
Porque o lobinho ao passar para a tropa tem menos direito do que aquele que
entrou há poucos meses atrás e não foi lobinho? O que ele leva como bagagem
para construir o respeito dos demais da Patrulha? Ainda o chamam de “Lobinho,
filhinho da Mamãe”? Apenas para meditar...
O Ramo Lobinho de hoje não é
minha praia. Fui lobinho de 1947 até meados de 1951. O programa na época era
bem diferente do atual. Sei que meu Balu nunca tinha lido o Manual do Lobinho
de BP e nem tampouco o Livro da Selva. Ele sabia da existência de um Mowgly, de
um Akelá, de Um Balu uma Bagheera e uma Kaa. Sabia da Roca do Conselho e do
Shery Kaan. Inventou algumas danças esquisitas (que adorávamos) e nos
incentivava a abrir os olhos com a Primeira e Segunda Estrela. Um dia nos
contou que existia o Lobinho Cruzeiro do Sul! Ufa!
Fui
Akelá por pouco tempo. Minha experiência não é das melhores. Agraciado com a IM
de Lobinhos participei de equipes em cursos de lobinhos. No inicio cercado de
sumidades em Lobismo que me ajudaram muito nas minhas deficiências. De tempos
em tempos me perguntava por que a progressão na passagem e depois na rota sênior
poucos lobos permaneciam. Pioneiros era uma raridade. Uma vez em um CAB de
Lobos, convidei os alunos para uma Dinâmica de Grupo cujo tema seria a passagem
e a permanência futura do lobo na tropa. Um comentário me chamou a atenção. O
lobinho quando passa para escoteiro tem menos direito que um novato que nunca
foi lobo. A discussão foi boa, mas os resultados foram esquecidos. Não sei
hoje, mas ouvindo Mestres em Lobismo parece que a evasão e os direitos dos
lobos nas tropas ainda continuam.
Quando surgiu o Manual do
Lobinho de BP, ele serviu de base para muitas alcateias que estavam começando.
Contar a história do surgimento do Ramo Lobinho não é tão importante já que
acredito todos os lideres de Seeonee devem conhecer de cor. Mas vejamos quando
dos primórdios do ramo lobinho os menores de nove anos já participavam das
patrulhas, e não gostaram do programa quando foram separados. Não sei se foi aí
a primeira divergência dos menores. Muitos daqueles iniciantes levantaram-se
contra o novo programa e alguns se intrometiam nas reuniões de tropa para serem
ouvidos e poderem participar. Conta-se que os primeiros esforços para trabalhar
com meninos menores não obtiveram sucesso. Os “Junior Scouts” não tiveram bons
resultados. Foi nesta época que Baden-Powell resolveu tomar providencias. Foi
uma tarefa árdua. Ele queria evitar que o movimento estivesse criando um Jardim
de Infância.
Preocupado B.P escreveu um
artigo no “Headquarters Gazette” que não iria exaurir as crianças com
atividades além de sua capacidade física. Em 1913 escreveu as primeiras
tentativas de denominar os menores com nomes sugestivos: - Juniores Scouts,
(escoteiros juniores) Beavers (castores) Wolf Cubs (lobinhos) Cubs (filhotes)
Colts (potros) e até mesmo Trappers (ajudante de caçador). Ele se preocupava
que o novo ramo tivesse suas próprias características e não uma versão
simplificada do programa dedicado aos escoteiros. A história a seguir é
conhecida. Percy W. Everett a pedido de B.P. estudou um esquema provisório. O
projeto incialmente foi intitulado de: “Regras para escoteiros menores”. Com o
início da Guerra a maioria dos homens atendiam aos apelos do exercito e foi
permitido a participação de mulheres no escotismo. Elas estavam encantadas com
a ideia de que pudessem adestrar os pequenos. Foi nesta época que surgiu a
Srta. Vera Barclay que foi o braço direito de BP. Também esperavam o primeiro
Manual do Lobinho já prometido por ele.
Vera se dedicou com
entusiasmo na organização do Manual do lobinho. Sua dedicação foi tanta que
influiu fortemente para sua indicação como Comissária do Quartel General para
Lobinhos. Porém o que veio responder a procura de Baden-Powell por algo
atraente, capaz de sustentar a fantasia e contribuir com a formação da criança
foi o “Livro d Jângal” cuja adoção revolucionou completamente o esquema. The
Jungle Book (Livro da Jângal) de Rudyard Kipling foi publicado pela primeira
vez em Nova York em 1904 e sua poesia diáfana e pura captou a imaginação do
publico. B.P sabia da importância da imaginação para meninos mais jovens e
reconheceu, nesta obra, o suporte que viria dar a eles, todo o divertimento,
interesse e atividade que necessitavam e para abrir o apetite pelo escotismo.
Mais de cem anos se passaram.
Do Livro da Jângal aos Manuais de Lobinhos muita coisa mudou. Se foi bom ou não
quem deve saber são as(os) chefes de lobos. Se a preocupação é com um programa
para lobinhos sem estar interligado com o programa de tropa, se o ciclo de
ontem não será o mesmo de hoje e de amanhã, se as alterações feitas e os
programas muitas vezes infantis demais para os meninos e meninas de hoje são
válidos ou não. Não discuto as alterações e o desejo de muitos dirigentes de
“alto coturno na UEB” fazerem alterações ou mesmo editando novos manuais.
Quantos surgiram depois do primeiro de Baden-Powell? Surtiram os efeitos
esperados? Os lobinhos estão devidamente preparados para uma passagem e serem
recebidos na tropa como um valente Mowgly da Jângal? Ou eles serão os últimos
da fila sendo sempre chamados de lobinhos, filhinho da mamãe?
Sei que existem muitas alcateias e tropas que
atuam conjuntamente e os resultados são os melhores. No entanto é difícil ver
uma tropa com pelo menos uma boa porcentagem de escoteiros advindos de uma
alcateia. A passagem para a cidade dos homens muitas vezes é cercada de
sentimentalismo, saudosismo e lágrimas por parte dos dirigentes da alcateia e
isto não é saudável. Queira ou não, acredito que temos muito a estudar para que
os que passam para a cidade dos homens se sintam bem na companhia um do outro. Lembro
que não sou um expert da matéria. O que escrevi é apenas um comentário da minha
experiência no lobismo que é pouca. Que os habitantes da Jângal sejam felizes e
que façam belas passagens.